Para Onde Vão os Guarda-Chuvas, Afonso Cruz
Apesar de não ser segredo para ninguém que Afonso Cruz é um dos meus autores favoritos, a verdade é que nos últimos anos não o tenho lido com tanta frequência. Para Onde Vão os Guarda-Chuvas estava na minha estante para ser lido há vários anos, e aproveitei uma leitura conjunta do Discord do Livra-te para lhe deitar as mãos de uma vez por todas.
A história passa-se num Oriente ficcionado, onde várias narrativas e personagens nos são apresentadas e se vão cruzando. Temos, entre outros, um homem que quer ser invisível, uma criança que quer voar, um poeta mudo e um general russo. Como é apanágio do autor, estas linhas são todas aparentemente não relacionadas, e vamos percebendo como é que tudo faz sentido num enredo maior. Para Onde Vão os Guarda-Chuvas fala sobre perda e luto, sobre religião e como ela molda (ou não) aquilo em que acreditamos, sobre a capacidade de sonhar e como esta se confronta com a dura realidade.
Embora, ao início, tenha sentido alguma dificuldade em entrar no livro — não tanto pelo cruzamento de perspetivas, mas mais pelo contexto —, bastaram poucos capítulos para que estivesse completamente rendida à forma como Afonso Cruz conta histórias. É curioso como, mesmo trazendo personagens que nada têm que ver connosco, conseguimos sempre relacionar-nos com elas de uma forma ou de outra. Há uma poesia na escrita que não nos deixa indiferentes, que traz uma beleza mesmo às descrições mais duras ou tristes.
A melhor maneira de fazer uma pessoa cair é levá-la para um lugar alto, o universo sabe fazer isso muito bem, sabe levar-nos para cima das coisas para melhor nos empurrar. Não se empurra uma pessoa que está no chão, é preciso ampará-la primeiro, é preciso fazê-la subir umas escadas. E preciso que a pessoa sinta vertigens. E preciso que caia de muito alto. É assim que o universo ri.
Confesso, contudo, que embora tenha gostado muito da leitura, Para Onde Vão os Guarda-Chuvas não foi o meu livro favorito do autor. Acho que prefiro quando é um pouco mais críptico, quando em poucas páginas consegue contar uma história completa — isso não quer dizer que este seja mau, muito pelo contrário, apenas que me fez descobrir a minha forma favorita de ele contar histórias.
Brevemente quero muito ler Vamos Comprar um Poeta e O que a Chama Iluminou, sendo que este último é o seu mais recente romance. E vocês, que livros de Afonso Cruz já leram e quais me aconselham?