Learwife, J. R. Thorp
Chego ao momento de escrever esta review sem saber bem o que quero dizer. É raro acontecer-me isto: gostei muito de várias partes específicas deste livro, mas no cômputo geral sinto que me passou um pouco ao lado e que não consegui ligar-me à história que J. R. Thorp queria escrever.
Cheguei até Learwife há uns anos, na minha primeira e única visita à Indie, not a bookshop, em Cascais. Lembro-me de ter ficado interessada por ser uma reinterpretação feminista de King Lear, de Shakespeare, e trouxe-o para fazer parte da pilha interminável de livros. Demorei a lê-lo — e, agora que penso, se calhar não estava no momento certo para esta leitura, ou talvez esperasse outra coisa. Mais do que um retelling de King Lear aos olhos de Goneril, a sua mulher, este livro faz o exercício de a acompanhar depois da morte do rei e das filhas.
Adorei a forma como começa, porque resume muito bem a forma como King Lear termina, mas a partir daí achei várias partes da escrita demasiado aborrecidas e exageradas para parecerem literárias. Também gostei de algumas reflexões sobre o processo de luto, mas por outro lado todo o enredo sobre o exílio de Goneril pareceu-me demasiado aborrecido para que esses pequenos pensamentos fizessem com que a leitura valesse a pena.
Ou seja: acho que há reinterpretações feministas de mitos e histórias muito mais bem conseguidas do que esta, e não recomendo particularmente a leitura de Learwife — a não ser que ler histórias lentas sejam a vossa praia, aí talvez possam espreitar e ver se vos interessa. Quem desse lado já tinha ouvido falar deste livro?