Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Rita da Nova

Sex | 29.03.24

A Maldição de Rosas, Diana Pinguicha

Conhecia A Maldição de Rosas, de Diana Pinguicha, e sabia que tinha sido originalmente escrito em inglês apesar de a autora ser portuguesa. E também estava a par de que era um retelling da lenda do milagre das rosas, da Rainha Santa Isabel, mas confesso que não o tinha no meu radar como potencial leitura. Ainda assim, cá veio parar por ser a escolha da Joana para o Clube do Livra-te.

 

maldicao-rosas-diana-pinguicha.JPG

 

No ano de 1288, a fome e a peste atacam o reino de Portugal e a princesa Isabel de Aragão quer salvar o seu povo. Contudo, está demasiado frágil para o fazer: ela é vítima de uma maldição que faz com que tudo o que ela come se transforme em flores. O rei D. Dinis, de quem está noiva, quer à força que ela coma e se afaste dos pobres — e torna-se controlador como consequência disso. À revelia dele, a futura rainha descobre uma Moura Encantada, que está presa há mais de cem anos numa pedra. Fatyan, a Moura, pode ajudá-la a acabar com a maldição, e a única coisa que pede em troca é um beijo.

 

Começando com as partes mais positivas desta leitura, gostei muito de ver uma das nossas lendas levadas para a literatura. Além de ser um retelling, é também um livro com representação sáfica, já que o beijo entre Fatyan e Isabel vai espoletar uma paixão entre as duas, com todas as consequências que isso pode ter dado o contexto. Tendo em conta a nota que a autora escreve no início do livro, as incongruências históricas também não afetaram a minha leitura por aí além. Uma vez que Isabel não consegue comer e acaba por ter uma relação difícil com o ato de se alimentar, não pude deixar de refletir sobre se seria uma forma de falar sobre distúrbios alimentares. 

 

A grande dificuldade que tive prende-se com o desenvolvimento da história: A Maldição de Rosas está dividido em duas partes bastante desequilibradas em termos de ritmo. Embora seja mais curta, a segunda parte tem muito mais enredo e desenvolvimento de personagens. No fundo, senti que a história foi esticada desnecessariamente — poderia muito bem ter sido mais concisa e, como consequência disso, mais apelativa. Tive de me forçar a avançar em certos momentos, mas valeu a pena porque gostei de alguns twists no final.

 

Seja como for, vou ficar atenta a novos livros da autora — e gostava muito de ver como se sairá a escrever em português. E vocês, já leram este livro? O que acharam?

 

----------

O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!

Qui | 28.03.24

QUANDO OS RIOS SE CRUZAM é o meu segundo livro!

Já tinha dado algumas pistas por aqui, dizendo que estava a ultimar o meu segundo romance, e é com uma enorme felicidade que posso dizer que Quando os Rios se Cruzam entrou ontem em pré-venda. Sim, eu sei que provavelmente acompanharam a novidade pelo Instagram, mas também já sabem que este blog é um cantinho que eu gosto de preservar e onde gosto sempre de registar algumas palavras sobre as coisas boas que vão acontecendo na minha vida.

 

QORSC_Estúdio-18.jpg

 

Escrever um segundo livro de ficção foi… intenso? Desafiante? É importante escolher um adjetivo que mostre a montanha-russa de emoções em que estive metida neste último ano. Entrei nesta história em fevereiro de 2023, altura em que começava a divulgar As Coisas Que Faltam — como podem calcular, foi uma confusão de temas e ideias na minha cabeça. Só a partir do verão é que consegui concentrar-me melhor neste livro e passar três semanas em Turim foi essencial para lhe dar um grande avanço.

 

Sempre me interessou muito o papel que os locais têm na construção da nossa identidade, e acho que foi quando fiz Erasmus em Turim que me confrontei com esta questão pela primeira vez. Fez-me sentido explorar uma experiência de Erasmus e falar da cidade onde eu mesma estive, que (in)felizmente não é muito conhecida. Isto não significa que a história da Leonor seja a minha, longe disso, quis apenas mostrar-vos de onde surgiu a ideia.

 

 

Quando os Rios se Cruzam chega às livrarias (e às casas de quem comprar em pré-venda) no dia 17 de Abril. Até lá, estarei pelo Instagram a aguçar a curiosidade sobre vários aspetos da história. Para já, deixo-vos a sinopse:

 

«Durante anos, imaginei o que aconteceria quando contasse tudo isto, quando cravasse a mão no peito para extrair a culpa lá de dentro. E posso concluir que foi como arrancar o meu próprio coração, com a desvantagem de continuar viva.»

Para Leonor, ir de Erasmus significava começar de novo, aqueles meses em Turim seriam o balão de oxigénio de que tanto precisava para se afastar da mãe controladora, talvez até libertar-se da pessoa reservada e observadora que tinha aprendido a ser em casa. Onde ninguém a conhecesse, poderia ser quem quisesse.

Na cidade italiana, ela descobre partes de si que ignorava existirem, muitas delas novas e entusiasmantes. Mas há um outro lado de si que se revela, uma parte que a envergonha e amedronta, atitudes em que não se reconhece e cujas consequências vão ficar consigo para sempre.

Dez anos depois, mais uma vez a adiar o reencontro com o passado, Leonor dá por si a revelar a uma estranha tudo o que aconteceu naqueles meses e de que forma o fogo, até então tão inofensivo, acabou por lhe deixar marcas eternas.

Depois de um romance de estreia que se tornou um sucesso imediato, Rita da Nova está de volta com uma personagem complexa em busca de si própria, que procura conciliar as suas várias versões. Afinal, somos mais nós quando estamos junto das pessoas que nos conhecem ou quando estamos longe de tudo e podemos ser quem quisermos?

 

Se ficaram com vontade de o ler, podem sempre aproveitar a pré-venda nos locais habituais: Bertrand, Wook e Fnac. Mais uma vez tenho de vos agradecer por todo o carinho e entusiasmo neste meu percurso. É graças a vós que posso continuar a publicar as minhas histórias!

----------

As fotografias que acompanham este post foram, mais uma vez, resultado do trabalho feito em conjunto com a Mafalda Beirão (direcção criativa e produção), a Márcia Soares (fotografia) e a Raquel Batalha (maquilhagem). Esta tríade perfeita consegue sempre transformar as minhas ideias em imaginários visuais incríveis.

Ter | 26.03.24

The Storied Life of A.J. Fikry, Gabrielle Zevin

Não é segredo para ninguém que tive uma experiência pouco positiva com Tomorrow, and Tomorrow, and Tomorrow, de Gabrielle Zevin — um livro que pareceu resultar para toda a gente menos para mim. Acreditando que o enredo era grande parte do motivo para não ter gostado, decidi dar uma nova oportunidade à autora. O que é que concluí? Que possivelmente não é mesmo para mim.

 

the-storied-life-aj-fikry-gabrielle-zevin.JPG

 

Mas vamos por partes: The Storied Life of A.J. Fikry conta a história de A.J. Fikry, o maldisposto dono de uma livraria, a única na ilha onde o livro se passa. A.J. mudou-se para lá por causa da mulher, que infelizmente faleceu uns anos depois. A certa altura e mais ou menos ao mesmo tempo: é-lhe roubado um livro muito raro, conhece a nova representante comercial de uma editora e recebe uma “encomenda” muito especial. Estão reunidas as condições para que a vida deste homem mude.

 

Para não vir logo com a apreciação negativa, devo dizer que gostei um pouco mais deste livro do que de Tomorrow, and Tomorrow, and Tomorrow — pelo menos não me pareceu ter tantos problemas de ritmo. A narrativa avança de forma mais ou menos consistente, embora nem sempre seja fácil de compreender os saltos temporais que a autora faz. Também gostei das referências a contos que são feitas no início de cada capítulo e que, de certa forma, acabam por estar relacionadas com o que se vai passar na história.

 

We are not quite novels.
We are not quite short stories.
In the end, we are collected works.

 

Mas, infelizmente, foi mesmo só isso. As personagens — como já tinha sentido com o outro livro — são caricaturas exageradas de um certo tipo de personalidade. Atenção: embora não seja realista e não seja o meu tipo de livro favorito, eu não me importo nada quando as personagens resolvem muito bem os seus problemas e no fim acaba tudo bem. Importo-me, isso sim, quando as personagens e os enredos não têm qualquer tipo de profundidade emocional, quando puxam à lágrima com mecanismos básicos e tontos. É-nos dada muita informação sobre todas estas pessoas, mas nunca me fez realmente querer torcer por nenhuma delas.

 

Tenho de admitir que Gabrielle Zevin não é mesmo para mim. Afinal, se um livro cheio de referências a livros não conseguiu chegar lá, dificilmente outra história dela vai corresponder àquilo que normalmente procuro numa leitura. Ora contem-me lá: já leram este livro? O que acharam?

Sex | 22.03.24

Corte & Costura: as maiores fofocas da nossa realeza, Márcia Pedroso

É errado fazer review do livro de uma das minhas melhores amigas? Talvez fosse, se eu não admitisse de antemão que é, provavelmente, uma opinião um pouco enviesada — não na qualidade do livro, mas no amor que tenho para dar à Márcia. É muito giro viver perto dela porque consigo ter uma visão privilegiada para a forma como o cérebro dela funciona, e para a maneira como as hiperfixações dela se tornam em coisas tão engraçadas quando este Corte & Costura: as maiores fofocas da nossa realeza.

 

corte-e-costura-marcia-pedroso.JPG

 

Trabalhávamos juntas quando a Márcia começou a mergulhar (em apneia mesmo) no mundo das fofocas de reis e rainhas. Daí a criar o podcast Corte & Costura foi um instante, e também não demorou muito até que uma editora achasse que tinha potencial de ser transformado em livro. E é especificamente sobre o livro que vos quero falar: sabem aquele lado da História que não nos é ensinado na escola? Quem dormiu com quem, quem traiu quem, quem fugiu com quem… tudo isso é o centro das fofocas que a Márcia nos conta.

 

Se acham que a História de Portugal e a memória dos nossos reis deve ser colocada num pedestal, então é melhor não lerem este livro — vão ficar chateados e isso faz mal à pele. A Márcia conta, com humor e linguagem dos dias de hoje (incluindo inúmeras referências a memes portugueses) todas essas histórias de traição, masculinidade tóxica, empoderamento feminino, bastardia, chalupice e amor proibido que fizeram parte da nossa corte. Antes que perguntem: sim, todos os episódios aconteceram mesmo, as fontes são credíveis e o livro foi revisto por um historiador.

 

É o livro certo para quem procura uma leitura muito divertida e rápida, mas onde também seja possível aprender algumas coisas. Eu descobri, entre outras coisas, que o D. Sebastião não morreu na batalha de Alcácer-Quibir e que o D. Pedro não amou só a D. Inês de Castro (na realidade, amou muito mais do que mulheres).

 

Contem-me lá: ficaram com vontade de ler a revista cor-de-rosa mais atrasada de Portugal? (COMPREM O LIVRO DA MINHA AMIGA!)

Pág. 1/4