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Rita da Nova

Sex | 25.11.22

The Dictionary of Lost Words, Pip Williams

Tinha este livro perdido na minha wishlist do Kobo e, no momento de decidir qual seria a minha escolha para o Clube do Livra-te de Novembro, lembrei-me dele porque verifiquei que estava traduzido para português. Tinha as expectativas bastante calibradas para este The Dictionary of Lost Words, de Pip Williams, e posso dizer que foram largamente superadas.

 

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Este livro conta a história da criação do primeiro Dicionário de Inglês Oxford, mas através do ponto de vista de Esme, filha de um dos editores. Desde criança que passa os seus dias no Scriptorium, onde o pai e outros editores trabalham diariamente para reunir (e verificar) as palavras que devem ou não ir para o dicionário. Um dia, uma pedaço de papel com uma das palavras (”escrava”) cai da grande mesa de trabalho e Esme começa aí a sua grande colecção de palavras perdidas.

 

Vamos acompanhando a vida de Esme e, com isso, a evolução dos diferentes volumes do dicionário, bem como da sociedade em geral. O movimento das sufragistas e o início da I Guerra Mundial são o pano de fundo desta história, que reforça constantemente a importância e o poder das palavras. É através da personagem de Esme que somos forçados a fazer perguntas interessantes, como: quem escolhe que palavras são suficientemente relevantes para terem uma entrada no dicionário? Porque é que as palavras mais usadas pelas mulheres e pelas pessoas pobres não são sequer consideradas?

 

I realized that the words most often used to define us were words that described our function in relation to others. Even the most benign words — maiden, wife, mother — told the world whether we were virgins or not. What was the male equivalent of maiden? I could not think of it. What was the male equivalent of Mrs., of whore, of common scold?... Which words would define me? Which would be used to judge or contain?

 

Tinham-me avisado do ritmo lento como o livro é narrado, mas posso dizer que estava a precisar de um livro assim — daqueles que nem sequer convém devorar, daqueles que exige que nos embrenhemos na escrita a na narrativa. É certo que se enquadra dentro do género da ficção histórica, mas eu fiquei agradavelmente surpreendida pela perspectiva escolhida para contar os eventos, bem como pela forma como a autora nos puxa para o ambiente que se vivia no Scriptorium.

 

Até a forma como a autora escreve os agradecimentos é original, fazendo-o ao estilo de entradas de dicionário. Além disso, recomendo muito que leiam a nota final, que explica que eventos e personagens da história são reais e quais são ficcionados. Nota-se que houve bastante investigação para criar esta narrativa, mas também que Pip Williams conseguiu escrever com um tom que entretém ao mesmo tempo que ensina.

 

Foi mesmo uma agradável surpresa, durante horas senti-me a viver lado a lado com Esme. Tenho a certeza de que este livro será um daqueles que vou recomendar a várias pessoas, mesmo que não tenha passado directamente para a categoria de favoritos da vida. E vocês, já o leram? O que acharam?

 

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