Diálogos Para o Fim do Mundo, Joana Bértholo
Sabe sempre bem partir para mais um livro de Joana Bértholo, e Diálogos Para o Fim do Mundo é muito diferente de outros livros da autora que eu já tinha lido. E essa é uma característica muito própria dela, a de reinventar as histórias e os formatos a cada livro.
Este livro foi escrito em 2010, e nele conhecemos um conjunto de personagens, aparentemente não relacionadas umas com as outras. Digo “aparentemente” porque este é uma daquelas leituras em que, embora não haja uma narrativa linear para seguir, tudo acaba a fazer sentido no fim. Andamos a par e passo com a família Kozak, uma família de refugiados ucranianos que, durante a revolução, não vê outra forma senão fugir para o Brasil, onde o pai já se encontra. Mas também vamos ao futuro, onde conhecemos Michael e Nina, um quase-casal que já está para lá do fim do mundo.
Que a guerra não destrói nomes. Somente vidas, sonhos, mundos, ruas, e famílias ucranianas. Neste domingo, ainda não se ouviu um tiro. Ainda ninguém morreu de morte que não fosse natural. Também, em plena guerra, uma bala no peito é uma forma perfeitamente natural de se morrer. Bastante mais natural do que um acidente vascular, bastante mais natural do que morrer de velhice.
Ao ler Diálogos Para o Fim do Mundo senti-me constantemente num filme de Wes Anderson, não só pela forma fragmentada como as coisas são contadas, mas também pelo imaginário visual e pelo humor que está subjacente à escrita de Joana Bértholo. É em muitas coisas um meta-livro, brinca com o próprio formato, com as notas de rodapé; é muito original na forma como cada capítulo é apresentado e estruturado. Gostei mesmo muito da experiência de o ler precisamente por ser tão original e diferente, mas acredito que não seja a praia de toda a gente — em especial das pessoas que gostam de acompanhar narrativas lineares.
Pessoas que apreciaram a originalidade de Ecologia e a escrita de A História de Roma vão certamente encontrar qualquer coisa de positivo nesta leitura! E vocês, já conhecem os livros de Joana Bértholo?