Nightcrawling, Lelia Mottley
Adiei a leitura de Nightcrawling durante algum tempo, uma vez que já tinha ouvido várias pessoas falar muito bem dele. Então, para não me desiludir, decidi dar um compasso de espera. Fiz muitíssimo bem — ou então o livro seria sempre bom, independentemente da altura em que fosse lido, já que o posso considerar uma das melhores leituras do ano.
Passado em Oakland, conta a história de Kiara, uma jovem que se vê sozinha e responsável por si e pelo irmão, depois de ter perdido quase toda a família (uns morreram, outros foram presos). Embora seja mais nova do que o Marcus, Kiara sente o peso de ter de garantir que conseguem pagar a renda do apartamento onde vivem. Anda em busca de vários trabalhos que ajudem a sobreviver de dia para dia, até que encontra uma forma de subsistência que, não sendo aquilo que quer, é aquilo de que precisa. Kiara passa então a ser prostituta, sem esperar que o seu destino fique nas mãos da polícia de Oakland. Vê-se envolvida num escândalo e o resto é a história do livro, que eu não vou explorar mais para não estragar.
Mama used to tell me that blood is everything, but I think we’re all out here unlearning that sentiment, scraping our knees and asking strangers to patch us back up.
A melhor forma que eu tenho de descrever este livro é que me deu a sensação de ser um cruzamento entre a série Euphoria e a música Blue Lights, da Jorja Smith — se conhecem e gostam de ambos, certamente que é a leitura certa para vocês. As personagens estão todas muito bem desenvolvidas, são todas pessoas que poderiam perfeitamente existir, uma vez que têm camadas e cometem erros. E os acontecimentos que a autora relata são todos verosímeis, não há aqui nada que não pudesse acontecer na sociedade que é retratada em Nightcrawling.
Embora toda a história e contexto sejam bastante pesados, a escrita de Lelia Mottley traz uma grande sensibilidade e uma dimensão poética, duas coisas que podemos não associar a estas temáticas. Sendo esta a sua estreia em ficção — e tendo em conta que tem apenas 21 anos —, escusado será dizer que fico com muita vontade de ler mais coisas dela. Ficaram com vontade de conhecer a escrita dela, também?