Rodham, Curtis Sittenfeld
Esta é mais uma daquelas publicações que começam com uma confissão: tinha Rodham, de Curtis Sittenfeld, há coisa de três anos para ler. Todos os meses olhava para ele, mas acabava por optar por ler outros e este foi ficando para trás. Até que, na reta final de 2024, decidi que não passaria de ano com este livro por ler — e não é que provou ser uma surpresa bem mais agradável do que antecipava?
Já tinha visto várias opiniões sobre Rodham, em grande parte negativas, o que calibrou as minhas expectativas. Talvez por isso tenha sido uma experiência mais positiva para mim, por antecipar uma má leitura. Curtis Sittenfeld baseou-se em factos verídicos para colocar a questão: o que teria acontecido se Hillary Rodham nunca tivesse casado com Bill Clinton? Que caminho teria esta mulher percorrido? Que coisas teria alcançado? E, numa questão mais geral, que consequências é que essa decisão, aparentemente pequena, teria para a história dos Estados Unidos da América e para o mundo?
One of the most important lessons I’ve learned in life is this: do not preemptively take no for an answer. Do not decide your request has been rejected before it officially has. As with so many other lessons that involve assertion, this one applies far more to women than men.
Uma coisa é certa: embora tenha gostado muito do livro, e ache que é muito necessário, houve vários momentos da leitura em que me senti irritada com o que se passava. Creio que tenha sido esse o objetivo da autora, até porque não há forma de falar sobre o papel das mulheres na política (e de tudo o que lhes é negado) sem tocar em pontos mais sensíveis. Dei várias vezes por mim a pensar na maneira preconceituosa como encaramos mulheres com ambição, seja ela política ou não, nomeadamente mulheres com uma postura mais assertiva e menos maternal.
Gostei muito de conhecer a quantidade de referências bibliográficas que Curtis Sittenfeld lista no final do livro, o que nos dá a certeza de que investigou estas vidas — não apenas a de Hillary e Bill — a fundo, antes de poder romanceá-las. Há quem diga que não havia necessidade de escrever um livro destes sobre pessoas tão contemporâneas, mas eu acho precisamente o contrário: é preciso a coragem de mostrar o que poderia ter acontecido a uma mulher da História recente caso um homem não tivesse tido tanta presença na sua vida.
Já leram alguma coisa desta autora ou ficaram com curiosidade em espreitar este? Contem-me tudo nos comentários.