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Rita da Nova

Sex | 23.06.23

Snowflake, Louise Nealon

A Joana já me tinha falado várias vezes de Snowflake, de Louise Nealon, como um livro de que eu provavelmente iria gostar. Comprei-o no Kobo por menos de 2€ assim que apanhei uma boa promoção e, meses mais tarde, acabei por trazê-lo da INDIE not a bookshop em Cascais. Passaram-se ainda uns meses até que o colocasse finalmente na minha lista mensal de livros a ler — um esquema que estou a adoptar para dar mais facilmente vazão aos livros que estão há demasiado tempo por ler.

 

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E hoje cá estou, a dar-vos a minha opinião sobre este livro, que é várias vezes comparado com o estilo de Sally Rooney, uma das minhas autoras favoritas. Estamos perante uma história coming of age: Debbie tem dezoito anos, mora numa quinta na Irlanda rural e acabou de entrar na universidade em Dublin. Acompanhamo-la nesta nova fase da sua vida, em que a vida em casa e a vida na cidade parecem opostos.

 

Além desta linha narrativa central, existe outra que me fez gostar mais da experiência de leitura: Maeve, a mãe de Debbie, acredita que tem sonhos que são autênticas profecias — e Debbie acha que poderá sofrer do mesmo mal que a mãe. Sinto que isto acrescentou uma camada muito interessante ao livro e à construção das personagens, evitando que fosse apenas mais uma história sem grande enredo.

 

As soon as rain hits the ocean it is no longer called rain. As soon as a dreamer enters a dream there is no longer the dreamer. There is only the dream.

 

Neste livro, as personagens secundárias são até mais bem construídas do que a principal e dão uma profundidade muito maior à história. A mãe, tio e os colegas de faculdade têm todos um papel importante e fazem muito bem o contraponto entre o campo e a cidade. Gostei muito que fossem pessoas reais, não apenas boas ou apenas más, mas sim pessoas que por vezes fazem coisas boas e, por vezes, fazem coisas más.

 

Se não se importam quando os livros têm um ritmo um pouco mais lento e se apreciam histórias centradas nas personagens, então talvez este seja o livro certo para vocês. Infelizmente ainda não está traduzido para português, mas pode ser que aconteça brevemente. Já tinham ouvido falar de Snowflake?

Qui | 22.06.23

Leme, Madalena Sá Fernandes

Há pouca coisa nova que possa dizer sobre Leme, de Madalena Sá Fernandes — este livro tem andado um pouco por todo o lado e a ser lido por muita gente. Por isso, vão desculpar-me, mas é provável que esta review diga coisas que já leram ou ouviram noutros sítios, o que só confirma que toda a fama que tem é completamente justificada.

 

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Entre a ficção e a auto-ficção, este livro é o relato cru da violência doméstica aos olhos de uma criança que se torna adolescente, que se torna adulta. Que acaba a repetir alguns dos ciclos, porque infelizmente é assim mesmo que algumas coisas são na vida. Tem muito da experiência de vida da própria autora, como é assumido, e isso ainda me faz ter um respeito maior pela maneira como conseguiu pôr na escrita tudo aquilo por que passou e tudo o que sente sobre isso. Acredito que seja muito complicado de conseguir este equilíbrio entre escrever para ajudar a resolver traumas e escrever para ser editado e lido.

 

Porque é sempre complicado dar opinião sobre a vida das pessoas — porque, no fundo, é disso que um livro de memórias como este se trata —, resta-me falar-vos um pouco da escrita da autora. Ao mesmo tempo que consegue trazer ao de cima a inocência da infância, rapidamente nos tira o tapete de debaixo dos pés com as descrições vívidas dos momentos em que Paulo, o padrasto, se tornava violento com a criança narradora ou com a mãe. Consegui sentir a dualidade que existe na cabeça das crianças que passam por situações destas: a figura violenta é também uma figura paternal, capaz de dar amor na mesma medida em que o tira.

 

Os capítulos são muito curtos, mas não se deixem enganar ou levar pela sofreguidão de o ler de uma assentada — acreditem, vai acontecer. Em vez disso, permitam-se digerir o que forem lendo porque pode ser bruto (sobretudo se tiverem passado por vivências semelhantes). Por fim, contem-me: também já leram Leme? Se sim, o que acharam?

Ter | 20.06.23

Feira do Livro // Edição de 2023

A Feira do Livro de Lisboa terminou há uma semana e eu ainda não tinha vindo falar-vos da minha experiência este ano — como autora e como leitora. Só consegui fazê-lo agora porque queria escrever sobre a feira deste ano com calma, já que foi provavelmente a melhor edição de sempre (para mim).

 

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Eu sei que já tinha estado presente no ano passado enquanto autora, para autografar o livro do Terapia de Casal com o Guilherme, mas houve uma magia muito especial em poder estar lá com o meu primeiro livro de ficção, As Coisas Que Faltam. Não é segredo ou novidade para ninguém que ter uma carreira enquanto escritora de ficção é o meu grande sonho e emocionou-me bastante poder estar presente na Feira do Livro de Lisboa enquanto autora. Sei que, se continuar a trabalhar nisto e a consolidar este início de percurso, é possível que a feira perca algum do seu encanto e magia. Ainda assim, este ano foi tudo aquilo que eu podia ter desejado: houve uma conversa com o Guilherme sobre os nossos livros, duas sessões de autógrafos (dia 3 e dia 13 de Junho) com filas enormes e, ainda, uma conversa com algumas das mulheres incríveis que fazem parte do Clube das Mulheres Escritoras.

 

Além de estar na feira como autora, com estas iniciativas todas, fui lá também algumas vezes enquanto leitora — para aproveitar os descontos em livros do dia ou só mesmo para passear um pouco. É um dos meus eventos favoritos do ano e, nesta edição, quis aproveitar toda e qualquer desculpa para pôr lá os pés. Claro que, de todas as vezes, passava na praça da Presença e pelo stand da Manuscrito para ver o meu livro, mas sou uma autora babada, querem o quê?

 

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Falando então das compras que fiz este ano, começo por dizer que foram muitas mais do que no ano passado, mas também foram bastante mais planeadas e ponderadas. Fazer parte do Clube das Mulheres Escritoras tem sido bom para mim enquanto escritora, claro, mas também enquanto leitora — tem-me feito descobrir o trabalho de outras mulheres portuguesas ou lusófonas. Por isso mesmo, decidi que dedicaria o meu orçamento a comprar apenas livros de autoras portuguesas e só falhei num.

 

Sem mais demoras, as minhas compras na Feira do Livro de Lisboa de 2023:

 

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A Visão das Plantas (17€ 10€) & Luanda, Lisboa, Paraíso (17,45€ 13,96€), de Djaimilia Pereira de Almeida

Estou muito curiosa com a escrita da Djaimilia, sobretudo depois de ter ouvido falar tão bem de Luanda, Lisboa, Paraíso. O Visão das Plantas acabei por comprar porque vi que era livro do dia e porque me pareceu ser uma pequena novela muito ligada à natureza.

 

Lisboa, Chão Sagrado, de Ana Bárbara Pedrosa (15,50€ 9,30€)

Sei pouquíssimo sobre este livro e assim me quero manter até à leitura. Este romance de estreia da autora parece-me a melhor forma de começar a ler a obra dela, de que já ouvi falar muito bem também. Comprei como livro do dia.

 

Da meia-noite às seis, Patrícia Reis (15,90€ 9,50€)

Outro livro do dia que serviu de desculpa para me iniciar na escrita de outra autora portuguesa sobre a qual sei pouquíssimo. Este livro é de 2021 e reflecte sobre o que é prioritário em tempos de pandemia.

 

Ecologia, Joana Bértholo (23,90€ 14,30€)

Está bem, eu sei que ainda não li A História de Roma, da mesma autora, que está cá em casa à espera da sua vez. Mas, em minha defesa, este era outro livro do dia impossível de ignorar, não apenas pelo preço, mas acima de tudo pela premissa. “Numa sociedade que se fundiu com o mercado — tudo se compra, tudo se vende — começamos a pagar pelas palavras. A estranheza inicial dá lugar ao entusiasmo. Afinal, como é que falar podia permanecer gratuito?”

 

Na Memória dos Rouxinóis, Filipa Martins (16,60€ 9,96€)

Se vos dissesse a quantidade de vezes que já tinha estado com este livro na mão, pronta a comprá-lo. Não fazia sentido não aproveitar o facto de ser livro do dia e veio (finalmente!) cá para casa.

 

Bairro das Cruzes, Susana Amaro Velho (17,95€ 16,15€)

Foi livro do dia num domingo em que eu estava demasiado cansada para ir à feira, mas nem por isso deixei de o incluir nas minhas compras. Estou muito curiosa com a reedição deste livro da Susana, de quem já li Inquieta.

 

Estendais, Gisela Casimiro (15,90€ 14,30€)

Já tinha visto esta capa maravilhosa e fiquei logo com curiosidade. Confesso que esta foi uma das poucas compras por impulso que fiz, mas, já que é uma novidade, aproveitei o preço mais baixo.

 

Um Muro e Uma Cerca, Elisabete Oliveira Martins (17,50€ 15,75€)

Se eu tivesse 1€ por cada vez que me disseram que este livro é a minha cara, ainda não estava rica, mas já tinha a carteira mais composta. Quero muito conhecer a escrita da Elisabete, com quem tive o prazer de me cruzar e de falar um pouco na feira. Só não consegui um autógrafo, mas fica para uma próxima.

 

As Primas, Aurora Venturini (18,45€ 16,61€)

A única compra que foge um pouco às regras que impus a mim mesma. Comparam bastante a autora com Elena Ferrante e vim a descobrir que só lançou este seu romance de estreia já na casa dos 80 anos, o que me fez ter ainda mais vontade de o ler.

 

Apneia, Tânia Ganho (22,90€ 13,70€)

“Mas, Rita, tu já não leste este livro?”. Li, sim, e podem ler a minha opinião aqui no blog. Gostei tanto que queria aproveitar o facto de ser livro do dia para o adicionar à minha estante física. Obrigada, Mafalda, por teres trazido um para mim quando lá foste buscar o teu — agora tens é de mo dar, ‘tá bom?

 

 

Se acompanham o blog há pouco tempo ou ficaram com curiosidade em perceber como têm sido as minhas Feiras do Livro de Lisboa ao longo dos anos, podem sempre ler os posts que fui escrevendo. Neles encontram também as minhas estratégias para aproveitar este evento da melhor forma, pode ser que vos inspire no próximo ano:

>> Como aproveitar melhor a Feira do Livro (2017)

>> Feira do Livro: as minhas compras deste ano (2018)

>> Feira do Livro // O rescaldo da edição de 2019

>> Feira do Livro // A edição de 2020

>> Feira do Livro // Edição de 2021

>> Feira do Livro // Edição de 2022

 

Agora, contem-me: visitaram a feira este ano? Se sim, quais foram as vossas aquisições? Em relação aos que eu comprei, quais já leram? O que acharam? Vá, vamos falar sobre a feira nos comentários, para aguentarmos as saudades até ao ano que vem.

Sex | 16.06.23

Gallant, V. E. Schwab

Depois de ter lido The Invisible Life of Addie LaRuee de ter adorado —, sabia que quereria ler mais coisas de V. E. Schwab, até porque aquilo de que mais gostei foi, sem dúvida, o estilo de escrita da autora. Parti para Gallant sabendo que a história era completamente diferente, mas foi bom encontrar lá algumas das coisas que me estão a fazer apaixonar por esta autora.

 

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Olivia Prior é a protagonista desta história, uma rapariga muda que cresce num orfanato e cuja única ligação que tem ao passado é o diário da mãe. Olivia não sabe nada sobre a sua família, apenas percebe, pelos relatos escritos no diário, que a mãe endoideceu. Um dia recebe uma carta de um tio a convidá-la para ir para a Gallant, a casa de família. Porém, quando lá chega, apercebe-se de que ninguém a esperava — e Gallant não é uma casa normal.

 

But the truth is, death is everywhere. Death comes for the roses and the apples, it comes for the mice and the birds. It comes for us all. Why should death stop us from living?

 

Bem vistas as coisas, este livro segue a estrutura normal de um mistério gótico clássico e, no que à narrativa diz respeito, não me surpreendeu. Também compreendo que seja um livro com contornos mais young adult, o que fez com que, para mim, fosse um pouco previsível em alguns momentos. Não deixa de ser uma boa experiência de leitura, ainda assim. Empatizei muito com a personagem principal — embora tenha sentido que não houve uma grande evolução —, mas gostei sobretudo das pessoas que ela conhece em Gallant, principalmente os caseiros que foram tomando conta da casa e que, de certa forma, pertencem à família.

 

Mas uma coisa é certa: a escrita de V. E. Schwab compensa o facto de a história não ser nada de inovador. A autora tem a capacidade de dizer muito com poucas palavras e, ainda assim, de escolher as palavras mais bonitas e mais acertadas para cada momento. Recomendo muito que experimentem ler algo dela, porque acredito que não se vão arrepender.

 

Há por aí fãs de V. E. Schwab? Se sim, o que me recomendam ler a seguir?

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