Medusa, Jessie Burton
Tirando as doze passas, as tradições de passagem de ano/ano novo passam-me um pouco ao lado. Há, ainda assim, um ritual que gosto de manter: o de ler um livro curtinho no primeiro dia do ano. Por isso, calhou muito bem que tivesse comprado Medusa, de Jessie Burton, uns dias antes no aeroporto de Londres — aproveitando assim o belo sticker “buy one, get one half price”.
Estava com algum receio de ficar desiludida com o livro, principalmente depois de ter lido e adorado Stone Blind (PT: O Olhar da Medusa) de Natalie Haynes. Decidi, ainda assim, ir com mente aberta e acabou por ser uma experiência bastante prazerosa. Ao contrário do que acontece em Stone Blind, Jessie Burton escolhe focar a narrativa apenas na perspetiva e história da Medusa, sem dar grande importância às dinâmicas circundantes. Ou seja, acaba por ser também muito mais limitado no tempo: começa quando Medusa conhece Perseu e desenvolve-se apenas através dos diálogos entre os dois.
You see, remembering's a blessing and a curse. You can't erase your bad memories, but a life without regrets is a life unlived. What you remember and how you remember: it makes you who you are. Maybe you have a choice about that, maybe you don't.
O livro dá-nos, claro, o ponto de vista da Medusa e faz-nos empatizar com ela, questionando porque é que a associamos à monstruosidade. Mas, no que diz respeito à reinterpretação mitológica, senti que não acrescenta muito: conta a história mais ou menos como a conhecemos, só altera a lente com que a observamos. Ainda assim, acabo a avaliar a leitura como bastante positiva por causa da escrita: Stone Blind habituou-me a olhar para este mito com sarcasmo — que eu adoro —, mas Jessie Burton convida a que o façamos com emoção e empatia. A escrita é bastante melódica e bonita — e foi este ponto que me deu uma visão nova sobre esta história.
Para terminar, digo que fiquei muito curiosa com outras obras da autora — foi ela quem escreveu O Miniaturista, por exemplo —, mas depois de pesquisar um pouco percebi que não é assim tão consensual. Já leram alguma coisa dela? Se sim, recomendam-me que continue ou deixo passar?