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Rita da Nova

Ter | 03.12.24

Também os Brancos Sabem Dançar, Kalaf Epalanga

Aqui está mais uma leitura promovida pela troca de livros que faço mensalmente com a minha amiga Pat (🫰). Desta vez, ela perguntou-me se eu preferia continuar na minha zona de conforto ou arriscar, e é óbvio que escolhi a segunda opção. Autointitula-se um «romance musical», e consigo compreender porque é que o faz, mas como um todo não foi uma leitura que tivesse funcionado muito bem para mim.

 

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Explico porquê: Também os Brancos Sabem Dançar é um romance dividido em três, cada uma das partes com o seu narrador e perspetiva completamente diferente. Escolho falar-vos da primeira parte, daquilo que poderia ser considerado uma biografia ou, até, um exercício de autoficção, onde Kalaf Epalanga explora as origens do Kuduro, da sua vinda para Lisboa e do surgimento dos Buraka Som Sistema. Lá, encontramos laivos de ensaio, e confesso que foi, das três, aquela de que gostei mais — apesar de ser claramente a mais complexa. As outras duas têm, como já referi, um narrador diferente; e, embora mais fáceis de ler, senti-as demasiado diferentes para criarem coesão no livro.

 

Compreendo o estilo desta obra, e teria tudo para resultar na sua estranheza, mas houve uma parte de mim que não se conseguiu ligar à leitura — ou, pelo menos, nunca me perdi nas páginas, esquecendo-me de que estava a ler (para mim, um dos maiores sinais de envolvimento com um livro). Gostei sobretudo dos pensamentos sobre a cidade de Lisboa, sobre como se tornou uma cidade multicultural e, com isso, cheia de desigualdades. Também acho que o ritmo musical está muito bem espelhado na escrita de Kalaf, que mesmo quem não tem muita proximidade aos géneros musicais que explora consegue ouvir a música.

 

Talvez tenha sido uma daquelas situações em que nos aparece um livro que em tudo seria certo para nós, mas que peca pela altura em que o lemos. É um daqueles a que quererei dar uma nova oportunidade no futuro, sem dúvida, para tirar as teimas. Quem desse lado já o leu, ou leu algo do autor?