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Rita da Nova

Qui | 07.03.24

A Natureza da Mordida, Carla Madeira

Estava muito entusiasmada para fazer “o pleno” dos livros de Carla Madeira: comecei com Tudo É Rio, passei para Véspera e, por fim, chegou a altura de ler A Natureza da Mordida. Não me interpretem mal, eu continuo a adorar a escrita e as histórias de Carla Madeira, mas houve qualquer coisa nesta que não me arrebatou da mesma forma que, por exemplo, Véspera.

 

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Em A Natureza da Mordida acompanhamos a amizade inusitada entre Biá, uma ex-psicanalista, e Olívia, uma jornalista que sofreu uma perda irreparável. É o facto de partilharem isso mesmo, a perda, que as une. Depois de um primeiro encontro numa livraria em segunda mão, as duas passam a encontrar-se mais vezes e, a cada um desses momentos, vamos tendo a perspetiva das duas — Olívia narra, Biá transmite-nos os seus pensamentos através de anotações que nem sempre seguem uma linha temporal linear.

 

Demorei a entender que não temos que nos desculpar por nosso sofrimento, Biá. Um amor interrompido não é uma dor qualquer. Não é uma dor qualquer ser interditada, impedida de estar com quem amamos justamente por quem amamos. É uma dor cheia de direito.

 

Compreendo porque é que senti mais dificuldade com a escrita deste livro do que com os restantes da autora: as brincadeiras com a memória e com a forma como esquecemos certas coisas são propositadas. Afinal, Biá está a ter dificuldade em recordar certos aspetos da sua vida e baralha outros tantos, enquanto Olívia tenta compreender se não seria melhor esquecer as coisas que lhe aconteceram. Gostei muito das reflexões que o livro proporciona, nomeadamente sobre a forma como organizamos os acontecimentos na nossa cabeça, mas, ainda assim, houve qualquer coisa que me manteve sempre emocionalmente afastada das personagens e da história.

 

É provável que, dando uma oportunidade a este livro, acabem a gostar mais do que eu, por isso não deixem de lhe dar uma oportunidade. Da minha parte, é certo que continuarei a ler tudo o que Carla Madeira publicar. Quem desse lado também gosta de acompanhar esta autora?