Chego ao momento de escrever esta review sem saber bem o que quero dizer. É raro acontecer-me isto: gostei muito de várias partes específicas deste livro, mas no cômputo geral sinto que me passou um pouco ao lado e que não consegui ligar-me à história que J. R. Thorp queria escrever.
Cheguei até Learwife há uns anos, na minha primeira e única visita à Indie, not a bookshop, em Cascais. Lembro-me de ter ficado interessada por ser uma reinterpretação feminista de King Lear, de Shakespeare, e trouxe-o para fazer parte da pilha interminável de livros. Demorei a lê-lo — e, agora que penso, se calhar não estava no momento certo para esta leitura, ou talvez esperasse outra coisa. Mais do que um retelling de King Lear aos olhos de Goneril, a sua mulher, este livro faz o exercício de a acompanhar depois da morte do rei e das filhas.
Adorei a forma como começa, porque resume muito bem a forma como King Lear termina, mas a partir daí achei várias partes da escrita demasiado aborrecidas e exageradas para parecerem literárias. Também gostei de algumas reflexões sobre o processo de luto, mas por outro lado todo o enredo sobre o exílio de Goneril pareceu-me demasiado aborrecido para que esses pequenos pensamentos fizessem com que a leitura valesse a pena.
Ou seja: acho que há reinterpretações feministas de mitos e histórias muito mais bem conseguidas do que esta, e não recomendo particularmente a leitura de Learwife — a não ser que ler histórias lentas sejam a vossa praia, aí talvez possam espreitar e ver se vos interessa. Quem desse lado já tinha ouvido falar deste livro?
Sim, bem sei que vos tinha dito que só haveria mais uma publicação sobre a viagem a Chipre, porém, quando comecei a apontar todas as coisas que fizemos — e todos os locais que visitámos — rapidamente compreendi que era melhor dividir em dois, para conseguir estruturar melhor a informação e garantir que não estou só aqui a fazer uma lista enorme de pontos turísticos sem qualquer contexto.
Caso ainda não o tenham feito, recomendo bastante que leiam o primeiro post sobre a viagem, onde explico as coisas essenciais a saber no momento de planear uma viagem a Chipre. Lá, também já levantei um pouco o véu sobre o que foi a natureza das nossas férias: fomos focados em fazer praia, pelo que, a par de algumas sugestões de restaurantes, é essencialmente isso que vão ver por aqui. Antes de começarmos, apenas uma nota: se a vossa ideia é passar dias completos na praia, deixo-vos o alerta de que, sobretudo na época alta, as palhotas e espreguiçadeiras costumam ser ocupadas bastante depressa — vale a pena ir cedo para garantir que conseguem lugar. Ainda assim, se forem como nós e tiverem o objetivo de ir saltitando de sítio em sítio ao longo do dia, saibam que todas as praias de Chipre são públicas e que, por isso mesmo, há sempre espaço no areal para simplesmente porem as vossas toalhas.
Contudo, como os nossos dias não foram só escolher uma praia e ficar o dia todo a apanhar sol, aqui ficam as diferentes coisas que preencheram os nossos dias:
Nicósia
Pois bem, começamos por aquele que também foi o nosso primeiro local a conhecer. Recordando que, como não há voos diretos de Portugal, tivemos de usar um dia inteiro para a chegada a Chipre, no nosso primeiro dia “a sério” na ilha escolhemos passear pela cidade. Nicósia é a última capital dividida do mundo, o que só por si a torna merecedora de uma visita. Não podem visitar esta cidade pela primeira vez sem uma caminhada pela Ledras Street, onde se encontra uma das fronteiras que vos permite passar para o lado turco. Assim que atravessámos foi como se tivéssemos mesmo mudado de país: entra-se diretamente para um bazar turco, com ruas mais sinuosas e a confusão típica destes mercados ao ar livre.
Tenho a certeza de que, se não fosse pelo extremo calor, teríamos ficado um pouco mais de tempo a explorar a cidade, mas infelizmente os quase 40ºC não facilitaram a nossa vida de turistas. Ainda assim, deu para um almoço bastante típico no resturante To Anamma, onde pedimos duas mezes de carne grelhada — mais do que suficiente para quatro pessoas, visto que até sobrou.
Agia Napa
Passamos agora para o lado este da ilha, a zona onde estivemos mais tempo. Marcámos propositadamente um alojamento entre Larnaca e Agia Napa, para que fosse mais fácil planear os nossos dias de visita a esta parte do país (sim, na próxima publicação prometo fazer-vos viajar até ao extremo oposto, não se preocupem!). O que dizer da cidade de Agia Napa, além de que é demasiado turística? Exceto para refeições (o KARAMELOMENO vale muito a pena) ou algumas compras que queiram fazer, diria que mais do que a cidade, importa visitar vários pontos desta região, todas elas junto ao mar.
Estabelecendo então que a cidade em si não acrescenta grande coisa — aliás, é como se estivéssemos nas ruas mais turísticas do Algarve — o que é que vale a pena conhecer por aqui? Comecemos pela Nissi Beach, onde encerrámos o nosso primeiro dia completo na ilha. Considerada uma das melhores praias do mundo, foi lá que tivemos a consciência do quão quente é a água de Chipre. Decidimos jantar por lá, no Isola Beach Bar, mas honestamente achei o jantar mais overpriced de toda a viagem e não sei se recomendaria.
Foi também a região de Agia Napa que nos proporcionou uma das experiências mais giras de toda a viagem. Chama-se MUSAN — Museum of Underwater Sculpture Ayia Napa — e é isso mesmo que estão a ler, um museu debaixo de água. A entrada é totalmente grátis, na realidade só precisam de nadar cerca de 200 metros para começarem a ver as estátuas debaixo de água. Nós fomos em modo snorkeling, mas também é possível fazer em scuba diving e, nesse caso, conseguirão aproximar-se mais das estátuas, uma vez que estão a uma profundidade de cerca de 8 metros. Passámos uma manhã incrível dentro de água, e, não se preocupem, há várias plataformas ao longo do caminho caso precisem de descansar.
Uma das coisas de que mais gostei nesta região foi de simplesmente ir andando de carro junto à costa e de ir parando para observar as paisagens ou para mergulhar. Foi assim que vimos vários dos meus pontos favoritos desta viagens, todos eles perto na zona da Pensínsula de Cape Greco. Começando com as Sea Caves, um lugar de paragem obrigatório pela sua beleza ou, se estiverem a sentir-se aventureiros, para saltar lá de cima para o mar. Continuando caminho, vão ter à Blue Lagoon, onde podem mergulhar sem qualquer problema porque há toda uma estrutura de rocha que dá diretamente para a água e onde passámos imenso tempo simplesmente dentro de água.
E ainda um pouco mais longe, quase na fronteira com a região de Protaras, podem parar para visitar a Ayioi Anargiroi Church, uma igreja ortodoxa de estilo grego, muito simples e muito bonita. Pontos extra para o facto de ter dezenas de gatos por perto, mas não recomendo que a visitem já ao pôr-do-sol como nós, que a quantidade de melgas e mosquitos é inacreditável.
Protaras
Por falar na área de Protaras, devo dizer que é um dos poucos arrependimentos que tenho desta viagem — não ter lá ido, mas ter passado pouco tempo nesta região com praias e paisagens tão bonitas. Decidimos passar lá o nosso último dia completo na ilha e foi mesmo incrível. Começámos o dia a ir até ao Cat Bench, junto à Pernera Beach, que prometia uma grande colónia de gatos, mas só entregou dois ou três. Ainda assim, a praia é lindíssima e muito calma, pelo que podem incluí-la nos vossos planos de viagem.
Nós não ficámos por lá, já que o nosso plano era ir até à Fig Tree Beach, que fica numa baía com o mesmo nome. E, sim, é uma praia rodeada de figueiras! Não é tão calma como a que vos falei anteriormente, e sem aluguer de espreguiçadeira pode ser complicado encontrar um lugar onde sentar, mas nós conseguimos e gostámos muito. Ainda assim, se for demasiado confusa para vocês, há muitas mais praias no seguimento da costa que podem espreitar em busca de um local mais tranquilo.
Rumámos à Konnos Beach, onde queríamos terminar o dia com uma das experiências mais maravilhosas de toda a viagem. Mas antes de falarmos sobre isso, preciso de vos recomendar o restaurante Spartiatis, no topo da encosta que leva à praia. Foi sem dúvida uma das melhores refeições de toda a viagem, e é o sítio perfeito para comer um bom peixe. Completamente consolados ao nível gastronómico, descemos então até à praia para nadar com tartarugas.
Atenção, vou tentar explicar da melhor forma, embora não seja certo que as encontrem. Deixam as vossas coisas na Konnos Beach e vão até à pequena praia que fica do lado esquerdo. Podem ir a pé pelas rochas (como as pessoas normais) ou podem ser como nós e fazer tudo a nadar porque não batem bem da cabeça e não percebem as indicações como deve ser. Aí, basta nadar uns bons metros (100, mais ou menos) até à zona onde as tartarugas costumam estar. Nós tivemos a sorte de ver vários barcos a passar e a apontar para elas, o que fez com que soubéssemos mais ou menos onde estavam e conseguíssemos nadar perto delas! Diria que foi uma daquelas memórias que teve a capacidade de ficar logo gravada e em lugar cativo no meu cérebro, sabem?
E são estas as recomendações que tenho para vos dar para as regiões de Nicosia, Agia Napa e Protaras. No próximo (e último) post sobre a viagem a Chipre falar-vos-ei de Paphos e da nossa ida à Península de Karpas, no lado turco. Até lá, contem-me: acharam esta publicação útil? Ficaram com alguma questão que queiram que esclareça? Podem deixar tudo na caixa de comentários!
Ler Joan Didion tem sido um hábito relativamente recente na minha jornada de leitora, mas esta foi a primeira vez que me aventurei na ficção escrita pela autora. Confesso que estava com algum receio de não gostar da escrita neste formato ou de não me interessar pela história, já que adoro a forma como fala da sua própria vida — e acho que tem que ver com o facto de ter sido uma mulher tão fascinante.
Compreendi logo, às primeiras páginas, que não havia qualquer motivo para os meus receios. Creio até que a escrita da autora ganhou aqui um certo desprendimento, que pôde ser mais original e ainda mais sardónica porque não estava a falar de si própria, mas de personagens inventadas. Claro que, à boa maneira de Joan Didion, até a ficção é uma crítica à realidade e Play It As It Lays é essencialmente uma crítica à sociedade norte-americana dos anos 1960, sobretudo à falsa ilusão de fama e felicidade que Hollywood promete.
Começamos a acompanhar a história de Maria Wyeth quando tem 31 anos e está num hospital psiquiátrico, e vamos andando para trás e para a frente até compreendermos porque é que lá foi parar. O que lemos de seguida nem sempre é bonito, mas é muito real: tanto Maria como as restantes personagens soam bastante verdadeiras, e são forçadas a tomar decisões difíceis. Mesmo que houvesse uma forma mais fácil ou menos trágica de resolver, isso nem sempre é possível e Joan Didion não poupa as suas personagens ao sofrimento.
I try to live in the now and keep my eye on the hummingbird. I see no one I used to know, but then I’m not just crazy about a lot of people. I mean maybe I was holding all the aces, but what was the game?
Gostei mesmo muito de experimentar a ficção de Joan Didion e, pelo que li nas sinopses, The Last Thing He Wanted (PT: A Última Coisa que Ele Queria) deixou-me muito curiosa. Já o leram? Que outras obras da autora me recomendariam?
Já nem me recordo bem de como é que ouvi falar de Sirens & Muses, de Antonia Angress, mas sei que fiquei com a impressão de que se tratava de um livro Dark Academia — e isso fez-me querer pegar nele quando terminei toda a minha pilha de livros planeada para julho. Pois bem, fui atacada pela desilusão quando compreendi que, à exceção de se passar numa escola de artes, a história tinha pouco ou nada desse género literário.
O livro passa-se nos Estados Unidos da América em 2011, pelo que desde início que temos a recessão e o movimento Occupy Wall Street como pano de fundo para um enredo que se centra em duas estudantes: Louisa e Karina. A primeira está a estudar no Wrynn College of Art com uma bolsa, a segunda é filha de dois colecionadores de arte e sempre viveu dentro desse mundo. A relação destas duas colegas de quarto intensifica-se e os contornos ficam mais indistintos: tornam-se musas uma da outra, mas não sem que isso traga consequências.
I think it's easy, when...when you're neglecting your own happiness, to inadvertently neglect the happiness of the people you love. It's sort of like you think you're being selfless or self-sacrificial or something, but really you're just sowing misery everywhere you go.
Além delas há também outras personagens — membros da família, professores e outros estudantes — que ajudam a compor o cenário. Para mim, este livro soou mais como a série Euphoria do que como Dark Academia, mas quando o percebi acabei por aproveitar melhor o que a autora decidiu pôr na história. Fui gostando progressivamente mais à medida que avançava e adorei as reflexões sobre o papel da arte num mundo em crise, bem como todo o questionamento sobre o que pode ou não ser considerado arte num mundo cada vez mais digital.
Foi uma experiência de leitura positiva e, em geral, acho que pode ser um bom livro para quem gosta de pensar sobre estes temas, assim como para quem tem uma predileção por personagens moralmente questionáveis. Já tinham ouvido falar deste livro?