Triste Tigre, Neige Sinno
Ao longo de setembro, sem intenção, acabei por ler uma série de livros sobre violação e abuso sexual — por vezes, parece que a minha lista de leituras mensal segue um tema maior, e foi isso que aconteceu. Triste Tigre, de Neige Sinno, que eu desconhecia, chegou-me como oferta da Editorial Presença (obrigada! 🫰). Decidi dar-lhe uma oportunidade ao ver a quantidade de críticas positivas e prémios que acumulava.
É extremamente difícil avaliar um livro quando este resulta das experiências de vida, ainda por cima traumáticas, da autora. Neige era muito jovem quando começou a ser abusada pelo padrasto, uma situação que perdurou até aos seus 19 anos, quando teve coragem de o denunciar. Seguiu-se um julgamento público, que culminou na condenação do agressor e na saída de Neige de França. No entanto, o que a autora decidiu relatar não se prende tanto com os acontecimentos em si, mas com a forma como esse abuso e esse agressor permanecem dentro dela até hoje.
Confesso que, talvez pela minha experiência recente com livros do mesmo género, esperava que nos fosse contada toda essa história — sobretudo a do processo judicial. Talvez por isso tenha sentido tanta dificuldade em conectar-me com este livro. Sem dúvida que contém reflexões muito interessantes sobre o que significa viver permanentemente sob a sombra deste passado, mas a realidade é que é uma obra muito mais centrada nessa racionalização dos acontecimentos, e não era isso que eu antecipava. Não diz nada sobre o livro em si, na realidade, só sobre o ponto em que eu me encontrava quando o li, o que fez com que não fosse uma experiência tão positiva assim.
Dentro do mesmo género, posso dizer que me senti muito mais ligada a Know My Name (PT: Este é o Meu Nome) de Chanel Miller, que recomendo muitíssimo. Ainda assim, se gostam de ler sobre esta temática e vos interessam relatos na primeira pessoa, então recomendaria que espreitassem este Triste Tigre.