Lei da Gravidade, Gabriela Ruivo
Em 2024 quero muito continuar uma das missões que iniciei no ano passado: a de ler mais mulheres portuguesas. Tinha cá em casa o Lei da Gravidade, da Gabriela Ruivo, e decidi que seria uma das minhas leituras de Janeiro. Estava muito curiosa com este livro porque sabia que era semelhante em algumas coisas ao Enquanto o Fim Não Vem, de que gostei muito.
Também foi a minha estreia na escrita da Gabriela enquanto romancista, que me impressionou desde logo pela capacidade com que consegue expor ideias complexas através de uma linguagem cuidada, sem se apoiar em palavras caras e execuções cheias de rococós. Lei da Gravidade parte de uma questão interessante: é a vida que imita a literatura, ou será o contrário? Leva-nos a conhecer um conjunto de personagens intrigantes, entre as quais estão um velho às portas da morte numa cama de hospital, as amigas Ana Maria e Maria Ana, Marinela e Marina. E há ainda um escritor e uma jornalista, que vão servindo de espinha dorsal ao romance.
Pela quantidade de personagens e pelo formato escolhido para contar esta história — alternando o ponto de vista a cada capítulo —, diria que é um daqueles livros para ler com atenção. Não se deixem enganar pela escrita fluída ou pelos temas atuais, é mesmo necessário tomar sentido a todos os pormenores que a escritora vai deixando — só isso fará com que entendam como é que estas personagens estão relacionadas.
Já mencionei que aborda vários temas atuais, mas importa também referir que, pelo menos para mim, o tema central de Lei da Gravidade é o trauma familiar e a forma como, quer queiramos quer não, se perpetua de geração em geração. Fala, por exemplo, das consequências de crescer sem pai e de violência — uma carga emocional mais pesada que, na minha opinião, deu ainda mais profundidade à história.
Depois disto, fiquei cheia de vontade de ler Uma Outra Voz, um romance vencedor do Prémio LeYa (aliás, o único atribuído a uma mulher até hoje). Quem por aí já conhece a obra da Gabriela?