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Rita da Nova

Qui | 04.04.24

Sinais de Fumo, Alex Couto

Aqui está uma review que estava muito entusiasmada por trazer-vos: a de Sinais de Fumo, de Alex Couto. E não é porque o livro tem uma frase minha na badana, nem porque conheço o Alex há algum tempo — é mesmo porque me diverti muitíssimo a lê-lo e espero que possa acontecer o mesmo convosco.

 

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Sinais de Fumo conta a história de um grupo de amigos que, confrontados com a impossibilidade de a erva chegar ao Bairro do Viso, em Setúbal, decidem ser empreendedores e levar eles a droga até ao bairro. Criam inclusivamente uma startup, a Green, e entram em todo esse mundo do empreendedorismo que invadiu o nosso país ali por volta de 2014/15. O livro passa-se, aliás, durante os tempos da Troika e tem várias referências a essa altura — sobretudo à forma como os interesses políticos sempre se tentaram (e ainda hoje tentam) apropriar de ideias alheias.

 

Ná, tu não tens noção. Quando o bairro tremeu e o fumo acabou, o pessoal do Canto das Sereias ficou bem à toa. Não havia ninguém com uma cinca que não a estivesse a vender por dez, quinze béus. Só por causa das tosses, o Charlie Brown começou a pensar fora da caixa e a tentar fazer as cenas mais a sério, start-up ou lá como eles lhe chamam. O que aconteceu depois disso é que foi bem inesperado ya, surpresa das surpresas.

 

É difícil encaixar o estilo do Alex em caixinhas e acho que é isso que faz deste livro uma experiência tão agradável. Adorei o narrador coletivo, uma espécie de coro que vai narrando as coisas que se passam e que mostra a impossibilidade de largar completamente o bairro — embora consiga ver os acontecimentos com alguma distância, não deixa de estar envolvido na vida daquela comunidade. E isso leva-me a outro dos temas principais deste livro: a reflexão sobre o direito à autodeterminação, principalmente quando falamos de pessoas que nascem em contextos como o que é representado em Sinais de Fumo. Será que o sítio em que nascemos tem mais impacto no nosso futuro do que aquele que gostaríamos?

 

Ainda uma nota para a linguagem: o autor serve-se da gíria de Setúbal para nos puxar para dentro daquele bairro, mas nada temam porque no final há um glossário que explica o significado de todas as expressões que forem encontrando. E, agora, contem-me: já se cruzaram com este livro? Se sim, já faz parte da vossa lista de leituras futuras?