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Rita da Nova

Qui | 29.08.24

Chipre // Paphos & Lado turco

Como tudo o que é bom tem de chegar ao fim, cá estou eu para o último post sobre a viagem a Chipre. Este é o momento ideal para irem ler (ou reler) as duas publicações iniciais — uma em que vos conto o que devem saber antes de viajar para esta ilha e outra em que dou algumas recomendações por zona. Se já estão em dia, então é só continuar porque hoje vou falar sobre as duas zonas que faltam: Paphos e uma parte do lado turco.

 

chipre-post-dois

 

Sem mais demoras, aqui ficam algumas ideias de coisas que podem ver, fazer e comer nestas regiões:

 

Paphos

Paphos era uma das zonas que estava mais entusiasmada por conhecer, mas como ficava na ponta oposta àquela em que estávamos alojados — a cerca de 2h de distância — decidimos reservar apenas um dia para lá ir. Isso implicou acordar cedo para garantir que fazíamos tudo o que queríamos, e posso garantir que é perfeitamente exequível e sem terem de andar numa correria.

 

O plano mais antecipado para esse dia era um passeio de barco pela Blue Lagoon (sim, outra Blue Lagoon que não a de Agia Napa), mas como estava marcado para o fim do dia deu para ir visitando alguns pontos até lá. O primeiro foi o local arqueológico de Nea Paphos, que é uma zona de ruínas onde podem ver túmulos, fortalezas e mosaicos. Chipre tem vários locais dentro deste género, e não queríamos deixar de conhecer pelo menos um — ainda assim, pode não ser uma experiência tão agradável assim se, como nós, forem em pleno verão porque vão certamente sofrer com o calor.

 

mosaicos

 

Por isso mesmo, partimos daí para a zona de Coral Bay e aproveitámos para almoçar no Arapis Coral Bay Restaurant antes de irmos dar um mergulho. A praia era ótima, e não estava demasiado cheia, e teríamos ficado lá mais tempo se não quiséssemos passar pelo The Edro III Shipwreck antes de irmos até ao Porto de Latchi, de onde iria partir o nosso barco.

 

 

Já em Latchi, ficámos agradavelmente surpreendidos com a empresa que organizava as viagens de barco. Claro que é possível alugar um barco só para vocês, mas acaba sempre por ficar mais caro do que se viajarem com outras pessoas. Nós pagámos apenas 20€ por pessoa, por um passeio de 3h que incluía fruta, um copo de vinho e bastante tempo para nadar na Blue Lagoon — com este preço, estávamos à espera de uma experiência menos boa, mas não posso recomendar o suficiente. Antes de parar na parte onde podem mergulhar e nadar, o barco passa ao largo de vários pontos de interesse, como Aphrodite Bath, St. George Church, St. George Island, Plaji Bay e Manolis Bay. A única coisa que faltou foi algum tipo de explicação por parte da tripulação acerca daquilo que estávamos a ver, sinto que teria enriquecido um pouco mais o passeio.

 

 

Como optámos por fazer a última viagem de barco do dia, para apanharmos o pôr-do-sol, fomos dali diretos para uma das melhores experiências gastronómicas de toda a viagem. O Baths Of Aphrodite Restaurant é uma fish tavern muito típica, onde podem experimentar um pouco das iguarias cipriotas que vêm do mar. É recomendado que marquem mesa, sobretudo se quiserem ficar na varandinha que dá diretamente para o mar.

 

 

Lado turco

Não é que a ideia de terminar este post numa nota menos positiva me agrade, mas as verdades têm de ser ditas. Tirámos um dia de viagem para passar para o lado turco de carro e foi, provavelmente, aquele em que menos aproveitámos ou que sentimos que não valia tanto a pena. Este lado é claramente mais desorganizado e confuso do que o lado cipriota-grego, o que nos deixou um pouco desconfortáveis ao longo do dia.

 

Planeámos tudo para visitar a Península de Karpas, onde há uma comunidade enorme de burros por todo o lado, e o nosso destino principal era a Golden Beach, que a Internet dizia ser uma das praias mais bonitas de Chipre. Pois bem, não só não era uma das praias mais bonitas como estava num estado de abandono e poluição tal, que acabou por ser até meio desconfortável estar lá. Havia chapéus de sol e espreguiçadeiras completamente partidos, que achávamos que estavam ali só porque sim, mas rapidamente percebemos que afinal estavam para ser alugadas.

 

 

Embora as vias rápidas desta zona da ilha sejam até bastante boas, parece não haver um intermédio entre via rápida e estrada de terra batida, pelo que devem prever bastante tempo só para se deslocarem na parte turca — pelo menos na Península de Karpas foi assim. Descemos depois em direção a casa, com intenção de visitar a cidade fantasma de Famagusta, uma povoação que foi deixada ao abandono aquando da invasão turca, mas não sabíamos que, apesar de ser grátis, tinha horário de visita. Ou seja: acabámos por não conseguir ver nada, só de fora, o que também contribuiu para a desilusão com este dia.

 

 

 

Apesar de o lado turco não ter correspondido às nossas expectativas, diria que foi a única parte da viagem que ficou aquém. De resto, adorei todas as coisas que fizemos e os locais que visitámos, pelo que não posso deixar de recomendar muitíssimo umas férias em Chipre, sobretudo se procurarem fazer praia e estar junto ao mar. Já sabem que estou deste lado para responder a eventuais questões ou dúvidas, e deixo-vos a pergunta: agucei-vos a curiosidade de conhecer este país?

Qua | 28.08.24

Torto Arado, Itamar Vieira Junior

Sempre tinha ouvido falar muito bem dos livros de Itamar Vieira Junior, sobretudo deste Torto Arado, por isso fiquei super contente quando a Joana o escolheu para agosto no Clube do Livra-te. Quem mo recomendava dizia que era uma excelente representação de um Brasil que nem sempre é trazido para os livros, e posso dizer que é uma daquelas leituras com que qualquer pessoa vai aprender imenso.

 

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Somos transportados para uma fazenda no Sertão da Bahia, onde conhecemos Bibiana e Belonísia, duas irmãs descendentes de escravos. Certo dia, ainda crianças, encontram uma mala que está debaixo da cama da avó e a curiosidade típica da idade dá azo a um acidente que muda para sempre a forma como se relacionam uma com a outra — cria-se uma relação de co-dependência, sobretudo para uma delas. Com o passar dos anos, Bibiana e Belonísia acabam por se separar, por conta dos caminhos muito diferentes que têm pela frente: uma mantém-se confortável com o trabalho na fazenda, a outra é mais sensível às injustiças que vêm com a servidão e tenta lutar pelos direitos dos trabalhadores.

 

Meu pai, quando encontrava um problema na roça, se deitava sobre a terra com o ouvido voltado para seu interior, para decidir o que usar, o que fazer, onde avançar, onde recuar. Com um médico à procura do coração.

 

Pode ajudar que partam para a leitura de Torto Arado com algum conhecimento prévio sobre as comunidades quilombolas, porque no fundo é disso que se trata esta comunidade apresentada no livro. São descendentes de comunidades compostas por escravizados fugitivos, que ainda estão presentes um pouco por todo o país. Apesar de terem uma cultura riquíssima, com raízes na ancestralidade negra, indígena e branca, enfrentam muitas dificuldades no acesso igualitário à saúde, educação e oportunidades. Gostei muito da forma como Itamar Vieira Junior explanou tudo isto sem nunca nos dar uma aula de História — é a dualidade destas duas irmãs que apresenta a realidade vivida no Brasil por volta dos anos 1960/70, que tem ecos ainda hoje.

 

É uma saga familiar, mas também é um romance inerentemente político, e há um equilíbrio muito bem feito entre estas duas componentes. Senti-me mesmo parte desta comunidade, fui capaz de imaginar todos os cenários que o autor descrevia e de sofrer com as personagens. No final, fica a incapacidade de decidir qual das duas irmãs escolheu melhor o caminho de vida — e acho que isto pode ser visto como um elogio.

 

No fundo, não posso recomendar mais a leitura de Torto Arado e tenho a certeza de que vou querer continuar a ler Itamar Vieira Junior — que outros livros do autor me recomendam?

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O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!

Ter | 27.08.24

The Wren, the Wren, Anne Enright

Conheci The Wren, the Wren, de Ann Enright, porque acompanho o Women’s Prize for Fiction e vi que este livro tinha feito parte da lista de nomeados. Lembro-me de, na altura, ter pensado que tinha tudo que ver comigo, mas por qualquer motivo nunca mais me lembrei dele. Contudo, vi-o com um grande desconto na plataforma Audible e, sendo curtinho, decidi experimentar ouvi-lo.

 

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Começamos por acompanhar Nell, de vinte e dois anos, que vive fascinada pelo avô poeta que nunca conheceu. E depois passamos para o ponto de vista da mãe, Carmel, que conhece partes desse homem que a filha nunca conhecerá. Lá está: quando li a premissa e percebi a forma como a história me seria apresentada, tive a sensação de que iria gostar. E, de certa forma, pelo menos no início, senti uma grande conexão com a escrita e o sarcasmo de Ann Enright.

 

We don't walk down the same street as the person walking beside us. All we can do is tell the other person what we see. We can point at things and try to name them. If we do this well, our friend can look at the world in a new way. We can meet.

 

Porém, ao longo da leitura em formato áudio, sinto que fui perdendo partes da magia desta história. O facto de a narrativa ir alternando entre perspectivas e mulheres da família faz com que seja muito mais complicado de acompanhar nesse formato — e nesse sentido, talvez parte da culpa de não ter funcionado comigo seja minha por ter escolhido um tipo de leitura que acaba por não jogar bem com o enredo. Fico com a sensação de que a escrita de Ann Enright vive de uma prosa feita de detalhes, e que é uma daquelas autoras para ler devagar, para voltar atrás e apreciar a beleza dos pormenores. Isso é mais complicado de fazer num audiolivro, pelo que tenho a certeza de que quererei reler este livro em formato físico ou e-book.

 

Ainda assim, parece-me uma excelente recomendação de leitura para quem gosta de dramas familiares e de histórias onde o trauma geracional está no centro do enredo e da vida das personagens. Quem desse lado já leu esta autora? Se sim, que outros títulos me recomendariam?

Seg | 26.08.24

Dear Edward, Ann Napolitano

Não é segredo para ninguém que me apaixonei pela escrita de Ann Napolitano quando li Hello Beautiful (PT: Olá, Linda). Tornou-se facilmente a minha leitura favorita do ano passado — e um dos livros da minha vida —, pelo que soube que queria ler mais coisas da autora. Foi por isso que escolhi Dear Edward (PT: Querido Edward) para o Clube do Livra-te de agosto e, adianto já, não desiludiu.

 

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Este livro conta a história de Edward Adler, um rapaz de doze anos que é o único sobrevivente de um desastre de avião. O rapaz passa a ser visto como um milagre e tem de lidar com tudo o que lhe acontece: o facto de toda a gente saber quem ele é, o desastre que o seu cérebro teima em reprimir, o luto dos pais e do irmão que iam consigo no avião, as histórias de todas as outras vítimas. Acompanhamos duas linhas temporais: a do dia do acidente, em que observamos os passageiros desde o momento em que entram no avião até à queda, e a do pós-acidente, em que Edward vai morar com os tios maternos e tem de aprender a viver.

 

Vi várias reviews que diziam que Dear Edward não está ao nível de Hello Beautiful, que foi escrito depois, mas eu acho que são duas histórias tão distintas, que é injusto fazer esta comparação. Até porque a sensibilidade da autora está presente nos dois livros, e isso parece-me algo que não se aprende nem se treina, creio que foi algo que nasceu com ela — e que se nota na maneira como escolhe relatar-nos as vidas das suas personagens. É isso que podem esperar neste livro: uma empatia e uma sensibilidade enormes, que nos fazem estar ao lado das personagens, sofrer com e por elas, mesmo quando não concordamos com as coisas que dizem ou fazem.

 

There was no reason for what happened to you, Eddie. You could have died; you just didn’t. It was dumb luck. Nobody chose you for anything. Which means, truly, that you can do anything.

 

E por falar em personagens, não posso terminar esta opinião sem dizer que, mais uma vez, senti que a autora foi capaz de lhes conferir uma carga humana brutal. Como consequência desse trabalho, ler Dear Edward não é apenas ler sobre o rapaz de doze anos que sobreviveu ou sobre as quase duas centenas de passageiros que perderam a vida, é dar destaque a várias outras personagens que, não sendo protagonistas, ganham um papel de destaque nos nossos corações de leitores (Shay, estou a olhar para ti).

 

Em suma: adorei este livro e tenho a certeza que a maior parte de vós também vai gostar muito de o ler. Só não recomendo a pessoas que têm medo de andar de avião — eu não tenho e tremi um pouco por dentro com a descrição do desastre e do que o provocou. E vocês, entraram nesta leitura conjunta connosco? Se sim, o que acharam?

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O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!

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