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Rita da Nova

Ter | 14.01.25

Earth, John Boyne

Há coisa de um ano estava a falar-vos de Water, de John Boyne, o primeiro livro da tetralogia dos elementos. Parece que iniciamos, assim, uma tradição anual, visto que hoje quero falar-vos do segundo volume, Earth.

 

earth-john-boyne

 

Como já vos tinha dito, era suposto que estes quatro livros relacionados com os elementos — Water, Earth, Fire e Air — fossem saindo de seis em seis meses, estando assim tudo completo em maio deste ano. A parte boa é que, à semelhança da coleção das estações do ano, de Ali Smith, apesar de estarem relacionados podem ser lidos isoladamente ou sem seguirem uma ordem específica.

 

Eu escolhi ir lendo pela ordem em que são publicados, pelo que Earth foi o segundo. Já sabia, pela nota que vinha no primeiro livro, que aqui acompanharíamos Evan Keogh, um jovem rapaz que abandonou a ilha que conhecemos em Water. Evan é um futebolista com imenso talento, mas odeia jogar futebol — o seu sonho era ser pintor, mas acabou por se dedicar àquilo para que tinha jeito, e àquilo que o pai almejava para ele. E, no ponto em que o livro começa, percebemos que vai começar a ser julgado, juntamente com um colega de equipa, por crimes de violência sexual contra uma jovem de 19 anos.

 

Nothing disappears. Nothing is forgotten. Everything we say or do these days clings to us for ever.

 

Gostei sobretudo de irmos acompanhando o presente e o passado recente desta personagem, de percebermos naquilo em que a vida de Evan se transformou desde que saiu da ilha e, sobretudo, de vermos como é que as decisões que foi tomando fizeram com que chegasse ao momento do julgamento em tribunal. Não quero falar muito sobre o processo em si, sob pena de vos estragar a leitura, mas quero dizer que adorei ler um livro cuja ação (ou pelo menos parte dela) se passa num tribunal — gosto muito de ver séries e filmes com esse ambiente, mas nunca tinha encontrado um livro que me transportasse para lá como este.

 

Como sempre nos livros de John Boyne, impressionou-me também a mestria com que o autor pega na complexidade humana, em temas tão elásticos como a culpa, ou a dicotomia verdade-mentira, e consegue desenvolvê-los de forma a prender-nos do início ao fim. Acho mesmo que poucas pessoas escrevem tão bem quanto este homem, e tenho pena de que não seja mais falado. Nota-se que escreve de um lugar de empatia, e de tentativa de compreensão de realidades que nem sempre são a dele, e admiro-o muito por isso.

 

Fico com muita vontade de ler os restantes — Fire já foi publicado — e faço muitas figas para que mais livros dele sejam traduzidos para português! Agora, contem-me: que livros dele já leram e me recomendam?