Não resisto a livros que tenham velhotes como personagens principais, mas não peguem em E se eu morrer amanhã?, da Filipa Fonseca Silva, a achar que vão encontrar a típica velhinha representada na ficção. À porta dos 80 anos, Helena é uma viúva aparentemente calma, ainda independente, com uma relação esporádica com a família.
Até que acontece um acidente e os filhos e netos têm acesso à sua vida mais íntima — e quando eu digo “íntima”, quero dizer uma vida sexual activa. A autora vai alternando entre a perspectiva que a família tem desta mulher e a voz da própria Helena, o que ajudou a dar um bom dinamismo à história. A senhora interpela várias vezes o leitor, com o objectivo de desmistificar algumas das coisas que a geração mais nova acha sobre as pessoas em idade avançada.
Passei a leitura quase toda a imaginar-me em velha, a questionar que tipo de pessoa serei quando (se) lá chegar. E, ao mesmo tempo, a desejar ter conhecido mais Helenas na minha vida — mulheres mais velhas que eu, que falem sem pudor de todas as questões ligadas ao mundo feminino.
É uma leitura bastante leve, que não pretende ser um ensaio sociológico sobre estes temas e que, talvez por isso mesmo, consegue alertar para eles de forma mais eficaz. Tal como já tinha acontecido quando li O Elevador, saio desta leitura com a certeza de que a Filipa tem das premissas e ideias mais originais para as histórias que constrói e, neste caso em particular, acho mesmo que ela poderia explorar ainda mais este tema. Imaginei logo um livro de não-ficção, com testemunhos de mais mulheres como esta personagem.
Ando há algum tempo para vos falar do Clube das Mulheres Escritoras, mas ainda não tinha tido tempo de fazê-lo com a calma que o tema merece. Ainda antes de viajar para o Japão, a Maria Isaac e a Filipa Fonseca Silva vieram fazer-me o convite para me juntar ao que, na altura, ainda era apenas um grupo de WhatsApp com várias mulheres escritoras portuguesas. Rapidamente passou a ser muito mais: estamos a criar duas newsletters mensais (uma mais informativa e uma mais literária), que podem subscrever aqui, e a dar os primeiros passos no Instagram (@clubedasmulheresescritoras).
Porém, o mais importante, são todas as iniciativas que estão a acontecer no backstage; a forma como estamos todas juntas para partilhar informação e para garantir que a nossa escrita é divulgada e valorizada. Está a ser muito enriquecedor ter um canal directo de conversa com todas estas mulheres, não apenas digital mas também presencial, já que existe um encontro mensal só para falarmos e trocarmos livros e experiências.
Se gostam de ler mulheres portuguesas ou se querem começar a ganhar esse hábito, então convido-vos a acompanhar-nos porque vamos concentrar várias informações nas plataformas que estamos a criar: eventos, lançamentos, textos, entrevistas e tudo o que formos achando relevante e interessante!
Quando, no ano passado, comecei a minha incursão pelos livros de Emily Henry, sabia que chegaria o momento em que poderia acompanhar um lançamento dela ao mesmo tempo que as outras pessoas. Não é segredo para ninguém que Beach Readfoi uma leitura um pouco dolorosa para mim, mas que me apaixonei por People We Meet On Vacation e porBook Lovers.
Assim sendo, esperava muitas coisas de Happy Place — embora tenha partido para a leitura sem grandes expectativas, para não sair desiludida. Tive a sorte de poder lê-lo todo num dia, graças às viagens de autocarro Lisboa — Faro — Lisboa, e acho que ajudou muito a que me envolvesse naquela história e nas personagens. Este livro conta a história de Harriet e Wyn, que são o casal perfeito desde que se conheceram na universidade. Quando Harriet chega à casa do Maine onde o seu grupo de amigos se encontra anualmente (o seu happy place), vai determinada a contar-lhes que a relação terminou há seis meses. Mas Wyn está lá e, por motivos que vocês vão descobrir, ambos decidem esconder o término e fingir que está tudo bem.
Claro que isto é Emily Henry, por isso é expectável que tudo acabe bem — algo que eu não adoro particularmente, mas já sei que é assim. Porém, o que mais me surpreendeu foi a capacidade que a autora teve de construir estas personagens: não apenas Harriet e Wyn, mas todo o grupo de amigos. Happy Place é muito mais sobre estas amizades, sobre a maneira como as dinâmicas se alteram com o passar do tempo e, também, sobre como as pessoas podem ser o nosso lugar mais feliz.
My best friends taught me a new kind of quiet, the peaceful stillness of knowing one another so well you don’t need to fill the space. And a new kind of loud: noise as a celebration, as the overflow of joy at being alive, here, now.
Não conseguiu superar People We Meet On Vacation ou Book Lovers, mas é uma história muito mais madura, com uma escrita que acompanha esse crescimento. E fico muito feliz por ver que Emily Henry está a criar um pequeno universo de referências cruzadas entre livros — um dos motivos pelos quais sei que eventualmente quererei reler este.
E vocês, já se iniciaram nesta aventura? O que acharam? O lançamento foi global, o que significa que o livro ficou logo disponível em português também.
É com muita pena que vos anuncio que este é o último post sobre a viagem ao Japão. Sei que vem uns dias atrasado, mas a vida complicou-se e mais vale (um pouco mais) tarde do que nunca. Depois de Tokyo, Nikko, Kyoto e Hiroshima, terminámos o itinerário em Osaka, com duas day trips pelo meio.
Osaka é outra cidade gigantesca — não tão grande quanto Tokyo, mas igualmente monumental. Uma das coisas que é logo possível perceber é que as pessoas são menos formais e rígidas com as tradições, têm uma atitude bastante mais irreverente (dentro daquilo que são os padrões japoneses, claro). É também uma das capitais gastronómicas do país, onde toda a comida de rua é incrível.
No dia em que chegámos de Kyoto, aproveitámos para subir ao Umeda Sky Building e ficámos logo com uma noção do tamanho da cidade. O nosso objectivo era apanhar o pôr-do-sol, mas havia bastante fila para entrar (mesmo tendo comprado os bilhetes antes), pelo que recomendo que planeiem o melhor horário tendo em consideração que não será só chegar e subir.
Depois disso, foram dias bastante intensos, sobre os quais vos falo hoje mais detalhadamente:
DIA 1 — SHINSEKAI, NAMBA & DOTONBORI
Osaka é uma das melhores cidades para ter acesso a vários outros pontos perto, mas não queríamos deixar de visitar a cidade — por isso, reservámos o primeiro dia para passear por diferentes bairros e entrar em todas as lojas de coisas nerd possíveis e imaginárias. Começámos com um pequeno-almoço reforçado bem perto do nosso hotel (que era este), num sítio chamado A Happy Pancake. Adorei estas panquecas mais fofinhas e com mais ovo, havia com diferentes toppings e tinha tudo óptimo aspecto.
De seguida descemos até ao bairro de Shinsekai e fomos subindo, passando primeiro por Namba e acabando em Dotonbori. Basicamente fomos só passeado e parando pelos sítios que nos pareceram interessantes. Em Shinsekai visitei a U-Arts, uma loja de material de escritório só com coisas de gatos, de onde trouxe várias coisas fofas.
Antes de regressarmos à zona do hotel, para jantar no CoCo Ichibanya — uma cadeia de restaurantes especializada em caril japonês — estivemos ainda um bom tempo na Don Quijote de Dotonbori. É uma loja que vende tudo e mais alguma coisa a preços bastante interessantes, e foi de lá que trouxe a maior parte dos souvenirs.
DIA 2 — NARA & OSAKA CASTLE
Não vou mentir, este era o dia que mais me entusiasmava desde que começámos a planear a viagem. Nara fica a cerca de meia hora de comboio de Osaka e é cidade dos veados, onde vários destes gordinhos passeiam livremente e junto das pessoas. É possível alimentá-los com bolachas próprias, cujo preço reverte a favor da manutenção do Parque de Nara, onde eles vivem — claro que comprei várias e andei entretida toda a manhã e parte da tarde.
Além dos veados, Nara tem também o templo Kasuga-taisha e o Todai-ji Daibutsuden, que tem um Buda que impressiona de tão grande que é. Se decidirem passar umas belas horas por lá, também recomendo que almocem noodles no Mizuya Chaya, que é um espaço no meio da natureza com comida óptima — eu escolhi soba noodles frios e adorei.
Demorámo-nos bastante por Nara, até para aproveitar a calma da zona, mas quando regressámos a Osaka ainda tivemos tempo de passear no exterior do Castelo de Osaka. Chegámos lá pertinho do pôr-do-sol, gostei mesmo muito de toda a área envolvente e não senti falta de conhecer o castelo por dentro.
O dia terminou com uma aventura divertidíssima: comer sushi de conveyor belt no Kura. Parecíamos quatro crianças a ver a comida e as bebidas chegar até nós e, a parte mais engraçada, é que podem participar num jogo enquanto comem — a cada cinco pratos devolvidos, habilitam-se a ganhar um prémio. No final, depois de nos fartarmos de comer sushi, pagámos uns míseros 12€ por pessoa (sim, com as bebidas incluídas).
DIA 3 — UNIVERSAL STUDIOS JAPAN & KARAOKE
O nosso último dia em Osaka foi dedicado aos Universal Studios, cujas entradas tínhamos comprado com bastante antecedência. Íamos sobretudo focados em passar algum tempo na parte do Harry Potter e na parte da Nintendo (para já apenas focado em Mario Bros), mas na realidade há demasiadas coisas para fazer e, se sentirem que teriam interesse em mais coisas, talvez vos compense comprar um passe de dois dias.
Diverti-me imenso neste dia: fiz feitiços com a minha varinha interactiva, andei a coleccionar moedas do Mario com a minha pulseira e ainda andei em duas montanhas-russas — uma delas era para crianças, mas como eu sou muito medrosa já conto como uma vitória.
Fomos logo de manhã e ficámos até ao encerramento do parque, aí pelas 19h, e antes de regressarmos ao quarto para um merecido jantar de loja de conveniência, ainda fomos meia hora a um karaoke. Muita gente me dizia que era uma experiência imperdível no Japão e posso atestar que sim — por favor, vão!
DIA 4 — REGRESSO A TOKYO & TEAMLAB
Como Osaka ainda fica a umas três horas de Tokyo, a partir de onde iríamos regressar a Portugal, decidimos fazer check-out com calma e seguir logo caminho para a estação. O nosso voo estava marcado para bastante cedo no dia seguinte, então optámos por reservar um hotel perto do aeroporto e com transfer grátis — escolhemos este.
Depois do check-in corremos até ao teamLab Planets, uma espécie de exposição de arte contemporânea com várias salas — em cada uma delas há uma experiência sensorial diferente. É capaz de ter sido uma das atracções mais caras de toda a viagem (tirando os Universal Studios, claro) e, mesmo assim, não achei caro para a experiência. Sinto que foi a maneira perfeita de terminar os nossos dias pelo Japão e só posso recomendar que vão também!
E acho que é isto! Claro que a minha caixa de comentários continua aberta para as vossas dúvidas e, dentro do que estiver ao meu alcance, prometo tentar responder. Fiquei com imensa vontade de regressar ao Japão, desta feita na altura do Outono, porque sinto que vi muita coisa, mas nem 10% de tudo o que havia para ver ou fazer. O que me recomendariam numa próxima ida?