Water, John Boyne
Nutro um carinho enorme por John Boyne enquanto escritor e sei que podia explorar mais a obra dele porque dificilmente me desapontará. Tirando o clássico O Rapaz do Pijama às Riscas, já li A Traveler at the Gates of Wisdom (a minha primeira experiência de sempre no Kobo) e The Heart's Invisible Furies, que é um dos meus livros do coração.
Por isso, quando tive conhecimento de que iria lançar Water, o primeiro de uma tetralogia, soube que quereria lê-lo brevemente. Tinha tanta curiosidade, que fiz dele o meu último livro de 2023 — comprei-o no Kobo, uma vez que no Reino Unido ainda só existe a versão de capa dura e eu prefiro paperback. Mas bom, estou a divagar! Sobre Water: como disse, é o primeiro de quatro livros relacionados com os elementos. Os restantes — Earth, Fire e Air — sairão de seis em seis meses, até Maio de 2025, e é suposto que as histórias possam ser lidas individualmente e em qualquer ordem, apesar de relacionadas. Um pouco como acontece com a tetralogia das estações do ano, de Ali Smith.
Neste primeiro acompanhamos uma mulher, Vanessa Carvin, na sua chegada a uma ilha. Lá, passa a ser Willow Hale: a mudança de nome é indispensável para porque o objetivo dela é passar despercebida e viver isolada. Infelizmente, não consegue fugir do passado como gostaria, uma vez que os escândalos conseguem chegar mesmo aos locais mais remotos. Vanessa/Willow está envolvida num. Ou melhor: o marido está e ela, por consequência, também. Os meses que passará naquela ilha irlandesa serão suficientes para que a protagonista consiga fazer as pazes com a situação? Ou haverá mesmo coisas que não conseguimos perdoar a nós próprios?
Water has been the undoing of me. It has been the undoing of my family. We swim in it in the womb. We are composed of it. We drink it. We are drawn to it throughout our lives, more than mountains, deserts, or canyons. But it is terrible. Water kills.
Este pequeno livro junta duas coisas que adoro: a escrita emocional de John Boyne e toda a ambiência mais obscura da literatura irlandesa. Esta é, aliás, uma característica que o autor consegue imprimir muito bem na personagem principal: Vanessa/Willow é intrigante e, apesar de o livro estar escrito na primeira pessoa, é bastante críptica — dá-nos as informações certas no momento certo, conseguindo sempre manter uma aura de mistério.
Por fim — e sem desenvolver muito o drama em que a personagem principal está envolvida, para não vos estragar a leitura —, gostei muito dos temas que este livro explora. É certo que o luto é o principal, mas agradou-me sobretudo a maneira como são desenvolvidos outros: a culpa, o perdão a nós mesmos, o facto de as mulheres historicamente levarem por tabela quando os homens cometem erros. São poucas páginas (menos de 200), mas Water tem muita densidade e complexidade emocional para explorar.
No final ficamos também a saber qual é a personagem central de Earth, que sairá em Maio deste ano, um extra que eu achei muito interessante e que me deixou muito entusiasmada para continuar a acompanhar esta coleção. Ficaram com vontade de o fazer também?