Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Rita da Nova

Ter | 21.03.23

The Wolf Den, Elodie Harper

Estou sempre a contar esta história, mas como a acho adorável, cá vai mais uma vez. No nosso fim-de-semana literário em Edimburgo, eu e a Joana visitámos a livraria Typewronger. O livreiro viu-me de volta de The Wolf Den, de Elodie Harper, porque andava a pensar trazê-lo para o mês de Março do Clube do Livra-te, aproveitando o facto de a tradução ser lançada cá em Portugal. Ele falou-nos super bem do livro e do facto de ser bastante fiel à história de Pompeia, que fiquei convencida e trouxe um exemplar de lá.

 

the-wolf-den-elodie-harper.JPG

 

E posso dizer que foi, até agora, o melhor livro que li este ano. The Wolf Den passa-se em Pompeia, no ano 74 d.C., e centra a sua narrativa na perspectiva das mulheres escravas que trabalham num bordel — muitas vezes chamado “o Covil” —, mais especificamente em Amara. Filha de um pai médico, esta mulher grega acabou por ser vendida à escravatura depois da ruína financeira da família e acabou nas mãos de Felix, o dono do bordel.

 

Além de Amara, há outras escravas sexuais pertencentes ao Covil, como Vitoria, Dido e Cressa, que acompanhamos à medida que Amara começa a tentar trilhar um caminho rumo à liberdade. Cada uma destas mulheres tem uma história e isso vai sendo também desvendado através da forma como se relacionam. A forma como a autora explorou as relações destas mulheres foi, provavelmente, a parte de que gostei mais nesta leitura. As personagens não são apenas boas ou más, tomam decisões porque precisam de sobreviver, e isso reflecte-se na dinâmica que existe entre elas, entre elas e as mulheres de outros bordéis, entre elas e os homens.

 

Sei que pode parecer um enredo simples — uma escrava em busca da liberdade —, mas este livro tem várias reviravoltas e eu tenho a certeza de que não há como ficar indiferente a este conjunto de personagens tão bem construídas. Ao início achei o ritmo do livro um pouco lento, mas depois recordei-me que este é apenas o primeiro volume de uma trilogia e, visto assim, faz sentido. Há mais dois livros que contam a história de Amara: eu já encomendei o segundo (The House With the Golden Door) e aguardo pacientemente que o terceiro saia em Novembro deste ano.

 

Não vos quero dar mais detalhes para não estragar a experiência de leitura, já que posso correr o risco de contar coisas que devem ir descobrindo à medida que lêem, mas digo-vos só que soltei umas belas de umas lágrimas no final. E agora, contem-me: já leiam ou planeiam ler?

 

----------

O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!

Sex | 17.03.23

Os Meus Dias na Livraria Morisaki, Satoshi Yagisawa

2023 está a ser um ano em que faço por escolher melhor as minhas leituras. Claro que nem todos os livros têm de mudar as nossas vidas — e não há problema nenhum em ler coisas mais levezinhas —, mas tenho tentado ser um pouco mais exigente com os livros antes de os escolher e lhes dar prioridade na minha pilha de livros interminável. Isto para dizer que não planeava comprar ou ler Os Meus Dias na Livraria Morisaki, Satoshi Yagisawa. Contudo, a Presença enviou-mo e eu decidi dar-lhe uma hipótese, até porque parto para o Japão brevemente.

 

os-meus-dias-livraria-morisaki.JPG

 

No início deste livro conhecemos Takako, uma rapariga de 25 anos que dá por si fechada em casa depois do fim da sua relação. É nessa altura que o tio Satoru a convida a mudar-se para Jimbocho, o bairro das livrarias de Tóquio, e a trabalhar consigo na livraria da família — a Livraria Morisaki. É através da relação com o tio e com aquela livraria que a protagonista é capaz de ultrapassar a fase mais cinzenta que está a viver.

 

A nossa pequena e velha livraria Morisaki. Depois de levantar voo com a minha bagagem de grandes ilusões, depois de dar a volta ao mundo, aportei no lugar que mais me era familiar, o da minha infância: é engraçado, não é? Mas sim, depois de tanto tempo, voltei. Percebi que não era um problema de lugares, mas de coração. Onde quer que estivesse, com quem fosse, o meu lugar seria sempre aquele em que tinha a certeza de não mentir ao meu coração.

 

Eu percebo porque é que este livro está a fazer tanto sucesso: é curtinho, fácil de ler e tem uma história querida. É uma boa aposta para momentos em que não nos apetece ler coisas mais densas e, também, para ajudar a ganhar hábitos de leitura. A mim, porém, faltou-me qualquer coisa. Foi bom conhecer este bairro antes de ir ao Japão, porque assim posso visitá-lo, mas faltou-me qualquer coisa durante a leitura. Gostei da premissa, mas senti que o livro poderia ter sido aprofundado de outra forma.

 

Em resumo: sei que é provável que me esqueça rapidamente da história, mas não me arrependo de a ter lido. E vocês: já o leram ou têm-no na pilha de livros para ler?

Qui | 16.03.23

The Dead Romantics, Ashley Poston

Eu bem sei que começo quase todas as reviews de comédias românticas com o mesmo disclaimer — este não é o meu tipo de livros. Sim, Rita, já percebemos que só lês estas coisas por causa do Clube do Livra-te. Mas, a verdade, é que há comédias românticas e comédias românticas e The Dead Romantics, de Ashley Poston, acabou por até ser uma leitura prazerosa para mim, contrariando todas as expectativas.

 

the-dead-romantics-ashley-poston.JPG

 

Florence Day é uma ghostwriter de livros românticos que consegue ver e falar com fantasmas. Bem sei que parece uma piada forçada, mas tudo faz sentido. Conhecemos a protagonista na aproximação ao prazo de entrega de um manuscrito que não consegue terminar, uma vez que deixou de acreditar no amor. Enquanto navega esta incapacidade de criar um final feliz para as personagens do livro, recebe uma chamada que muda a sua vida: o pai faleceu e terá de ir até à sua terra natal após dez anos de ausência.

 

A família é dona da funerária da cidade, então o tema do luto e da perda estão bastante presentes ao longo da narrativa. Mais ainda quando, no meio do processo de organização do funeral do pai, Florence vê o fantasma de alguém que conhece e tem de ajudar essa pessoa a fazer as pazes com a morte. Bem sei que parece tudo uma grande baralhada — e a certo ponto, sim, as linhas narrativas confundem-se todas umas com as outras —, mas a escrita de Ashley Poston consegue compensar o facto de a estrutura estar all over the place.

 

I'd always written how grief was hollow. How it was a vast cavern of nothing.
But I was wrong.
Grief was the exact opposite. It was full and heavy and drowning because it wasn't the absence of everything you lost - it was the combination of it all, your love, your happiness, your bittersweets, wound tight like a knotted ball of yarn.

 

As personagens secundárias também estão bastante bem construídas, especialmente a mãe e os irmãos de Florence — tirando ali algumas decisões que me irritaram, por serem clichés completamente evitáveis. Algumas vezes tive de me lembrar de que estava a ler uma comédia romântica, que é expectável que esses clichés existam e que é suposto que tudo acabe bem, mas gostava mesmo que este livro tivesse conseguido dar o salto e ter trazido a verdadeira lufada de ar fresco que a premissa meio maluca prometia. Gostei que o interesse amoroso não fosse o centro da narrativa e que se explorassem temas difíceis de uma forma leve (e com algum humor) e, por isso, sei que a autora conseguia tornar este livro ainda melhor.

 

De qualquer das formas, é uma boa leitura para descansar de livros mais pesados e vou, definitivamente, recomendá-lo a algumas pessoas. Contem-me: já o leram ou planeiam fazê-lo?

 

----------

O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!

Ter | 14.03.23

One True Loves, Taylor Jenkins Reid

Agora que terminei os livros mais conhecidos (e mais recentes) de Taylor Jenkins Reid, achei que era boa ideia explorar os seus livros iniciais — que estão fora deste universo de personagens partilhadas que ela tem vindo a criar desde The Seven Husbands of Evelyn Hugo. Comecei com One True Loves, que me prendeu pela primeira frase: “I am finishing up dinner with my family and my fiancé when my husband calls”.

 

one-true-loves-taylor-jenkins-reid.JPG

 

Emma, a personagem principal deste livro, casa-se com Jesse, a sua paixão desde os tempos de secundário. Juntos, decidem sair da terra que os viu crescer e fazem de viajar pelo mundo o seu grande propósito de vida. O problema é que, no dia em que celebram um ano de casados, Jesse vai numa viagem de helicóptero e desaparece no Pacífico. No processo de luto, Emma acaba por voltar a casa e reencontra-se com Sam, um amigo dos tempos de escola. Meses depois, está noiva de Sam e feliz por ter mais uma hipótese no amor, até que Jesse é encontrado.

 

Em One True Loves vemos, então, como é que Emma lida com esta situação e o que é que descobre sobre si mesma durante todo o processo. Dei várias vezes por mim a pensar o que faria se estivesse no lugar da protagonista e completamente envolvida na história. Emocionei-me várias vezes com a forma como a autora explora o luto, bem como a força da personagem de reconstruir a sua vida.

 

I think you forsake the people you loved before, just a little bit, when you fall in love again. But it doesn't erase anything. It doesn't change what you had. You don't even leave it so far behind that you can't instantly remember, that you can't pick it up like a book you read a long time ago and remember how it felt then.

 

É o tipo de livro que fez com que me apaixonasse pela Taylor Jenkins Reid? Não. É o tipo de história que eu costumo ler? Também não. Foi bom para desanuviar e tirar a cabeça das preocupações da vida? SIM. É que, mesmo não sendo o meu tipo de livro, a qualidade de escrita da autora está lá e eu gostei muito de a ler neste registo mais de comédia romântica. Se este for um dos vossos géneros literários favoritos, então eu sinto que vão gostar muito!

 

Entretanto sei que o filme vai sair agora em Abril e já estou meio irritada com o cast, porque têm zero a ver com a descrição das personagens, mas pode ser que a adaptação ainda surpreenda. Qual é o vosso favorito da Taylor Jenkins Reid? O meu próximo vai ser Maybe in Another Life!