Os melhores livros de 2023
Como as tradições são para se manter, continuo a encerrar os posts sobre as melhores coisas do ano com os livros. Tenho sempre medo de fazer estas listas muito cedo, porque pode haver sempre um favorito à espreita nos últimos dias do ano — este ano aconteceu, mas para isso terão de chegar ao fim deste post. Juro que não é clickbait, é só mesmo porque, antes disso, quero deixar algumas palavrinhas sobre o meu ano enquanto leitora.
Sinto que estou cada vez mais exigente com as histórias que leio, talvez por ter passado (e continuar a passar) pelo processo de escrita e de edição de um livro. Parece que já não consigo receber uma narrativa sem tentar ler um pouco mais nas entrelinhas, sem tentar perceber se aquela era a melhor forma de contar a história ou se haveria pontos a ajustar. De qualquer das formas, foi um ano de excelentes leituras e, mais uma vez, ler vários destes livros com a comunidade do Livra-te no Discord ajudou a que criasse uma ligação ainda maior com eles. Também foi o ano em que li mais autoras portuguesas e em que fiz um esforço por ler, de uma vez por todas, livros que estavam parados cá em casa — em geral, estou muito satisfeita com o resultado destas duas iniciativas.
Não vos faço esperar mais: apresento-vos, sem qualquer ordem em particular, os dez melhores livros de 2023 para mim:
1. Hello Beautiful, Ann Napolitano
“Além de tudo isto, que qualquer pessoa poderia dizer depois de ler Hello Beautiful, tenho a certeza que a minha opinião foi influenciada pela minha própria experiência familiar. Apesar de não ser um reflexo total daquilo que são as minhas dinâmicas familiares, reconheci muito de mim nesta história, nestas personagens, nestas ligações. Espero que encontrem também, caso decidam ler este livro — POR FAVOR, LEIAM.”
Podem ler a minha opinião completa em:
> Hello Beautiful, Ann Napolitano
2. A História de Roma, Joana Bértholo
“Joana Bértholo leva-nos pelas ruas de Buenos Aires, de Lisboa, de Berlim, de Marselha e de Beirute, ao mesmo tempo que nos mostra como é que essas cidades tiveram influência na relação entre estas duas personagens ou o contrário, até — como é que eles vivenciaram estes locais tendo em conta o estado da relação naquele momento. É um livro sobre a maneira como construímos as memórias e as nossas versões dos acontecimentos, e sobre o que acontece quando confrontamos as nossas recordações com as dos outros.”
Podem ler a minha opinião completa em:
> A História de Roma, Joana Bértholo
3. Foster, Claire Keegan
“Mais do que ter um enredo super detalhado — até porque o formato acaba por estar mais próximo de um conto —, este livrinho está escrito de uma forma tão bonita, simultaneamente triste e enternecedora, que estive à beira das lágrimas várias vezes. Claire Keegan consegue materializar as emoções da personagem principal de uma forma humana, que eu dei por mim a querer abraçá-la a cada parágrafo.”
Podem ler a minha opinião completa em:
> Foster, Claire Keegan
4. The Wolf Den, Elodie Harper
“Além de Amara, há outras escravas sexuais pertencentes ao Covil, como Vitoria, Dido e Cressa, que acompanhamos à medida que Amara começa a tentar trilhar um caminho rumo à liberdade. Cada uma destas mulheres tem uma história e isso vai sendo também desvendado através da forma como se relacionam. A forma como a autora explorou as relações destas mulheres foi, provavelmente, a parte de que gostei mais nesta leitura. As personagens não são apenas boas ou más, tomam decisões porque precisam de sobreviver, e isso reflecte-se na dinâmica que existe entre elas, entre elas e as mulheres de outros bordéis, entre elas e os homens.”
Podem ler a minha opinião completa em:
> The Wolf Den, Elodie Harper
5. Almond, Won-Pyung Sohn
“Não vos consigo explicar o quão delicado e bonito é este livro — desde a forma como está escrito, à maneira como nos faz viver os acontecimentos de um ponto-de-vista que, à partida, não será natural para nós. Emocionei-me várias vezes com as demonstrações de amor da mãe e da avó, com o esforço que Yunjae faz para ser uma pessoa “normal”, com a lição de empatia que esta história nos dá.”
Podem ler a minha opinião completa em:
> Almond, Won-Pyung Sohn
6. The Invisible Life of Addie LaRue, V. E. Schwab
“Sei perfeitamente que estabeleci uma relação completamente emocional com este livro, e que é provável que nem toda a gente goste tanto dele quanto eu, mas quero bem é que essas pessoas guardem as suas reviews menos boas num saquinho com pedras e atirem ao rio. The Invisible Life of Addie LaRue tocou em vários temas sobre os quais eu gosto de ler, como o luto e a depressão, e fê-lo de uma forma tão bonita, que não há como não gostar dele. É um livro sobre as marcas que deixamos no mundo, mas, acima de tudo, sobre a importância de realmente deixarmos algo de nós quando já não estivermos cá.”
Podem ler a minha opinião completa em:
> The Invisible Life of Addie LaRue, V. E. Schwab
7. Our Wives Under the Sea, Julia Armfield
“O livro é bastante curto, mas Julia Armfield conseguiu a proeza de me fazer conhecer verdadeiramente aquelas duas personagens. Senti-me preocupada, emocionei-me, quis saber mais sobre o que fez com que Leah regressasse naquele estado. E, ao mesmo tempo, ajudou-me a fazer paralelismos entre situações da minha vida, a compreender melhor algumas das minhas pessoas. E eu acho que isto é o maior elogio que posso fazer a este livro.”
Podem ler a minha opinião completa em:
> Our Wives Under the Sea, Julia Armfield
8. On Writing, Stephen King
“Senti-me bastante validada em algumas das minhas opiniões e métodos de trabalho, nomeadamente na ideia de que um livro não se escreve apenas à base de inspiração, é preciso muito trabalho e uma rotina de escrita que seja constante. Por outro lado, sinto que aprendi várias coisas com os ensinamentos e experiências de Stephen King — mesmo não adorando o produto final dos livros dele, senti uma ligação muito forte com a sua postura no meio literário e editorial.”
Podem ler a minha opinião completa em:
> On Writing, Stephen King
9. Tom Lake, Ann Patchett
“A escrita de Ann Patchett é tão melódica (e voz de Meryl Streep tão hipnotizante), que somos inevitavelmente transportados para aquela quinta do Michigan, como se estivéssemos também ali, a apanhar cerejas e a ouvir a personagem a falar. Posso dizer, com muita certeza, que Tom Lake vai para a lista de favoritos do ano — a história e a forma como está pensada, as personagens e as reflexões. Até poderá ter um ritmo mais lento, mas a verdade é que isso também ajuda a construir a maneira como vivemos naqueles primeiros meses de confinamento, quando parecia que tínhamos muito mais tempo nas nossas mãos.”
Podem ler a minha opinião completa em:
> Tom Lake, Ann Patchett
10. Babel, R. F. Kuang
“Nunca tinha lido nada da autora, mas sabia que as obras dela são todas bastante políticas, pelo que as críticas ao Império colonialista e aos processos do pós-colonialismo não me surpreenderam. Na minha opinião, esse posicionamento assertivo é uma das forças deste livro — aqui fala-se de racismo, de abuso, de dinâmicas de poder, de revolução e de revolta. E, ao mesmo tempo, fala-se muito da importância da linguagem e da tradução. Honestamente, podia ficar horas a ler todas as reflexões que a autora faz sobre como a tradução é sempre um ato de traição, sobre etimologia e o poder das palavras.”
Podem ler a minha opinião completa em:
> Babel, R. F. Kuang
Este ano, ao contrário do habitual, não consigo terminar esta lista sem algumas menções honrosas: Mãe, Doce Mar, de João Pinto Coelho, Nightcrawling, de Leila Mottley, Esquecidos de Domingo, de Valérie Perrin, e Panenka, de Rónán Hession. Este último é claramente um dos favoritos do ano, mas li-o há tão pouco tempo que não tenho ainda opinião publicada aqui no blog. Brevemente, prometo! 🤞
Se tiverem interesse em ouvir-me falar um pouco mais sobre alguns dos livros desta lista, bem como em saber quais as minhas piores leituras do ano, podem sempre saltar deste post para o episódio de Livra-te desta semana:
E se tiverem curiosidade, aqui ficam as melhores leituras do ano passado. Antes de ir embora, quero muito saber quais foram os vossos favoritos — algum destes livros de que falei aqui faz parte da vossa lista?