Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Rita da Nova

Qui | 25.04.24

Primeiro Eu Tive de Morrer, Lorena Portela

Conheci este livro quando ainda trabalhava em agências de comunicação e algumas colegas minhas, amigas da autora, me falaram dele. Na altura já sabia que Primeiro Eu Tive de Morrer, de Lorena Portela, era uma daquelas histórias com que qualquer mulher se consegue identificar — e uma daquelas de partir o coração —, mas outras leituras foram ganhando prioridade e nunca cheguei a ler. Até ao dia, há pouco tempo, em que a minha editora me disse que seria publicado também em Portugal pela Manuscrito e decidi que estava na hora de pegar nele.

 

primeiro-eu-tive-de-morrer-lorena-portela.JPG

 

Uma jovem publicitária de Fortaleza, no Brasil, está à beira do burnout. Quando é forçada a parar durante oito semanas, decide ir até Jericoacoara, uma vila paradisíaca que promete ser o sítio ideal para sarar as feridas que foi acumulando ao longo dos anos. Esta personagem feminina, que não tem nome porque poderia ser qualquer uma de nós, usa o mar e o sol de Jeri para tentar renascer, mas rapidamente descobre que só as outras mulheres podem realmente fazer a diferença na sua sobrevivência.

 

É curioso observar que homens são econômicos ao elogiar mulheres pelas quais eles não têm interesse sexual. Não é comum ver comentários masculinos sobre trabalhos ou performances femininas em perfis ou sites de intelectuais, artistas, cantoras, filósofas, escritoras e afins. Mas esses mesmos homens não perdem tempo em lamber e alimentar o já grande ego uns dos outros nas redes sociais.

 

Gostei muito da forma como este livro está escrito: Lorena Portela escreve com laivos de poesia, ao mesmo tempo que não se inibe de ser crua nas coisas que diz. É uma daquelas escritas que parece muito direta até ao momento em que aparece uma frase cheia de camadas para descobrir. E também gostei bastante das diferentes personagens femininas, estão todas no sítio certo — e não há nenhuma personagem que não cumpra um propósito.

 

Se tiver de apontar um defeito a este livro, é o de ser demasiado curto. Sinto que havia aqui mais espaço para desenvolver a história e para construir ainda melhor a relação que o leitor tem com as diferentes personagens. Também gostava que alguns dos aspetos mais místicos que aparecem no início do livro fossem tendo mais protagonismo, mas é mesmo uma questão de gosto e compreendo a opção da autora.

 

Em resumo: é um daqueles livros que toda e qualquer mulher tem de ler, mais que não seja porque haverá sempre qualquer coisa com que nos podemos identificar. Quem desse lado já leu Primeiro Eu Tive de Morrer?