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Rita da Nova

Sex | 29.12.23

Os melhores livros de 2023

Como as tradições são para se manter, continuo a encerrar os posts sobre as melhores coisas do ano com os livros. Tenho sempre medo de fazer estas listas muito cedo, porque pode haver sempre um favorito à espreita nos últimos dias do ano — este ano aconteceu, mas para isso terão de chegar ao fim deste post. Juro que não é clickbait, é só mesmo porque, antes disso, quero deixar algumas palavrinhas sobre o meu ano enquanto leitora.

 

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Sinto que estou cada vez mais exigente com as histórias que leio, talvez por ter passado (e continuar a passar) pelo processo de escrita e de edição de um livro. Parece que já não consigo receber uma narrativa sem tentar ler um pouco mais nas entrelinhas, sem tentar perceber se aquela era a melhor forma de contar a história ou se haveria pontos a ajustar. De qualquer das formas, foi um ano de excelentes leituras e, mais uma vez, ler vários destes livros com a comunidade do Livra-te no Discord ajudou a que criasse uma ligação ainda maior com eles. Também foi o ano em que li mais autoras portuguesas e em que fiz um esforço por ler, de uma vez por todas, livros que estavam parados cá em casa — em geral, estou muito satisfeita com o resultado destas duas iniciativas.

 

Não vos faço esperar mais: apresento-vos, sem qualquer ordem em particular, os dez melhores livros de 2023 para mim:

 

1. Hello Beautiful, Ann Napolitano

“Além de tudo isto, que qualquer pessoa poderia dizer depois de ler Hello Beautiful, tenho a certeza que a minha opinião foi influenciada pela minha própria experiência familiar. Apesar de não ser um reflexo total daquilo que são as minhas dinâmicas familiares, reconheci muito de mim nesta história, nestas personagens, nestas ligações. Espero que encontrem também, caso decidam ler este livro — POR FAVOR, LEIAM.”

 

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Podem ler a minha opinião completa em:
> Hello Beautiful, Ann Napolitano

 

 

2. A História de Roma, Joana Bértholo

“Joana Bértholo leva-nos pelas ruas de Buenos Aires, de Lisboa, de Berlim, de Marselha e de Beirute, ao mesmo tempo que nos mostra como é que essas cidades tiveram influência na relação entre estas duas personagens ou o contrário, até — como é que eles vivenciaram estes locais tendo em conta o estado da relação naquele momento. É um livro sobre a maneira como construímos as memórias e as nossas versões dos acontecimentos, e sobre o que acontece quando confrontamos as nossas recordações com as dos outros.”

 

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Podem ler a minha opinião completa em:
> A História de Roma, Joana Bértholo

 

 

3. Foster, Claire Keegan

“Mais do que ter um enredo super detalhado — até porque o formato acaba por estar mais próximo de um conto —, este livrinho está escrito de uma forma tão bonita, simultaneamente triste e enternecedora, que estive à beira das lágrimas várias vezes. Claire Keegan consegue materializar as emoções da personagem principal de uma forma humana, que eu dei por mim a querer abraçá-la a cada parágrafo.”

 

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Podem ler a minha opinião completa em:
> Foster, Claire Keegan

 

 

4. The Wolf Den, Elodie Harper

“Além de Amara, há outras escravas sexuais pertencentes ao Covil, como Vitoria, Dido e Cressa, que acompanhamos à medida que Amara começa a tentar trilhar um caminho rumo à liberdade. Cada uma destas mulheres tem uma história e isso vai sendo também desvendado através da forma como se relacionam. A forma como a autora explorou as relações destas mulheres foi, provavelmente, a parte de que gostei mais nesta leitura. As personagens não são apenas boas ou más, tomam decisões porque precisam de sobreviver, e isso reflecte-se na dinâmica que existe entre elas, entre elas e as mulheres de outros bordéis, entre elas e os homens.”

 

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Podem ler a minha opinião completa em:
> The Wolf Den, Elodie Harper

 

 

5. Almond, Won-Pyung Sohn

“Não vos consigo explicar o quão delicado e bonito é este livro — desde a forma como está escrito, à maneira como nos faz viver os acontecimentos de um ponto-de-vista que, à partida, não será natural para nós. Emocionei-me várias vezes com as demonstrações de amor da mãe e da avó, com o esforço que Yunjae faz para ser uma pessoa “normal”, com a lição de empatia que esta história nos dá.”

 

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Podem ler a minha opinião completa em:
> Almond, Won-Pyung Sohn

 

 

6. The Invisible Life of Addie LaRue, V. E. Schwab

“Sei perfeitamente que estabeleci uma relação completamente emocional com este livro, e que é provável que nem toda a gente goste tanto dele quanto eu, mas quero bem é que essas pessoas guardem as suas reviews menos boas num saquinho com pedras e atirem ao rio. The Invisible Life of Addie LaRue tocou em vários temas sobre os quais eu gosto de ler, como o luto e a depressão, e fê-lo de uma forma tão bonita, que não há como não gostar dele. É um livro sobre as marcas que deixamos no mundo, mas, acima de tudo, sobre a importância de realmente deixarmos algo de nós quando já não estivermos cá.”

 

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Podem ler a minha opinião completa em:
> The Invisible Life of Addie LaRue, V. E. Schwab

 

 

7. Our Wives Under the Sea, Julia Armfield

“O livro é bastante curto, mas Julia Armfield conseguiu a proeza de me fazer conhecer verdadeiramente aquelas duas personagens. Senti-me preocupada, emocionei-me, quis saber mais sobre o que fez com que Leah regressasse naquele estado. E, ao mesmo tempo, ajudou-me a fazer paralelismos entre situações da minha vida, a compreender melhor algumas das minhas pessoas. E eu acho que isto é o maior elogio que posso fazer a este livro.”

 

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Podem ler a minha opinião completa em:
> Our Wives Under the Sea, Julia Armfield

 

 

8. On Writing, Stephen King

“Senti-me bastante validada em algumas das minhas opiniões e métodos de trabalho, nomeadamente na ideia de que um livro não se escreve apenas à base de inspiração, é preciso muito trabalho e uma rotina de escrita que seja constante. Por outro lado, sinto que aprendi várias coisas com os ensinamentos e experiências de Stephen King — mesmo não adorando o produto final dos livros dele, senti uma ligação muito forte com a sua postura no meio literário e editorial.”

 

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Podem ler a minha opinião completa em:
> On Writing, Stephen King

 

 

9. Tom Lake, Ann Patchett

“A escrita de Ann Patchett é tão melódica (e voz de Meryl Streep tão hipnotizante), que somos inevitavelmente transportados para aquela quinta do Michigan, como se estivéssemos também ali, a apanhar cerejas e a ouvir a personagem a falar. Posso dizer, com muita certeza, que Tom Lake vai para a lista de favoritos do ano — a história e a forma como está pensada, as personagens e as reflexões. Até poderá ter um ritmo mais lento, mas a verdade é que isso também ajuda a construir a maneira como vivemos naqueles primeiros meses de confinamento, quando parecia que tínhamos muito mais tempo nas nossas mãos.”

 

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Podem ler a minha opinião completa em:
> Tom Lake, Ann Patchett

 

 

10. Babel, R. F. Kuang

“Nunca tinha lido nada da autora, mas sabia que as obras dela são todas bastante políticas, pelo que as críticas ao Império colonialista e aos processos do pós-colonialismo não me surpreenderam. Na minha opinião, esse posicionamento assertivo é uma das forças deste livro — aqui fala-se de racismo, de abuso, de dinâmicas de poder, de revolução e de revolta. E, ao mesmo tempo, fala-se muito da importância da linguagem e da tradução. Honestamente, podia ficar horas a ler todas as reflexões que a autora faz sobre como a tradução é sempre um ato de traição, sobre etimologia e o poder das palavras.”

 

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Podem ler a minha opinião completa em:
> Babel, R. F. Kuang

 

 

Este ano, ao contrário do habitual, não consigo terminar esta lista sem algumas menções honrosas: Mãe, Doce Mar, de João Pinto Coelho, Nightcrawling, de Leila Mottley, Esquecidos de Domingo, de Valérie Perrin, e Panenka, de Rónán Hession. Este último é claramente um dos favoritos do ano, mas li-o há tão pouco tempo que não tenho ainda opinião publicada aqui no blog. Brevemente, prometo! 🤞

 

Se tiverem interesse em ouvir-me falar um pouco mais sobre alguns dos livros desta lista, bem como em saber quais as minhas piores leituras do ano, podem sempre saltar deste post para o episódio de Livra-te desta semana:

 

E se tiverem curiosidade, aqui ficam as melhores leituras do ano passado. Antes de ir embora, quero muito saber quais foram os vossos favoritos — algum destes livros de que falei aqui faz parte da vossa lista?

Ter | 26.12.23

Os Esquecidos de Domingo, Valérie Perrin

Valérie Perrin tornou-se um nome incontornável em pouquíssimo tempo. Depois de me ter apaixonado por A Breve Vida das Flores (eu e meio mundo), jurei que leria todos os livros da autora que fossem traduzidos para português. Li Três no início deste ano e não esperava que Os Esquecidos de Domingo chegasse ainda em 2023 — mas ainda bem que chegou.

 

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Justine tem vinte e dois anos e mora com o primo Jules e os avós desde muito pequena, quando os pais e os tios faleceram num acidente de automóvel. A protagonista desta história trabalha num lar de idosos, As Hortênsias, onde passa os seus dias a tomar conta dos residentes e adora ouvir as suas histórias. Justine e Hélène criam uma ligação especial e é a partir daí que começamos a saber mais sobre o passado das duas.

 

Valérie Perrin consegue retratar muitíssimo bem estas dinâmicas familiares: os segredos, os encobrimentos, as meias-palavras. E, igualmente, a forma como tudo isto pode ruir — basta que os acontecimentos se alinhem e alguém comece a vasculhar no passado. Gostei bastante das personagens deste livro: a voz de Justine e a relação que tem com todos os outros é muito bem desenvolvida. Acho que, por isso, se tornou o meu segundo favorito da autora, a seguir a A Breve Vida das Flores.

 

Ao contrário dos outros dois livros, que têm histórias mais elaboradas e desenvolvidas, Os Esquecidos de Domingo é um livro mais curto. Tem, ainda assim, tudo o que é preciso para que esta história seja contada. Fiquei mesmo muito satisfeita por confirmar, uma vez mais, que Valérie Perrin é uma das minhas autoras favoritas. Já tiveram oportunidade de ler este livro? Qual é o vosso favorito desta escritora?

Sex | 22.12.23

As melhores surpresas de 2023

Chegámos a mais uma sexta-feira — e isso é sinónimo de mais um post de balanço das melhores coisas do ano. Pensar naquilo que mais me surpreendeu é sempre mais difícil do que os restantes temas e todos os anos penso que devia acabar com esta categoria. Mas, depois, começo a puxar pela cabeça e sinto que seria injusto não falar destes acontecimentos que pontuaram o meu ano.

 

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Dessa forma, e com a nota habitual de que as apresento sem qualquer ordem em especial, aqui ficam as melhores surpresas de 2023:

 

1. O Clube das Mulheres Escritoras

Quando, em Março deste ano, recebi um convite da Filipa para integrar este grupo, não esperava ter tantas coisas boas em troca. A partilha de conhecimento e a rede de apoio que se criou é de uma generosidade enorme e acredito mesmo que vamos continuar a espalhar as palavras escritas por mulheres. Acompanhem-nos no nosso Instagram e subscrevam as nossas newsletters para irem estando a par do que escrevemos, de novos livros, dos eventos, etc.

 

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Também podem ler o que já escrevi sobre o Clube:
> Clube das Mulheres Escritoras

 

 

2. Ter voltado a Turim

Tive a oportunidade de regressar a Turim, a minha cidade de Erasmus e uma das minhas favoritas do mundo, e estar três semanas escrever partes do meu novo livro. E aquilo que mais me surpreendeu foi o facto de a vida por lá continuar praticamente igual — foi muito bom reencontrar um sítio onde as lojas ainda ocupam os mesmos espaços, as pessoas têm os mesmos hábitos, as ruas permanecem como me recordo. Espero ter conseguido trazer um pouco de tudo isto para as páginas que escrevi.

 

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3. O meu processo de escrita

Por falar em escrever: com As Coisas Que Faltam, o meu primeiro livro de ficção, achei que tinha encontrado um processo criativo e um método de escrita que funcionavam extremamente bem para mim. Depois veio o segundo, tentei aplicar tudo o que aprendi e percebi que nada funcionava. Ou seja: lá fui eu tentar encontrar novos hábitos e novas formas de trabalhar. Está visto que cada livro terá o seu processo — e fico feliz de o ter compreendido logo à segunda tentativa.

 

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4. Consegui bilhetes para a The Eras Tour

Nunca omiti a minha paixão por Taylor Swift e sabia que a corrida aos bilhetes para a tour europeia, que começará no próximo ano, ia ser complicada. Depois de bastante planeamento e de usar parte do meu tempo para estar em filas de venda de bilhetes, vou poder vê-la em mais de uma cidade. Isso significa que, para o ano, conseguirei juntar duas das coisas de que mais gosto: ver música ao vivo e viajar.

 

 

5. Leituras mais conscientes

Este ano fui sendo cada vez mais consciente nas minhas leituras e, consequentemente, na compra de livros. Bem sei que ler livros e comprar livros são dois hobbies completamente diferentes — e eu nem sempre consigo controlar o impulso de comprar livros (físicos ou e-books) que sei, conscientemente, que só vou conseguir ler muito tempo depois. Comecei a fazer o esforço de dar prioridade aos livros que já tinha em casa e posso dizer que consegui ler vários que estavam à minha espera há bastante tempo. Da mesma forma, e pelo contacto quase diário com o Clube das Mulheres Escritoras, diria que foi o ano em que voltei a ler mais autoras portuguesas.

 

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Quais foram as coisas que mais vos surpreenderam este ano? Quero saber!

Qui | 21.12.23

A Day in the Life of Abed Salama, Nathan Thrall

A Day in the Life of Abed Salama (PT: Um Dia na Vida de Abed Salama), de Nathan Thrall, tinha-me passado completamente ao lado e, de repente, comecei a vê-lo um pouco por todo o lado. É bastante recente e afirma-se como a anatomia de uma tragédia em Jerusalém — como podem compreender, é uma história bastante atual, o que justifica que esteja a ser bastante lida.

 

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Embora o título se refira a um dia na vida de Abed Salama, acabamos por acompanhar este homem e a sua família ao longo de cerca de 50 anos. Começamos, porém, no presente, quando Milad Salama, o filho de cinco anos de Abed, está entusiasmado com uma visita de estudo a um parque temático nos arredores de Jerusalém. Não demora muito até que o pai tenha conhecimento de um acidente entre os autocarros da escola e um camião — as crianças são levadas para diferentes hospitais e Abed Salama tem de tentar encontrar o filho. O problema? É palestiniano e está em território israelita.

 

Enquanto faz tudo o que pode para descobrir o paradeiro do filho, Abed questiona-se acerca do que terá feito para merecer este destino — não apenas a desgraça que se abateu sobre ele e o filho, mas toda a miséria que advém de ser palestiniano. Ao relatar a história de Abed Salama, Nathan Thrall consegue dar-nos uma visão bastante compreensiva do conflito israelo-palestino nas últimas décadas — e a parte mais curiosa é que nem sequer menciona os acontecimentos mais recentes, uma vez que o livro foi publicado dias antes.

 

É uma história bastante triste, mas necessária para que possamos entender as consequências que este conflito tem nas pessoas reais: nas mulheres, nos homens e nas crianças que nasceram neste contexto e que se habituaram desde cedo a sobreviver em condições desumanas, em perigo constante, sem real controlo sobre as consequências que os acidentes podem ter nas suas vidas.

 

Quando pensarem que tudo isto é demasiada tragédia numa história só, lembrem-se que Nathan Thrall conta uma história real — A Day in the Life of Abed Salama é uma peça jornalística longa e que só quatro nomes é que foram ficcionados. Contem-me: ficaram com vontade de conhecer este livro?

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