All My Rage, Sabaa Tahir
Não há melhor selo de aprovação para um livro do que ver amigos nossos a lê-lo e a adorar. Foi isso mesmo que me aconteceu com All My Rage, de Sabaa Tahir: estava na Madeira com a minha amiga Sofia (oiiii! 🙋♀️) enquanto ela devorava este livro e soube que quereria incluí-lo na minha pilha de próximas leituras. Claro que demorou um pouco até lá chegar, mas finalmente peguei nele e, tal como ela, adorei.
Antes de mais, precisam de saber que este livro está classificado como young adult, mas lê-se perfeitamente como uma ficção mais adulta. É uma história contada a três vozes: Sal e Noor, que são dois adolescentes paquistaneses a viver na Califórnia, e Misbah, que é a mãe de Sal. Enquanto Misbah nos leva numa viagem ao passado, entre os dias no Paquistão e a mudança para os Estados Unidos, Sal e Noor transportam-nos para o presente. Ambos têm situações familiares complicadas: enquanto Sal tenta lidar com a doença da mãe e o alcoolismo do pai, Noor tem de viver com o tio que lhe salvou a vida, mas que está a querer prejudicar-lhe o futuro.
I’ll survive this. I’ll live. But there’s a hole in me, never to be filled. Maybe that’s why people die of old age. Maybe we could live forever if we didn’t love so completely. But we do. And by the time old age comes, we’re filled with holes, so many that it’s too hard to breathe. So many that our insides aren’t even ours anymore. We’re just one big empty space, waiting to be filled by the darkness. Waiting to be free.
Sal e Noor parecem destinados a ser a companhia um do outro — são mais do que amigos, embora nem sempre queiram a mesma coisa ao mesmo tempo. Ou seja, temos aqui uma pequena parte do enredo dedicada ao romance, mas este livro é sobre muito mais do que isso: é sobre perda e luto, sobre batalharmos pelas coisas que queremos mesmo quando tudo está contra nós, sobre termos de crescer demasiado depressa. É sobre curar traumas que estão enraízados e, acima de tudo isso, sobre a raiva que é tão própria da adolescência e que pode ser exacerbada consoante o contexto em que vivemos.
Sabaa Tahir desenvolveu muito bem estas duas personagens, as suas vozes e características. Fê-lo tão bem que estive o tempo todo a torcer por elas e a sentir que poderiam muito bem ser reais. Apesar de serem adolescentes e de ser um livro escrito para um público mais jovem, em momento algum senti que foi infantilizado — o que só me fez gostar mais dele. Além disso, deu-me a conhecer o belíssimo poema The Art of Losing, de Elizabeth Bishop, que podem conhecer nesta página.
Sei que a autora é mais conhecida pelos livros de fantasia e que um deles — Uma Chama Entre as Cinzas — está traduzido para português. Fico à espera que este também seja, para que possa chegar a mais pessoas. Por falar nisso: já o leram?