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Rita da Nova

Qui | 16.01.25

Melhor Não Contar, Tatiana Salem Levy

Continuo a trazer-vos a minha opinião sobre os livros que li no final do ano passado, e posso dizer que houve ali um conjunto de dois ou três livros que adorei — Melhor Não Contar, de Tatiana Salem Levy, foi um deles. Ainda em 2024 tinha lido Vista Chinesa, também da autora, mas acho que ainda gostei mais deste, que é assumidamente autoficção.

 

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No início deste livro, Tatiana recorda um acontecimento de há muitos anos, quando ela era ainda uma criança, e ao longo do livro vai fazendo sempre o contraponto entre essa situação e uma outra, bem mais recente. No fundo, utiliza esses dois momentos pivotais da sua vida para falar sobre tantos outros, que a marcaram — seja no papel de filha, de irmã, de amante ou de mulher. Acima de tudo, foca-se naquilo que é «melhor não contar» e descontrói os estigmas com que as mulheres têm de lidar diariamente, os segredos que são forçadas a manter.

 

Embora eu nem sempre adore autoficção — ouvi no outro dia a Ana Bárbara Pedrosa a dizer que o contrato entre leitor e escritor fica comprometido e adorei essa forma de descrever —, sinto que aqui era mais do que essencial que esse fosse o género utilizado para escrever. Porque mais do que efabular a sua vida, Tatiana Salem Levy usa artifícios típicos da ficção para nos manter sempre com vontade de saber o que vai acontecer a seguir, que segredos da sua vida ainda há por desvendar.

 

Primeiro nos dizem para escrever em segredo sobre nós mesmas. Depois, quando decidimos mostrar para os outros o que escrevemos, nossos diários, nossas cartas, nossas narrativas em primeira pessoa não são consideradas literatura, ou são literatura menor. Só que nada fala mais de quem somos, de quem nos tornamos, coletivamente, do que as histórias de nossa vida.

 

Adorei a forma crua como Melhor Não Contar está escrito, e acho que me vai ficar guardado na memória durante muito tempo por conta das verdades tão universais à experiência feminina que expõe. E gostei especialmente dos pensamentos sobre o papel das mulheres na escrita e sobre os preconceitos que temos de combater todos os dias.

 

Resumindo, caso não tenha ficado percetível: recomendo mesmo muito este livro — tenho a certeza de que será uma leitura boa para toda a gente, mas especialmente para mulheres. Quem desse lado já o leu ou acompanha a autora?