Chegámos ao último post sobre as melhores coisas de 2022 e é claro que tinha de deixar os livros para o fim. Nesta vida de leitora, nunca se sabe se um dos favoritos não é lido mesmo nos últimos dias do ano. Adianto já que não foi o caso, mas pelo menos garanti que a lista que vos trago é o mais fiel à realidade que poderia ser.
Estava à espera que fosse complicado escolher apenas dez livros, mas até que foi mais fácil do que esperava. Acho que este foi o ano em que li mais desde que tenho memória — 130, se conseguir acabar o que estou a ler de momento —, e também foi um ano repleto de leituras boas. O facto de ter lido alguns destes livros conjuntamente com as pessoas do Discord do Livra-te também ajudou muito a que criasse uma ligação emocional diferente com eles.
Se ouvem o Livra-te, provavelmente vão perceber que esta lista é ligeiramente diferente da que deixei no episódio desta semana, mas tudo tem uma razão. É que aqui, ao contrário do que fiz no podcast, quis mesmo fazer a distinção entre os melhores audiolivros e os melhores livros. Por isso, se ainda não leram, vão sempre a tempo de consultar os melhores audiolivros de 2022 para mim. E agora, sem mais demoras e sem nenhuma ordem em particular, os dez melhores livros do ano:
1. The Year of Magical Thinking, Joan Didion
“Acho que nunca tinha sentido necessidade de sublinhar um livro como tive com este, cada frase me ficava mais gravada na memória do que a anterior. Felizmente, eu ainda não perdi ninguém que me é muito querido, por isso o luto ainda é uma coisa muito estranha para mim, e talvez por isso me fascine tanto ler sobre o tema.”
“Se esta espécie de review completamente babada ainda não vos convenceu, então digo-vos isto: durante toda a leitura, tive a sensação de ter nas mãos uma espécie de A Sombra do Vento. Convencidos, agora? Espero que sim. Agora vou ali para o canto chorar, por dois motivos: primeiro porque nunca mais vou poder ler este livro pela primeira vez; e depois porque nunca o vou conseguir escrever.”
“Há muito tempo que não me acontecia ter vontade de reler um livro mal tinha acabado de o ler pela primeira vez, o que só mostra o quão apaixonada fiquei por esta história.”
“Mais do que explorar acontecimentos históricos dos quais, provavelmente, poucos de nós tinham conhecimento, este livro explora muito bem a ideia de tradição familiar e de pertença. Faz-nos questionar o que é realmente pertencer a um país e a uma nacionalidade: é o facto de lá vivermos? São os nossos antepassados? E quem somos nós quando não nos identificamos necessariamente nem com o país em que nascemos, nem com o país de onde os nossos pais são provenientes?”
“A escrita de Bethan Roberts é perfeita — com o equilíbrio ideal entre liricismo e acção — e acredito que tenha sido um dos motivos pelos quais me apaixonei tanto por My Policeman. Por isso, sim: este é um dos melhores no ano e um daqueles que eu vou levar para a vida.”
“No fundo, Sorrow and Bliss mergulha profundamente na forma como a doença mental (e o seu diagnóstico) tem a capacidade de afectar tudo à nossa volta — não apenas a forma como vemos o mundo e como nos comportamos, mas também as nossas relações com família e amigos e, até, a própria vida das pessoas que estão à nossa volta.”
“Todas personagens são pessoas que poderíamos muito bem conhecer, pessoas que cometem erros e tomam decisões erradas, mesmo tendo todas as condições de vida para estar num cenário mais feliz e saudável. Gosto muito que Coco Mellors tenha feito escolhas que reforçaram o realismo deste enredo, dando força à ideia de que nem sempre as pessoas aparecem na altura certa das nossas vidas.”
“Demorei algum tempo a escrever esta review e ainda não tenho a certeza de que seja capaz de vos convencer a ler este livro com o que vou dizer sobre ele. Piranesi, de Susanna Clarke, é um daqueles livros meio ingratos de recomendar, já que a experiência será tão melhor, quanto menos o leitor souber de antemão. Ou seja: vão mesmo ter de ir às cegas.”
“Identifiquei-me muito com a Carrie, entendo perfeitamente a vontade — necessidade, até — de ser a melhor, de competir constantemente consigo mesma e com os outros, mesmo que isso não caia bem a toda a gente. Podia estar aqui horas a falar sobre este livro — que empatou no meu coração com The Seven Husbands of Evelyn Hugo —, mas nada substitui a experiência de o lerem. Então digo apenas: leiam!”
“É verdade, The Dinner List foi o segundo livro de Rebecca Serle que li este ano e ainda não foi desta que senti vontade de parar. Acho que descobri aqui uma autora que, mesmo não estando dentro do meu género habitual, me preenche as medidas de leitora em vários aspectos.”
Se quiserem ouvir-me falar um pouco mais sobre alguns dos livros desta lista, assim como as minhas piores leituras do ano, nada como saltarem daqui para o episódio de Livra-te desta semana:
Por fim, estou muito curiosa para saber quais foram os vossos favoritos e se algum destes livros de que falei aqui faz parte. Contam-me tudo nos comentários?
Quando escolhi Legendborn, de Tracy Deonn, para a última leitura de 2022 do Clube do Livra-te, estava longe de imaginar que iria gostar tanto. Decidi ir buscar um livro de fantasia para sair da minha zona de conforto e para entrar no espírito natalício com alguma magia, mas não esperava gostar tanto da forma como esta história está construída.
Legendborn é um retelling da Lenda do Rei Artur, que se passa aos dias de hoje e é protagonizado por Bree — uma adolescente negra que perdeu a mãe recentemente num acidente de automóvel. Bree entra num programa da Universidade da Carolina para alunos de mérito e, na primeira noite no campus, assiste ao ataque de um demónio. Apercebe-se da existência de magia e, ao longo do livro, vamos percebendo que as suas raízes estão ligadas à Lenda do Rei Artur.
Não vou dizer mais nada sobre o enredo, porque não quero estragar a experiência de leitura, mas tudo neste livro me surpreendeu pela positiva. Começando pela fantasia: adorei rever a lenda arturiana — que me relembrou o quanto adorei As Brumas de Avalon quando era pequena —, achei que o universo está muito bem explicado mesmo para quem não está familiarizado com este mito. Quanto aos restantes temas do livro, que são independentes do lado fantasioso, não posso deixar de destacar a forma incrível como se fala de luto — sobretudo de como o luto nos transforma numa pessoa que não éramos antes da perda.
Some truths only tragedy can teach. The first one I learned is that when people acknowledge your pain, they want your pain to acknowledge them back. They need to witness it in real time, or else you're not doing your part.
É certo que, sendo um livro young adult, tem uma série de temáticas mais adolescentes, mas nada disso me fez confusão — nem o triângulo amoroso que parece estar prestes a acontecer. Gostei muito da forma como a autora trata questões de racismo e microagressões, tudo através da Bree. Pelo que fui vendo na leitura conjunta deste livro no Discord, houve quem não a adorasse, mas eu gostei bastante dela enquanto personagem principal. Ainda assim, o meu coração vai para o Sel — sem dúvida, a personagem mais bem construída de toda a história.
Por isso, olhem: mesmo que não gostem de fantasia, mesmo que não gostem de livros young adult, mesmo que não liguem patavina à Lenda do Rei Artur, eu ainda assim recomendo que experimentem ler Legendborn. Fico muito feliz por ter confiado no meu instinto e por ter feito esta escolha um pouco mais aleatória. Está traduzido para português (Lendários) e a sequela (Bloodmarked) saiu há pouco tempo, hei-de ir lá eventualmente.
Agora, digam-me: ficaram com curiosidade de ler? Quem já se aventurou, o que achou?
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O que é o Clube do Livra-te?
É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!
Não sei se fazem parte do grupo de pessoas que só recentemente começou a ver Seinfeld a sério, mas eu faço. O meu pai adorava ver quando passava na televisão e, à conta disso, apanhei vários episódios isolados — porém, só há pouco tempo é que decidimos assistir do início ao fim cá em casa. Isto para vos dizer que só agora me fez sentido ler (ou ouvir, no caso) o mais recente livro de Jerry Seinfeld, chamado Is This Anything?.
Este livro não é mais do que uma colectânea de alguns dos seus bits de stand-up favoritos, divididos por décadas. Claro que reconheci vários que fazem parte da série, provavelmente porque está muito presente na minha memória, mas foi engraçado de perceber como é que o ângulo cómico do humor de observação foi mudando com a passagem dos anos.
I find I do not like to turn around anymore to see something that is behind me. If I’m going this way, and someone wants me to see something that is that way, and they’re all excited, “Jerry, you’ve got to see this.” I disagree. I don’t feel old. I don’t feel tired. I’ve just seen a lot of things. I’ll see it on the way back when it’s in front of me, how about that? Or, I won’t see it. Or, I’ll Google it. Or, I’ll just assume it’s probably a lot like something else I’ve already seen.
Is This Anything? não me fez chorar de tanto rir, nem acho que tenha sido uma das melhores leituras do ano, mas serviu o propósito: ler qualquer coisa leve, divertida e que não me obrigasse a pensar muito. Ainda assim, é um daqueles livros em que recomendo ouvir em vez de ler. Como é narrado pelo autor, é como se tivéssemos Jerry Seinfeld a fazer stand-up aos nossos ouvidos — e acredito que se perca grande parte da entrega das piadas se lermos só. Vale também para aquelas pessoas que não se concentram a ouvir audiolivros: os textos são tão pequenos, que não vão perder informações importantes quando o vosso cérebro começar a desligar.
Sei que também está traduzido para português, mas não tenho informações sobre a qualidade da tradução — Jerry Seinfeld faz bastantes jogos de palavras no texto que escreve, pelo que talvez seja melhor optarem pelo original se se sentirem confortáveis. Quem desse lado já leu (ou ouviu) este livro?
Acho que todos os anos começo este post da mesma forma: não vi tantas séries quanto gostaria, mas quando é hora de dividir o meu tempo entre séries e livros, os últimos têm sempre prioridade. Na realidade, o facto de ter começado a trabalhar por conta própria e de o fazer maioritariamente em casa ajudou a que pudesse dedicar mais tempo às séries — já reservava a hora de almoço e a hora de jantar, mas agora posso fazê-lo mais vezes sem ter a preocupação de “ter de voltar ao trabalho”.
Assim, acho que em 2022 acabei por assistir a mais séries do que nos anos anteriores e, acima de tudo, foquei-me naquelas de que iria certamente gostar. As que vos apresento foram as minhas favoritas, apresentadas sem qualquer ordem em particular:
1. Atlanta
Acho que não se fala o suficiente desta série, que se reinventa a cada nova temporada. Chegou ao fim este ano, com muita pena minha, mas reconheço que soube terminar bastante bem. Fica melhor a cada temporada que passa: é cada vez mais satírica, mais crítica e tem ali uns laivos de surrealismo que eu aprecio muito.
2. House of the Dragon
Não dá para falar das séries de 2022 sem referir a prequela de Game of Thrones, que condensa todas as coisas boas deste universo. Acho que estávamos todos com as expectativas bem em baixo depois do final de Game of Thrones — e eu não gostava particularmente da Casa Targaryen —, mas diverti-me muito com esta série e aguardo ansiosamente pela segunda temporada.
3. Gilmore Girls
Sim, só agora, deixem-me. Comecei a ver no Outono do ano passado e ainda não terminei porque é a série que vejo quando o Guilherme não está em casa. É a minha série de conforto, quero ser a Lorelai e mudar-me para Stars Hollow.
4. Severance
Foi, sem dúvida, a série que mais me prendeu este ano — e só a vi agora em Dezembro. Acho que é a melhor crítica ao mundo laboral e corporativo que vi até hoje. A premissa é óptima: existe uma empresa em que os trabalhadores aceitam colocar um chip no cérebro para conseguirem separar o “eu” do trabalho do “eu” da vida pessoal — assim, as suas memórias são completamente separadas e não interferem umas com as outras. Imaginem que The Office tinha um filho com The Handmaid’s Tale e aí têm Severance.
5. TheWhite Lotus
Vi as duas temporadas este ano e, mais houvesse, mais eu veria. Não comecei muito convencida, mas a meio da primeira já estava totalmente agarrada. O conceito da série é bastante interessante: as temporadas passam-se num Resort White Lotus, onde há uma morte suspeita. É uma série de comédia negra, mas acaba por falar bastante sobre a natureza humana e as dinâmicas das relações entre pessoas.
6. Moon Knight
É certo que o universo Marvel pode parecer sempre a mesma coisa ou pode parecer que “são só super heróis”, mas Moon Knight foi uma das melhores coisas que vi este ano. A personagem do Moon Knight é super interessante, traz bastante mitologia egípcia para cima da mesa e abre a discussão para questões de saúde mental. Bem sei que parece uma baralhada — e que pode custar a entrar —, mas prometo que é óptimo.
7. Stranger Things
Eu estava progressivamente mais desencantada com Stranger Things até que esta última temporada me fez apaixonar-me novamente pela série. Está um pouco mais adulta e negra do que as anteriores, mas começa a juntar as pecinhas do puzzle para chegarmos à próxima (e última) temporada da série. Tem um bom vilão e os criadores começam a ter coragem de tomar decisões importantes para a série, mas difíceis para as personagens de quem tanto gostamos.
8. Conversations with Friends
Não, não é tão boa quanto a adaptação de Normal People, mas vocês sabem que eu aproveito todas as oportunidades de contactar com a escrita e as histórias de Sally Rooney. Conversations with Friends é o meu livro favorito da autora e embora a série tenha sido uma seca para a maioria das pessoas, eu gostei bastante. Fiquei cheia de vontade de reler o livro, o que só pode ser bom sinal.
9. The Bear
Um Chef de cozinha habituado a trabalhar em restaurantes Michelin regressa a casa para tomar conta do restaurante de bairro do irmão, que se suicidou. Esta é a premissa da série, mas não faz jus à obra de arte que é. O ritmo consegue reproduzir muito bem como é trabalhar numa cozinha profissional — e a fotografia da série é maravilhosa.
10. Sandman
À partida não seria o tipo de série de que eu gostaria, mas dei uma hipótese e gostei mesmo muito. O Deus dos Sonhos, Morpheus, regressa depois de décadas aprisionado e começa a reconstruir o seu domínio. Parece uma coisa básica de fantasia, mas tem o lado sombrio próprio do criador da série, Neil Gaiman. Embora não me tenha despertado interesse de ler as bandas desenhadas, deu-me certamente muita vontade de ler livros do autor.
Que séries destacariam este ano? Viram algumas das que referi? Quais não posso perder em 2023? Se vos interessar, podem sempre rever as séries de que mais gostei em 2021 e 2020.