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Rita da Nova

Ter | 06.08.24

O Peso do Pássaro Morto, Aline Bei

Depois de ter lido Pequena Coreografia do Adeus, de Aline Bei, soube que quereria ler O Peso do Pássaro Morto — o livro de estreia que lhe valeu prémios e grandes elogios dos leitores. Exceção feita a alguns pormenores (já lá iremos) acho que gostei mais da forma como esta história está construída e do desenvolvimento das personagens.

 

peso-passaro-morto-aline-bei

 

Uma coisa é certa: Aline Bei não consegue escrever histórias felizes e eu estou cá para receber toda a tristeza que ela nos quiser dar. Em O Peso do Pássaro Morto temos uma protagonista feminina, que vamos acompanhando em momentos-chave da sua vida, diria até que são momentos traumáticos e que vão moldando a pessoa que ela é.

 

entendendo que o tempo
sempre leva
as nossas coisas preferidas no mundo
e nos esquece aqui
olhando pra vida
sem elas

 

E há qualquer coisa de mágico no português do Brasil, uma musicalidade que torna tudo mais bonito, mesmo quando o que se está a descrever é a mais profunda desgraça que pode acontecer a um ser humano, especialmente a uma mulher. A escrita de Aline Bei é, então, uma mistura de ingredientes perfeitos: tem a sonoridade do português do Brasil, tem a cadência da poesia, tem um ou outro apontamento sarcástico, próprio de uma cultura que vê motivos para rir mesmo quando só apetece chorar.

 

Como disse, vamos espreitando vários acontecimentos da vida desta mulher entre os oito e os 52 anos. Em geral não senti que os saltos temporais fossem forçados ou abruptos, mas houve alguns momentos específicos em que gostaria que a autora se tivesse demorado um pouco mais. De resto, é uma leitura que só peca por ser curta e sôfrega — a forma como está escrito dá-nos uma ilusão de leveza e, quando damos por nós, não conseguimos parar. Pode ser que num próximo livro de Aline Bei eu consiga ser uma leitora mais controlada.

 

Quem desse lado conhece a autora? Já leram o seu terceiro livro, Rua Sem Saída? Se sim, o que acharam?