Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Rita da Nova

Qui | 12.09.24

Vista Chinesa, Tatiana Salem Levy

Sabem aqueles livros que vão estando no vosso radar, mas que, por qualquer motivo, nunca tiveram curiosidade em pegar para saber mais? Aconteceu-me isso com Vista Chinesa, de Tatiana Salem Levy, uma leitura que me chegou (e ainda bem) por ser a escolha da Joana para setembro no Clube do Livra-te.

 

vista-chinesa-tatiana-salem-levy

 

Júlia, sócia de um escritório de arquitetura, está mergulhada em trabalho porque os Jogos Olímpicos de 2016 serão no Rio e ela tem um grande projeto de construção pela frente. Um dia, ligeiramente fora daquilo que costuma ser a sua rotina, vai correr no Alto da Boa Vista, uma zona onde a natureza ainda prevalece. A certa altura, é atacada por um homem que a viola e a deixa numa zona deserta. Não pensem que acabei de vos estragar o livro: é mesmo assim que a narrativa começa e tudo isto está descrito na sinopse.

 

Escrito em forma de carta para os dois filhos, que nasceram anos depois, este livro é sobre tudo aquilo que vem depois de um acontecimento terrível como este. É baseado em factos reais, e isso quase que nos dá a impressão de serem as próprias experiências de Tatiana Salem Levy a serem descritas, porque não haveria outra forma de saber tão bem o que se passa dentro de uma mulher que sofre um abuso desta magnitude. Diria que essa é a principal força deste livro: todo o trabalho de pesquisa e empatia que está por detrás da construção de uma história que poderia ser a de tantas mulheres que, de um dia para o outro, veem as suas vidas alteradas para sempre. E depois há o escrutínio, não apenas o próprio, mas sobretudo o da sociedade, o das pessoas que deveriam ter um pouco mais de sensibilidade, como a polícia.

 

Mas há coisas que, mesmo depois de terem acontecido, continuam acontecendo. Elas não te deixam esquecer porque se repetem todos os dias. É por isso que não tiro da cabeça que vocês sabem. Vocês habitaram a minha barriga, mamaram nos meus peitos, tomam banho comigo, dormem no meu colo, a gente se enrosca no sofá, então vocês sabem, como eu sei toda a vez que me olho no espelho. Só não conhecem as palavras.

 

Embora tenha gostado muito da forma como está escrito, e saiba que livros como este são extremamente necessários, em termos de experiência de escrita senti-me sempre um pouco afastada daquilo que estava a ser narrado. Isto não quer dizer nada sobre Vista Chinesa, provavelmente mostra que os leitores precisam de encontrar mecanismos de defesa para ler sobre certos assuntos. Isto faz-vos sentido? Também já passaram por experiências de leitura semelhantes? Contem-me tudo nos comentários!

----------

O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!