Dancer from the Dance, Andrew Holleran
Lembro-me de estar a “passear” pela loja do Kobo, de ver a capa e a sinopse deste livro, e de pensar que era mesmo a minha cara. Deixei-o na wishlist, os tempos foram passando, e a Joana acabou por mo oferecer no Natal — isso fez com que passasse à frente de umas quantas leituras. Publicado pela primeira vez em 1978, é considerado um dos clássicos da literatura LGBT, pelo que a minha curiosidade aumentou ainda mais.
Dancer from the Dance conta a história da relação entre Malone, um rapaz que procura uma relação com significado no meio de tantas saídas à noite e orgias, e Sutherland, uma lenda do panorama gay de Nova Iorque. Gostei muito que o livro começasse com a troca de cartas entre duas personagens, que ao início não sabemos quem são, onde uma delas fala de ter escrito a história de tempos passados no coração de NYC, em festas e decadência. A partir daí, o que lemos é esse tal manuscrito.
The greatest drug of all, my dear, was not one of those pills in so many colors that you took over the years, was not the opium, the hash you smoked in houses at the beach, or the speed or smack you shot up in Sutherland's apartment, no, it wasn't any of these. It was the city, darling, it was the city, the city itself. And do you see why I had to leave? As Santayana said, dear, artists are unhappy because they are not interested in happiness; they live for beauty. God, was that steaming, loathsome city beautiful!!! And why finally no human lover was possible, because I was in love with all men, with the city itself.
O livro é, no fundo, a recordação de todos esses momentos: sejam eles divertidos, emocionais ou extremamente dramáticos. Acompanhamos um conjunto de personagens homossexuais num período tão importante de libertação sexual — apanhamos referências a Stonewall, mas também à epidemia da SIDA. Está escrito com uma vivacidade contagiante — que tem a capacidade de nos transportar para o panorama gay da Nova Iorque dos anos 1970 — e as dinâmicas entre personagens soam muito reais, não há nada de novelesco na forma como falam umas com as outras, como se tratam, como interagem.
Ainda assim, há alguns aspetos que não me convenceram totalmente: senti que os capítulos eram demasiado extensos para a densidade que a história já tem, o que fez com que não fosse propriamente uma experiência de leitura leve. Também sei que não é suposto ser, já que por detrás desta camada de vida boémia se esconderam verdades mais cruas e vidas mais dramáticas — talvez Andrew Holleran quisesse transmitir esta sensação com a leitura, quem sabe?
Quem desse lado já leu este livro? Se sim, o que acharam e que outros do autor me recomendariam?