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Rita da Nova

Ter | 11.10.22

Notes to Self, Emilie Pine

Agradeço todos os dias por ter descoberto que gosto de ouvir audiolivros e que, felizmente, os livros que gosto de ouvir não têm nada a ver com aqueles que gosto de ler — porque só assim leio excelente não-ficção e óptimos ensaios a que, de outra forma, nunca prestaria atenção. É o caso de Notes to Self, de Emilie Pine, uma colecção de textos super pessoais sobre a vida da autora.

 

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Em apenas cinco ensaios, Emilie Pine consegue abordar uma série de temas que parecem óbvios e humanos, mas que são muitas vezes silenciados porque temos vergonha de falar sobre eles. Abortos espontâneos e infertilidade, alcoolismo, conflitos familiares, o fardo de cuidar de uma pessoa doente, entre vários outros assuntos, são tratados de uma forma muito honesta e, por isso, bonita.

 

When people thank me for this collection, telling me that it breaks the silence around infertility and alcoholism, women’s bodies and family conflict, I wonder how it is that these silences still exist. We all go through these life experiences, and more, and I am certainly not the first to write about any of them. But it is as if the silence is so significant, so enduring, that after we break it, it re-forms. And so we have to keep breaking it. We need all our voices to do this. It is a collective task.

 

Emocionei-me com as histórias da autora como se fossem as minhas e depois compreendi que sim, são também as minhas. Mesmo que não se tenham passado exactamente como se passaram com ela, há sentimentos partilhados, dores que reconheço. Acredito que sejam também capazes de se relacionar com a escrita de Emilie Pine e com a coragem que teve em pôr várias destas coisas por escrito, para que o mundo inteiro possa ler e aprender a normalizar.

 

Acho que ainda não está traduzido, mas o inglês é fácil — e, apesar de autora ser irlandesa, também se ouve bastante bem na versão áudio. Agora contem-me: que livros de ensaios dentro deste género me recomendariam? Gostavam que fizesse aqui um post mais completo sobre audiolivros: onde oiço, recomendações, etc?

Sex | 07.10.22

My Policeman, Bethan Roberts

Este ano já aqui disse muitas vezes que tinha acabado de ler um dos melhores livros de 2022 — tanto, que vocês provavelmente já nem ligam ao que eu digo. Eu compreendo, mas peço a vossa atenção especial para My Policeman, de Bethan Roberts, um livro que li única e exclusivamente porque vai ter uma adaptação para filme com o meu queridinho Harry Styles, mas pelo qual me apaixonei imediatamente.

 

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Escrita alternadamente entre o ponto-de-vista de Marion e o ponto-de-vista de Patrick, esta história passa-se em Brighton, nos anos 50, e centra-se em Tom — um polícia, casado com Marion e amante de Patrick. À medida que ficamos embrenhados no enredo, vamos percebendo como é que os casais se formaram e, consequentemente, como é que o triângulo amoroso se manteve ao longo dos anos.

 

Mais do que ser sobre a relação de Tom com Marion e Patrick, é sobretudo acerca da relação que Marion e Patrick criam um com o outro — nem sempre positiva, é certo. Se há uma palavra que descreve este livro, então essa palavra é empatia. A autora mostra-nos a história da perspectiva de Marion e ficamos do lado dela, só para depois nos trocar as voltas e nos fazer torcer por Patrick.

 

In those days it was rare, wasn't it, Patrick, for Tom's voice to become what you might call serious; there was always a lot of up-and-down in it, a delicacy, almost a musicality (no doubt that's how you heard it), as thought you couldn't quite believe anything he said. Over the years, his voice lots some of its musicality, partly, I think, in reaction to what happened to you; but even now, occasionally, it's like there's a laugh behind his words, just waiting to sneak out.

 

A escrita de Bethan Roberts é perfeita — com o equilíbrio ideal entre liricismo e acção — e acredito que tenha sido um dos motivos pelos quais me apaixonei tanto por My Policeman. Por isso, sim: este é um dos melhores no ano e um daqueles que eu vou levar para a vida.

 

A parte boa é que está prestes a ser lançado na sua versão traduzida, chega às livrarias no dia 27 de Outubro, e assim toda a gente vai poder agarrar-se a esta história tão bonita. Já leram? Ficaram com vontade de ler? Contem-me tudo!

Qui | 06.10.22

Loveless, Alice Oseman

Peguei no Loveless, de Alice Oseman, com bastante motivação — tinha adorado a experiência de ler o primeiro volume de Heartstopper, uma das novelas gráficas da autora, e a ideia de desenvolver uma história centrada numa personagem assexual e arromântica despertou logo a minha curiosidade.

 

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O livro tem efectivamente uma perspectiva fresca e importante. Como, aliás, todo o trabalho que Alice Oseman faz do ponto de vista da representatividade: os livros dela exploram diferentes identidades e diferentes formas de amar, o que me faz torcer pelo sucesso dela, mesmo que não me identifique com a forma como escreve.

 

Tirando este disclaimer inicial, o veredicto final é: não consegui ligar-me a este livro. Para vos situar, Georgia, a personagem principal, é uma adolescente viciada em RomComs e Fanfiction, mas nunca se apaixonou por alguém. Embora espere que a entrada na universidade seja o momento certo para, finalmente, encontrar o amor, isso nunca acontece. Com a ajuda de Sunil, que está uns anos mais à frente e assume uma identidade não-binária, Georgia compreende que é assexual e arromântica. Paralelamente, outras personagens que fazem parte do grupo de amigos de Georgia também estão a passar pelo processo de encontrar o lugar em que se sentem mais confortáveis dentro do espectro da sexualidade e da identidade de género.

 

I've learnt some things. Like the way friendship can be just as intense, beautiful and endless as romance. Like the way there's love everywhere around me - there's love for my friends, there's love for my paintings, there's love for myself.

 

Tudo isto estaria mais do que bem, não fossem as personagens mal desenvolvidas e a escrita repetitiva. A autora usa as mesmas frases vezes e vezes sem conta, provavelmente para reforçar a mensagem, mas acaba por ter o efeito oposto — enquanto leitores, sentimos que acha que somos burros. Passei as 400 páginas a desejar que fosse mais pequeno porque, na realidade, havia forma de dizer o mesmo em menos palavras.

 

Noutra nota — e confesso que só reparei depois de ter lido uma review no Goodreads que falava sobre isto —, Alice Oseman faz um esforço por incluir personagens com diferentes identidades de género, como Sunil. Porém, apesar de a personagem se apresentar como usando os pronomes he/they, a autora nunca usa o pronome "they" ao longo do livro — o que é uma oportunidade perdida para quem quer trabalhar a representatividade e mostrar que nem tudo é binário, não é mesmo?

 

Ainda assim, alguns pontos positivos para a mensagem de que as relações de amizade são tão ou mais importantes quanto as relações amorosas! Estava à espera de ter alguns anti-corpos à essência young adult desta história, mas foi mesmo a estrutura da narrativa que não me convenceu. De qualquer das formas, acho um livro bom e importante para as camadas mais jovens de leitores, sem dúvida. Aproveitem que está traduzido para português e ofereçam-no aos jovens leitores das vossas vidas.

 

Também leram este a propósito das escolhas de Setembro do Clube do Livra-te? Se sim, o que acharam?

 

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O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!

Ter | 04.10.22

Música para o mês // Outubro

Ufa, que Setembro foi intenso. Intenso, mas bom — acho que já não sentia que podiam caber tantas coisas num mês. Entre alguns trabalhos de freelance e de criação de conteúdos no Instagram, passando pelo meu aniversário em Nova Iorque (com direito a concerto do Harry Styles) e o começo das aulas de Língua Gestual Portuguesa, acho que a expressão rentrée não poderia ser mais acertada.

 

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Entro em Outubro com motivação, sim, mas também com vontade (e até necessidade) de abrandar um pouco. Confesso que fico feliz com a chegada dos dias de Outono, um pouco mais sombrios e frescos, porque isso me dá logo vontade de passar mais tempo em casa — a fazer menos coisas, mas a fazê-las com mais cuidado e intenção. Não sei se isto faz sentido, mas talvez tenha descoberto aqui o motivo pelo qual sou mesmo pessoa desta altura do ano.

 

E foi por isso mesmo que escolhi esta música da Sukie Waterhouse para receber Outubro — remete-me logo para este mood de que vos falo. Tem tocado diariamente aqui deste lado e espero que gostem dela ao ponto de passar a fazer parte da vossa playlist também. Ainda por cima, o videoclip oficial sai hoje à tarde, não tinha como não vos tentar contagiar com esta música e prometo actualizar o vídeo assim que estrear.

 

 

I talk about the past like I talk about you

I leave out every little thing that I don't like remembering

I miss you more than I say I do

You had to follow all your dreams, move to New York away from me

You were so easy to forgive, but not so easy to forget

Why can't I keep you right where I want you?

And even though you put an ocean in between us

I will try to keep us

Together, forever, nostalgia

It's crazy, baby, I want you

 

Já sabem que sou uma cusca do pior e vou querer saber o que têm planeado para Outubro. Contam-me ali nos comentários?

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