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Rita da Nova

Qui | 19.09.24

No Tempo das Cerejas, Célia Correia Loureiro

Se vão lendo as publicações aqui do blog com frequência, saberão que no último ano tenho feito escolhas mais conscientes no que toca às minhas leituras — um dos critérios tem sido explorar mais autores portugueses para ter um maior conhecimento do que se escreve por cá. Foi assim que No Tempo das Cerejas, de Célia Correia Loureiro, veio parar cá a casa e ganhou o seu lugar na pilha de livros para ler brevemente.

 

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Escolhi este por ser o mais recente, sabendo que talvez não fosse o livro da autora mais indicado para mim. Passo a explicar: sei que a Célia já escreveu um pouco de tudo, do histórico ao contemporâneo, e haveria outros títulos dela com mais potencial de serem mais dentro do género que eu leio. Em No Tempo das Cerejas viajamos até à Lisboa dos anos 1920, 1940 e 1950, tudo através da conversa que a fadista Irene Silva Vaz tem com Serafim Almeida, um repórter a quem pede que oiça e escreva a sua história.

 

Começando precisamente pela forma como a Célia retratou Lisboa, diria que essa foi a minha parte favorita desta leitura. Nota-se que houve um trabalho de investigação e uma preocupação em passar vários detalhes da época, e tudo isso foi feito de forma natural e introduzido nos momentos certos. Também achei muito inteligente que as mudanças na cidade fossem sendo observadas principalmente por Serafim, que mora em Londres e regressa a Portugal muito esporadicamente — desse modo, esta personagem partilha o olhar de descoberta com o leitor.

 

A governanta da casa da minha mãe costumava dizer que as crianças só se lembram das coisas tristes, das pessoas que lhes batem e da fome que passam. Dizia que as crianças felizes mal se lembram da infância. Acho que tinha razão.

 

Apesar de ter adorado toda a atmosfera criada e a escrita da autora, senti imensa dificuldade em interessar-me pela história — e eu não costumo ter problemas em acompanhar histórias lentas. Não achei que o mecanismo de saltos temporais, da forma como estava feito, ajudasse a dar mais dinamismo, pelo contrário, achei que contribuiu para a confusão que fui sentido e para a sensação de estar sempre no mesmo sítio da narrativa.

 

De qualquer das formas, fico com imensa curiosidade em ler mais coisas da Célia, nomeadamente Até os Comboios Andam aos Saltos. Já leram alguma coisa da autora? Se sim, qual me recomendam para continuar a explorar a escrita dela?