Mayflies, Andrew O’Hagan
Ouvi falar de Mayflies, de Andrew O’Hagan, através do Instagram e houve logo qualquer coisa na capa que me chamou a atenção. Não sabendo grande coisa sobre ele, trouxe-o numa visita espontânea à Fnac e ficou à espera que fosse a vez dele na minha lista interminável de coisas para ler. Depois de gravar o episódio desta semana do Livra-te, ganhou prioridade e assumiu rapidamente o título de uma das leituras mais dolorosas deste ano.
A história está dividida em duas partes: a primeira passa-se em 1986 e retrata a amizade entre James (o protagonista e narrador) e Tully — o amigo mais importante da vida de James, muitas vezes o centro do grupo de amigos. Durante esta primeira parte, acompanhamos os amigos numa viagem a Manchester para assistir a concertos. É no relato desse fim-de-semana que nos são apresentadas as personalidades dos adolescentes e as dinâmicas que existem entre si.
What we had that day was our story. We didn't have the other bit, the future, and we had no way of knowing what that would be like. Perhaps it would change our memory of all this, or perhaps it would draw from it, nobody knew. But I'm sure I felt the story of that hall and how we reached it would never vanish.
Pode ser um bocadinho difícil de entrar na forma como está escrito e senti que precisava de estar concentradíssima, mas assim que mergulhava na história conseguia mesmo imaginar-me a passar aqueles dias com as personagens. Arrepiei-me quando os The Smiths subiram a palco, como se estivesse presente — não apenas pelas descrições da música ao vivo, mas pela forma como a personagem principal observa os amigos a divertir-se naquele momento.
A segunda parte deste livro é uma facada no coração do início ao fim — e é o motivo pelo qual este foi um dos livros mais dolorosos que li este ano. Passa-se em 2017, trinta anos depois do fatídico fim-de-semana em Manchester, e tudo começa quando Tully telefona a James para lhe dar uma notícia. A partir daí, a amizade entre os dois homens desenvolve-se de formas que nenhum deles esperava e as dinâmicas de poder começam a mudar. Está escrito de uma forma aparentemente simples, mas faz-nos realmente sentir a prova de fogo a que estes dois amigos são sujeitos.
Não sei se é um livro para toda a gente, e também não sei se teria gostado tanto se a música de The Smiths não tivesse tido um papel importante na minha chegada à idade adulta, mas liguei-me muito a este livro e a estes dois amigos. Não posso dizer mais nada, senão estrago-vos completamente a segunda parte do livro que, para mim, é a mais bonita.
Para já, contem-me: já tinham ouvido falar deste livro? Ficaram com vontade de o ler?