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Rita da Nova

Qui | 20.04.23

Howl’s Moving Castle, Diana Wynne Jones

Motivada pela minha viagem ao Japão — sobre a qual prometo começar a escrever-vos já esta semana —, decidi pôr em dia os filmes do estúdio Ghibli. Uns já tinha visto e foi bom recordar, mas outros estavam em falta, como era o caso de Howl’s Moving Castle. Porém, quando soube que era inspirado num livro com o mesmo nome, de Diana Wynne Jones, achei por bem ler antes de ver a adaptação.

 

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A história do livro é a seguinte: Sophie Hatter vive em Ingary, uma terra habituada à presença de bruxas e de um castelo andante, que caminha à volta da cidade. Um dia, a menina tem um pequeno confronto com a Witch of the Waste, que a põe sob um feitiço, fazendo com que se torne velhota. É então que Sophie se põe a caminho do Howl’s Moving Castle, com o propósito de pedir a Howl que a ajude a reverter o feitiço.

 

If I give you a hint and tell you it's a hint, it will be information.

 

Quando consegue chegar ao castelo, Sophie conhece Howl (famoso por se alimentar das almas de raparigas jovens), o seu assistente Michael e Calcifer, o demónio de fogo com quem Sophie faz um pacto. Ora, a premissa é muito engraçada e a dinâmica entre estas personagens é bem desenvolvida, com vários momentos de humor no meio das aventuras, mas achei um livro demasiado extenso para a história que a autora queria contar. A certa altura senti-me perdida, sem saber muito bem o rumo da história. Vão acontecendo várias coisas, Sophie entra em aventura atrás de aventura, mas a linha de história central é quase ignorada até ao fim e, confesso, aborreceu-me um pouco.

 

Felizmente, bastou ver alguns minutos para compreender que, mais do que uma adaptação, o filme de Miyazaki é apenas levemente baseado na história do livro. Aproveita o mesmo conjunto de personagens centrais, mas modifica muitas coisas e introduz uma linha de romance entre Sophie e Howl que, no livro, só é deixada no ar — e, mesmo assim, de forma muito subtil. Honestamente, e ao contrário do que costuma acontecer, gostei muito mais do filme.

 

Já agora, quero saber: são fãs dos filmes Ghibli? Se sim, quais são os vossos favoritos?

Ter | 18.04.23

O Grito da Gaivota, Emmanuelle Laborit

Não sei se já falei disso por aqui, mas desde Outubro de 2022 que eu e o Guilherme andamos a ter aulas de Língua Gestual Portuguesa. Todos os sábados, as nossas manhãs são dedicadas a aprender uma língua que é, também, uma forma de nos tornarmos pessoas um pouco mais inclusivas no nosso dia-a-dia. Por consequência disso, tenho estado bastante mais atenta à comunidade surda: as suas experiências, dificuldades, desafios.

 

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Quando uma colega minha (olá, Paula! 🙋‍♀️) me falou no livro O Grito da Gaivota, de Emmanuelle Laborit, soube logo que quereria lê-lo e fiquei muito feliz quando ela mo emprestou. Li-o de uma assentada, não só por querer mesmo muito ler algo escrito da perspectiva de uma pessoa surda, mas também porque foi um empréstimo e gosto de devolver livros rapidamente.

 

Emmanuelle Laborit é surda profunda e explora, neste livro, como é crescer no seio de uma família ouvinte e — mais do que isso — como é crescer numa época em que a Língua Gestual Francesa era, de certo modo, proibida. Desconhecia por completo toda esta luta que a comunidade surda teve para afirmar a língua gestual, bem como a forma como, antigamente, se tentava formatar as pessoas surdas para serem o mais parecidas possível com quem ouve.

 

Gostei sobretudo de perceber como é que uma pessoa surda percepciona o mundo e os conceitos que, para quem ouve, são quase básicos. Dando apenas um exemplo: Emmanuelle conta que só conseguiu compreender realmente as ideias de “ontem” e “amanhã” quando percebeu que “ontem” é o que está atrás de nós e “amanhã” é o que está à nossa frente. É o tipo de coisas que eu ainda não consigo saber através das pessoas surdas que conheço, visto que estou num nível muito inicial da língua.

 

Nota-se que o livro poderia ter uma edição um pouco mais cirúrgica, mas cumpre perfeitamente o propósito de nos fazer ver o mundo de uma forma diferente, de nos ajudar a compreender quem não ouve. Por isso, só posso mesmo recomendar que o leiam — prometo que vos fará entender melhor a surdez e a comunidade surda.

 

Ficaram com vontade de o ler?

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