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Rita da Nova

Sex | 01.11.24

Drive Your Plow Over the Bones of the Dead, Olga Tokarczuk

Andei anos a ver Drive Your Plow Over the Bones of the Dead (PT: Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos), de Olga Tokarczuk, e a ter receio de o ler por me parecer algo demasiado erudito ou até aborrecido. Foi preciso uma viagem à Polónia para me convencer a comprá-lo e foi preciso escolhê-lo para o Clube do Livra-te de outubro para ter finalmente coragem de o ler — um disparate, visto que estava aqui um claro favorito e eu com medo de mergulhar nas suas páginas.

 

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O livro conta a história de Janina, uma solitária professora reformada, que mora numa aldeia remota perto da fronteira da Polónia com a República Checa. O objetivo desta mulher é o de estar o mais perto dos animais e o mais afastada das pessoas; se puder estar sossegada a traduzir os poemas de William Blake e a analisar as indicações da astrologia, melhor. Contudo, esta calma e reclusão são abaladas quando membros do clube de caça local começam a aparecer mortos — Janina acha que sabe o que se está a passar e tentará provar a sua teoria junto das autoridades.

 

Não planeio dizer-vos mais sobre o enredo — e olhem que bem me apetecia! —, sob pena de poder estragar a leitura, mas digo-vos que adorei esta Janina Duszejko. Há muito tempo que não me apaixonava por uma personagem desta forma: mesmo que não concorde a 100% com as coisas que diz e faz, consigo perceber porque é que fazem sentido para ela. Olga Tokarczuk conseguiu a proeza de construir uma personagem que desafia muitas dos aspetos que consideramos “normais” ou “aceitáveis” — adorei ir lendo as opiniões da leitura conjunta que fizemos no Discord do Livra-te porque, a bem ou a mal, Janina não deixa ninguém indiferente.

 

E, depois, talvez mais importante: é um livro extremamente bem pensado e construído. Apesar de ter percebido bastante cedo para onde é que a narrativa estava a ir, isso não me impediu de apreciar todas as migalhinhas de informação que a autora vai deixando pelo caminho. Aliás, acho que o facto de não estar tão preocupada com o mistério em si me permitiu aproveitar melhor a mestria com que as peças estão encadeadas. Adorei que nada fosse posto na narrativa sem que cumprisse um propósito e fiquei bastante satisfeita com o final.

 

The world is a prision full of suffering, so constructed that in order to survive one must inflict pain on others.

 

Ainda hoje penso bastante neste livro e em todos os temas sobre os quais reflete, principalmente a maneira como nos põe a pensar sobre definições que, por norma, temos muito bem balizadas nas nossas cabeças. Por exemplo: as definições de justiça, de sanidade, de direitos dos animais, de tradição. Sei que não é um livro para toda a gente, mas definitivamente que ficará na minha lista de favoritos. E vocês, já o leram ou leram algo mais da autora? Se sim, qual me recomendam para continuar a conhecer a sua escrita?

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O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!