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Rita da Nova

Sex | 05.01.24

Panenka, Rónán Hession

Se eu achava que acabaria em lágrimas depois de ler a história de um jogador de futebol reformado e caído em desgraça? Não, mas a magia dos livros é mesmo essa, a de nos ligar a histórias que aparentemente nada têm que ver connosco. Panenka, de Rónán Hession, andava debaixo do meu radar há algum tempo, mas nunca o tinha comprado — corta para este Natal, em Londres, quando fui ter com a Fi e ela me disse que queria encontrá-lo. Ao fazê-lo recordou-me dele, juntou-se a coincidência de só haver dois na livraria e lá seguimos as duas felizes.

 

panenka-ronan-hession.JPG

 

Comecei a lê-lo nesse mesmo dia e não consegui parar. Panenka foi um promissor jogador de futebol, mas uma decisão errada mudou o seu destino — agora, aos 50 anos, tem de viver uma vida normal enquanto tenta reconstruir a relação com a filha e criar uma ligação com o neto. Panenka é um homem demasiado reservado, o que faz com que mantenha as terríveis dores de cabeça de que sofre à noite (e a que chama “Máscara de Ferro”) em segredo. Mas o que acontece quando o nosso protagonista conhece Esther, que também está a tentar fugir do seu passado?

 

Este livro está escrito com uma sensibilidade muito tocante, envolve-nos desde a primeira frase com a personagem de Panenka — mesmo que nos apeteça entrar pelas páginas e pedir-lhe que fale com as pessoas da vida dele. Creio que isso só pode significar uma coisa: a história e as suas personagens são reais, erram e tomam decisões idiotas como as pessoas normais e, por isso mesmo, conseguimos empatizar com elas. Gostei mesmo muito de navegar na dinâmica que este conjunto de personagens estabelece entre si: não apenas o núcleo familiar de Panenka ou a relação com Esther, mas até as conversas no café entre os seus frequentadores habituais me mantiveram presa.

 

I’m not scared of that. Loneliness is a torch: it can show you things about yourself.

 

Panenka vive essencialmente da construção das personagens e da maneira como conversam umas com as outras, pelo que devem dar-lhe uma oportunidade se este for o vosso tipo de livro. Tem, ainda assim, várias reflexões interessantes sobre solidão, sobre a necessidade de nos fecharmos para que as coisas más que existem dentro de nós não transbordem para os outros, sobre qual é o nosso valor quando deixamos de fazer aquilo em que somos bons.

 

A melhor forma que tenho de o descrever é a seguinte: imaginem uma espécie de crossover entre o documentário Welcome to Wrexham e a aura irlandesa dos livros da Sally Rooney. Fiquei muito rendida à escrita de Rónán Hession e tenho a certeza de que lerei outras coisas dele — Leonard and Hungry Paul é o primeiro romance do autor e também é bastante aclamado.

 

Já tinham ouvido falar do autor ou do livro? Contem-me tudo nos comentários.