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Rita da Nova

Seg | 14.08.23

Natureza Urbana, Joana Bértholo

Tinha dois livros de Joana Bértholo em casa — A História de Roma e Ecologia —, mas foi preciso ir até à Figueira da Foz (para uma sessão de autógrafos do meu As Coisas Que Faltam) para trazer o conto Natureza Urbana comigo e lê-lo de uma assentada. Algo me dizia que iria gostar muito da escrita e das ideias da autora e não desapontou.

 

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Neste conto, Joana Bértholo apresenta-nos uma mulher sem nome, que respode à pergunta: “como é que vim aqui parar?”. Esta é, de uma forma simplificada, a premissa do livro — temos uma narradora que nos leva pela sua vida, pela relação com a mãe, pela relação com os outros, pela relação com a cidade. Só mesmo no final descobrimos onde é que aquela mulher foi parar afinal, além do percurso todo que fez para lá chegar.

 

Guardei a nostalgia pela mãe que ela nunca soube ser, e habituei-me à companhia dos meus sentimentos mais soturnos como de um gatinho que aquece o colo e não exige demasiado. Uma tristeza que ronrona.

 

São cerca de 60 páginas cheias de reflexões acerca da nossa própria relação com o sítio em que vivemos — não apenas as cidades, mas a sociedade em que nos inserimos. Qual é a nossa verdadeira natureza e como é que esta consegue conviver com as nossas estruturas urbanas? Claro que podemos apreciar o livro por este conjunto de observações mais gerais, mas também podemos interessar-nos pelos pensamentos mais intimistas. Eu, por exemplo, como não poderia deixar de ser, gostei bastante da dinâmica desta personagem com a mãe, tanto antes como depois de a perder.

 

Diria que é uma excelente porta de entrada para o estilo de Joana Bértholo e para as mensagens que quer passar através dos seus livros. Brevemente vou ler A História de Roma, do qual já ouvi opiniões muito diferentes — se a escrita for semelhante à de Natureza Urbana, tenho a certeza de que vou adorar. E vocês, já leram alguma coisa desta autora? Se sim, o que têm a dizer?