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Rita da Nova

Sex | 17.11.23

Pequena Coreografia do Adeus, Aline Bei

Gosto muito de acompanhar as novidades de autoras brasileiras a que as editoras portuguesas vão dando destaque — tanto a Infinito Particular como a Tinta-da-China têm trazido livros muito bons. Estava, por isso, bastante curiosa com A Pequena Coreografia do Adeus, de Aline Bei, sobre o qual já tinha ouvido falar muitíssimo bem.

 

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Em Pequena Coreografia do Adeus acompanhamos Julia que, filha de um casamento destruído, acabou por crescer num ambiente familiar difícil, sem afeto. A mãe é uma mulher amargurada pelo fim da relação e o pai é um homem calado, que não se impõe e acaba por se afastar da filha para conseguir separar-se de vez da ex-mulher. Aline Bei vai construindo esta personagem entre a infância e o início da idade adulta, com a dinâmica familiar sempre latente — quase como se fosse o pano de fundo da vida de Julia.

 

Tive realmente pena de ler o livro tão depressa: gostei muito da escrita da autora — é muito melódica —, tem imagens e reflexões muito bonitas também. Gostava de ter continuado a acompanhar Julia, mesmo depois do evento que serve de final ao livro, porque senti mesmo uma ligação bonita com ela e com as restantes personagens secundárias que, de certa forma, começam a compor o cenário quando chega a altura de ela sair da casa dos pais.

 

por que será que os estranhos sempre nos pesam menos? talvez por serem terra desconhecida, é o que abre espaço para a nossa imaginação. fulano deve ser ótimo, pensamos e as respostas ficam em suspenso amamos a possibilidade de a pessoa ser exatamente aquilo que projetamos nela. os estranhos não nos doem porque ainda não nos decepcionaram e se mantivermos tudo a uma boa distância: seguirão sendo essa doce incógnita.

 

Aline Bei escreve prosa em formato de poesia e brinca muito com a formatação da página. Por exemplo: torna as letras maiores ou mais pequenas para dar ênfase a certas partes e utiliza o espaçamento e a pontuação de forma criativa. Ao início achei muito interessante, mas confesso que começou a ser um pouco cansativo a certa altura — é que a escrita da autora já é tão bonita, que eu sinto que estes artifícios acabam por distrair da mensagem. Acho que é uma coisa muito pessoal porque a maioria das pessoas adora e também sei que fiquei com vontade de ler O Peso do Pássaro Morto — apesar de saber que é escrito no mesmo formato.

 

Para finalizar, contem-me: já leram algo de Aline Bei? E que autores brasileiros me recomendariam?