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Rita da Nova

Sex | 07.06.24

The Human Origins of Beatrice Porter and Other Essential Ghosts, Soraya Palmer

Quando este livro me chegou cá a casa, numa daquelas caixas que entregam livros-surpresa (mas que eu já não subscrevo porque vinham do Reino Unido e deu-se o Brexit), lembro-me de olhar para a capa e de pensar que talvez não fosse o livro certo para mim. Pensei que fosse mais dentro do género da fantasia, mas tive uma agradável surpresa mal comecei a ler.

 

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Neste romance de estreia, Soraya Palmer conta-nos a história de duas irmãs, com origens na Jamaica e em Trinidad, que vivem uma situação familiar tensa em Brooklyn: a mãe está grávida e doente, o pai é violento e tem uma segunda mulher, e há uma série de segredos que, se descobertos, poderão abalar para sempre a estrutura familiar. Zora fecha-se na escrita e Sasha redescobre a sua identidade através da sexualidade — e as duas irmãs acabam por se ir afastando apesar de serem o porto seguro uma da outra.

 

See once upon a time there was a woman. And this woman conjured stories from ghosts and gave them to her daughters. This conjure woman's name was Beatrice. The daughters loved her stories, and when she died it was all that she left them. Little did they know that this book had a life before me. You see, I, Your Faithful Narrator, will always carry the burden of knowing how my stories will end.

 

O mais interessante nesta narrativa é que a autora tece esta história através de múltiplos pontos-de-vista — não apenas o das irmãs, mas o de um narrador muito diferente do habitual — e entrelaça-a com o folklore da Jamaica e de Trinidad a partir das histórias que os pais vão contando às filhas ao longo da vida. De certa forma, estas lendas e contos fazem com que as diferentes culturas desta família perdurem, dão uma grande diversidade ao livro e ajudam a compreender as atitudes de todas as personagens, mesmo que não concordemos com elas.

 

Não consigo especificar apenas um tema central de The Human Origins of Beatrice Porter and Other Essential Ghosts, acho que há vários pontos interessantes e há espaço para que todos sejam explorados. Ainda assim, se tivesse de escolher, diria que tudo gira à volta das histórias — as que contamos aos outros, as que contamos a nós próprios, as que deixamos esquecer. Confesso que os primeiros dois terços do livro funcionaram melhor para mim do que o final, mas ainda assim acho que é uma excelente leitura e foi uma grande surpresa para mim!

 

Já conheciam o livro ou a autora?

Qua | 05.06.24

Dear Life, Alice Munro

Que coincidência triste, esta de ter decidido escolher Alice Munro para o Clube do Livra-te de maio e a autora falecer nesse mesmo mês. Já tinha o nome debaixo de olho há muitos anos, pelo menos desde que venceu o Nobel da Literatura, e o facto de me terem oferecido Dear Life no Natal foi a desculpa mais do que perfeita para, finalmente, experimentar a autora.

 

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Ainda bem que decidi ler este livro já depois de algumas investidas dentro do género, onde fui experimentando a melhor forma de abordar coletâneas de contos — acho que não teria sido uma experiência tão positiva se tivesse lido tudo de uma enfiada como costumava fazer. É que as histórias de Alice Munro exigem tempo e maturação, ficam connosco mesmo muito depois de as termos lido. E apesar de terem cenários e ambientes semelhantes, a autora consegue pegar em pequenas coisas do dia a dia e transformá-las em histórias cheias de carga humana.

 

I just believed it easily, the way you might believe and in fact remember that you once had another set of teeth, now vanished but real in spite of that. Until one day, one day when I may even have been in my teens, I knew with a dim sort of hole in my insides that now I didn't believe it anymore.

 

In Sight of the Lake foi, sem dúvida, a minha história favorita de todas, sobretudo quando recordamos que a própria Alice Munro batalhou com um diagnóstico de demência durante as últimas décadas da sua vida. Sei que não tem a força de não sabermos bem para onde está a ir, porque a certa altura é fácil de compreender o que está a acontecer, mas foi aquela em que me senti mais ligada às personagens e ao ambiente. E tenho de dizer também que as quatro histórias finais — The Eye, Night, Voices e Dear Life — tiveram mais impacto em mim, talvez por saber do seu cariz autobiográfico.

 

Foi uma boa primeira experiência com a autora e irei certamente procurar mais contos dela para ler! Já leram Alice Munro? E que outros contistas me recomendariam?

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O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!

Ter | 04.06.24

Música para o mês // Junho

Escrevo-vos este post num estado de antecipação pela correria que será o mês de junho — ainda bem que assim é, claro, mas saber que vou estar sempre de um lado para o outro faz logo soar alarmes no meu lado que gosta de planear e organizar tudo, para garantir que nada falha. Mas não pensem que não estou feliz, estou e muito; afinal, poder passar parte do mês de junho a andar por aí a apresentar o meu livro ou a assistir a concertos muito antecipados é um privilégio enorme.

 

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Ainda antes de vos dar uma visão geral do meu mês, importa ainda referir que maio só me trouxe felicidade. Celebrei o aniversário do Guilherme, estive bastante tempo em família, vi Taylor Swift pela primeira vez ao vivo (😭), também vi Troye Sivan pela primeira vez e ainda consegui estruturar aquilo que, se tudo correr bem, será o meu próximo livro. Ou seja, coisas incríveis que consegui encaixar no meio do trabalho todo que também fui tendo.

 

Parto emocionalmente recarregada para este mês de junho, que, para já, promete idas com o meu livro ao Porto, Almada, Coimbra, Alcanena, Torres Novas e Aveiro, bem como passagens pela Feira do Livro de Lisboa. Podem espreitar as datas todas neste destaque no meu Instagram. Além disso, farei duas pequenas viagens, a Edimburgo e a Londres, e ainda me espera um concerto de Olivia Rodrigo em Lisboa.

 

Por falar nela: como estou muito entusiasmada por poder assistir ao concerto ao vivo, a música que vos trago é precisamente a minha favorita do seu último álbum, Guts.

 

 

Well, sometimes I feel like I don't wanna be where I am
Gettin' drunk at a club with my fair-weather friends
Push away all the people who know me the best
But it's me who's been making the bed

I'm so tired of bein' the girl that I am
Every good thing has turned into something I dread
And I'm playin' the victim so well in my head
But it's me who's been making the bed

 

Como podem ver, “correria” não era mesmo um eufemismo. Mas agora, vamos lá a saber: o que vos espera em junho?

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