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Rita da Nova

Qui | 15.12.22

Kindred, Octavia E. Butler

Ouviram o episódio desta semana do Livra-te, com a Elga Fontes? Então não vão encontrar aqui nada de diferente e já terão percebido porque é que Kindred, de Octavia E. Butler, me veio parar à lista de livros para ler. Estava com algum receio de o ler por causa da capa do filme, mas tudo isso me passou assim que li os primeiros parágrafos.

 

kindred-octavia-butler.JPG

 

Kindred foi o primeiro livro de ficção científica escrito por uma mulher negra e traz uma visão única sobre o tema da escravatura. Mais do que escrever um livro em muito semelhante a outros, a autora pergunta-se: e se uma mulher negra dos anos 1970 fosse transportada para o sul dos Estados Unidos no século XIX? Tudo começa quando Dana, a personagem principal, viaja no tempo e salva um menino branco de morrer afogado.

 

I closed my eyes and saw the children playing their game again. 'The ease seemed so frightening.' I said. 'Now I see why.'
'What?'
'The ease. Us, the children ... I never realized how easily people could be trained to accept slavery.

 

Eu já sei o que vão dizer: saltos temporais não são a minha cena, Rita. Também não são assim tanto a minha, mas prometo que a forma inteligente como este livro está escrito — com muito cuidado para não haver pontas soltas —, vai certamente prender-vos. Gostei sobretudo da reflexão sobre aquilo de que somos feitos, sobre o facto de muitas pessoas serem, hoje em dia, fruto do sofrimento dos seus antepassados. Além disso, as consequências da escravatura continuam muito presentes no inconsciente das gerações actuais, por mais séculos que passem.

 

Sinto que nunca vou ser capaz de fazer jus a este livro, porque há tantas camadas e está escrito de uma forma tão inteligente, mostrando as diferentes camadas na dinâmica entre esclavagistadas e escravizados. Acima de tudo, fá-lo com uma linguagem bastante actual — como dizia a Elga, no episódio, é um clássico que não se lê como tal.

 

Editoras, atendam a este pedido! Já o tinham lido? Se sim, o que acharam? Infelizmente, este livro não está traduzido para português, mas pode ser que isso aconteça no futuro.