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Rita da Nova

Ter | 28.02.23

The Pact, Sharon Bolton

No Discord do Livra-te, além das escolhas de livro para cada mês, temos sempre uma leitura conjunta extra que vai a votações — foi assim que The Pact, de Sharon Bolton, acabou na minha lista de livros para ler em Fevereiro. Como não leio muitos thrillers, mas acabo sempre por gostar quando o faço, achei que era uma boa maneira de ler um livro fora da minha zona de conforto.

 

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Comecei por gostar muito da premissa deste thriller psicológico: seis amigos adolescentes têm futuros promissores à sua frente, mas no Verão antes de entrarem na Universidade acabam por fazer com que uma brincadeira arriscada se transforme num acidente. Como consequência disso, uma mulher e duas crianças morrem.

 

They had a secret, you see, that summer. On the rare occasions, in years to come, when they talked about it, they could never agree quite how it started or whose idea it had been. Maybe at the beginning, none of them really intended to go through with it; maybe it had simply been something fun to talk about. The coolest dare imaginable; simple and yet so freakishly, thrillingly dangerous. None of them could have said when the talk became reality, when they realised it was actually going to happen. 

 

Megan, uma das raparigas do grupo, decide dar o corpo às balas e assumir a culpa — mas não sem antes fazer os amigos prometer que lhe, quando se libertar da prisão, cada um lhe deve um “favor”. Ora, vinte anos depois destes acontecimentos, Megan está cá fora e começa a cobrar esses mesmos favores. O resto deixo para que leiam, se tiverem curiosidade, pois não quero estragar a experiência de leitura a ninguém.

 

Como explicar o que achei deste livro? Tem o ritmo próprio dos thrillers, o que é positivo, já que me dava sempre vontade de ler para saber o que estava a acontecer, mas, por outro lado, achei-o demasiado “mastigado” em alguns pontos. Ou seja: acho que passamos demasiado tempo em suposições de coisas que nós, como leitores, já percebemos, e pouco tempo a construir com solidez a forma como a história acaba — e o twist final.

 

Em resumo: às tantas já me estava a irritar, mas pode ser um bom livro para limpar o palato entre leituras mais densas, se assim precisarem. Uma coisa é certa, eu já só queria acabar de ler para garantir que ainda conseguia surpreender-me e, mesmo que não tenha sido a melhor coisa da vida, pelo menos fiquei super agarrada nos capítulos finais.

 

Já leram este livro? Se sim, o que acharam?

Sex | 24.02.23

We All Want Impossible Things, Catherine Newman

Se ouviram o episódio de Livra-te em que eu e a Joana falamos da desgraça que a viagem a Edimburgo foi para as nossas carteiras, se calhar recordam-se de eu ter comprado alguns livros na WHSmith do aeroporto. Um deles, We All Want Impossible Things, de Catherine Newman, foi uma compra de impulso — gostei da capa, gostei da sinopse e verifiquei num instante que tinha boa cotação no Goodreads.

 

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O livro conta a história de duas melhores amigas desde a infância. Edith está em cuidados paliativos porque sofre de um cancro terminal, mas é Ashley quem narra na primeira pessoa, o que me pareceu uma forma muito interessante de explorar o que é ter alguém tão importante para nós numa situação que é inevitável e apenas “uma questão de tempo”. O enredo é bastante realista e desde as primeiras páginas que sabemos que esta não é uma daquelas histórias em que, por milagre, a personagem de Edi sobrevive apesar de medicamente isso ser bastante improvável.

 

Posso dizer-vos que adorei este livro, envolvi-me com todas as personagens e sofri com todas elas: Ash e Edi, claro, mas também as respectivas famílias e amigos, já que todo o conjunto de personagens deste livro está a tentar lidar com a impotência de não conseguir fazer nada por Edith. As personagens têm falhas, são humanas. Por vezes também são irritantes, mas isso faz parte, até porque estão todas a navegar neste luto antecipado.

 

Além de ser um livro sobre perda e sobre o luto que, muitas vezes, tem de ser feito quando a pessoa ainda está viva, é também uma ode às amizades que são histórias de amor. Ashley e Edith são a pessoa uma da outra e essa relação de amizade está extremamente bem construída — elas não estiveram sempre bem uma com a outra ao longo das suas vidas, mas estiveram sempre juntas.

 

Everyone dies, and yet it’s unendurable. There is so much love inside of us. How do we become worthy of it? And, then, where does it go? A worldwide crescendo of grief, sustained day after day, and only one tiny note of it is mine.

 

Eu ainda não perdi nenhum familiar próximo, então a morte e o luto são temas quase magnéticos para mim, como se, ao ler estas histórias, eu estivesse de alguma maneira a preparar-me para o que pode acontecer. We All Want Impossible Things mostrou-me diversas perspectivas e, acima de tudo, fê-lo com uma escrita trágica e sarcástica em medidas iguais — um equilíbrio super difícil de conseguir.

 

A escrita de Catherine Newman não me convenceu nos primeiros capítulos, mas depois consegui entrar e fui só eu a lidar com as emoções até ao fim do livro. É uma novidade deste ano, mas gostava mesmo muito que traduzissem para português brevemente porque acho que pode correr bastante bem cá!

Qui | 23.02.23

Taste: My Life Through Food, Stanley Tucci

Começo por dizer que não acompanho o trabalho de Stanley Tucci enquanto actor. Apareceu numas quantas coisas que já vi — e gostei da prestação —, mas não é daquelas pessoas por quem tenho um carinho especial. Daí que até me surpreendi a mim mesma quando percebi que tinha vontade de ler este livro; e escolhi a versão áudio por ser narrado pelo autor.

 

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Taste: My Life Through Food é uma autobiografia estruturada através das memórias gastronómicas que de Stanley Tucci. Escrevi durante algum tempo sobre a relação afectiva que conseguimos ter com a nossa história através da comida e, por isso, é um tema que me é muito querido e fico sempre feliz quando leio livros como este. O autor consegue realmente levar-nos numa viagem pelos momentos mais importantes da sua vida através da comida: a cultura italiana da sua família, os projectos que fez em televisão e cinema, e, até, o cancro e a morte da sua primeira mulher.

 

Losing a beloved family heirloom is a very real personal loss; they're things that cannot ever be replaced or re-created. But perhaps the most precious heirlooms are family recipes. Like a physical heirloom, they remind us from whom and where we came and give others, in a bite, the story of another people from another place and another time. Yet unlike a lost physical heirloom, recipes are a part of our history that can be re-created over and over again. The only way they can be lost is if we choose to lose them.

 

Stanley Tucci assume que vive para comer, para descobrir o mundo através da comida, e que esse é o seu grande talento, mais do que representar ou escrever. Eu acho que essa é uma das coisas mais bonitas que uma pessoa pode perceber sobre si mesma: aquilo que a faz ter vontade de viver realmente.

 

Se Stanley Tucci não me dizia grande coisa enquanto actor, posso garantir que fiquei fascinada pela sua forma de ver o mundo e de comunicar essa mesma postura. Outra coisa que garanto: vão ficar com imensa fome se lerem ou ouvirem este livro e, se tudo correr bem, com uma extrema vontade de cozinhar. A melhor parte é que o autor vai deixando, aqui e ali, receitas que são importantes na sua vida. Vou certamente querer uma cópia física deste livro para poder recriá-las.

 

Conheciam este livro? Ficaram com vontade de o ler ou ouvir? Contem-me tudo!

Ter | 21.02.23

Hex, Jenni Fagan

Li este livro depois de voltar de Edimburgo e ainda não sei bem como falar sobre ele — é que é um tipo de leitura tão específico, que gostaria de vos dizer as coisas certas, para que fiquem com vontade de o ler também. Começo por dizer que é uma reinterpretação de uma história conhecida no folklore escocês: a história de Geillis Duncan, uma mulher condenada à morte por bruxaria.

 

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Neste pequeno livro, Jenni Fagan apropria-se dessa personagem, mas dá um twist bastante interessante à lenda: a 4 de Dezembro de 1591, na última noite da sua vida, antes de ser executada, Geillis Duncan recebe uma visita inesperada. Trata-se de Iris, uma mulher contemporânea, que a contacta de 2021. A partir daí, desenvolve-se uma dinâmica super interessante entre as duas: Geillis conta a sua história, enquanto Iris lhe oferece conforto.

 

- Do you know, Geillis, I like tho think about what would happen if the women of now went out to march for the women of then. And if… the women of then marched with the women of now.
- I would do that, Iris, we all would.
- Would you?
- Aye, all the witches in the faraway world you come from and here too, all together, marching.

 

A conversa entre as duas e a reflexão que decorre dessa conversa são a parte mais interessante deste livro, já que abordam a forma como a violência contra as mulheres continua a ser um tema, mesmo passados tantos séculos. Gostei muito deste paralelismo que de desenvolve da “caça às bruxas”, isto é, da perseguição da sociedade a mulheres inteligentes, fortes e independentes. Não prometo que não sintam alguma revolta durante a leitura, até porque acho que esse era um dos objectivos da autora, mas garanto que vão querer guardar várias citações.

 

Antes que perguntem: não, não precisam de estar familiarizados com a história de Geillis Duncan para compreenderem este livro. Se quiserem ficar a par, basta uma pequena pesquisa na Internet, mas o livro vive bem por si só e contextualiza o suficiente para que percebam tudo. Também não está traduzido, mas se tiverem facilidade com o inglês, podem apostar porque a escrita é relativamente simples.

 

Vamos lá a saber: ficaram com vontade de o ler?

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