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Rita da Nova

Ter | 30.05.23

E se eu morrer amanhã?, Filipa Fonseca Silva

Não resisto a livros que tenham velhotes como personagens principais, mas não peguem em E se eu morrer amanhã?, da Filipa Fonseca Silva, a achar que vão encontrar a típica velhinha representada na ficção. À porta dos 80 anos, Helena é uma viúva aparentemente calma, ainda independente, com uma relação esporádica com a família.

 

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Até que acontece um acidente e os filhos e netos têm acesso à sua vida mais íntima — e quando eu digo “íntima”, quero dizer uma vida sexual activa. A autora vai alternando entre a perspectiva que a família tem desta mulher e a voz da própria Helena, o que ajudou a dar um bom dinamismo à história. A senhora interpela várias vezes o leitor, com o objectivo de desmistificar algumas das coisas que a geração mais nova acha sobre as pessoas em idade avançada.

 

Passei a leitura quase toda a imaginar-me em velha, a questionar que tipo de pessoa serei quando (se) lá chegar. E, ao mesmo tempo, a desejar ter conhecido mais Helenas na minha vida — mulheres mais velhas que eu, que falem sem pudor de todas as questões ligadas ao mundo feminino.

 

É uma leitura bastante leve, que não pretende ser um ensaio sociológico sobre estes temas e que, talvez por isso mesmo, consegue alertar para eles de forma mais eficaz. Tal como já tinha acontecido quando li O Elevador, saio desta leitura com a certeza de que a Filipa tem das premissas e ideias mais originais para as histórias que constrói e, neste caso em particular, acho mesmo que ela poderia explorar ainda mais este tema. Imaginei logo um livro de não-ficção, com testemunhos de mais mulheres como esta personagem.

 

Quem desse lado já leu este livro? O que acharam?