Quando li Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha, de Tati Bernardi, recebi imensas mensagens a dizer que devia também ler Depois a Louca Sou Eu, um livro de ensaios biográficos da mesma autora. Fiquei tão convencida pelas opiniões que me foram dando, que o encomendei e li recentemente — mas, infelizmente, não conseguiu corresponder às expectativas.
Tenho sempre dificuldade em fazer reviews de livros de memórias ou de ensaios autobiográficos porque não quero, de todo, invalidar as experiências dos autores ou a forma como as conseguiram expressar através das palavras. O que posso dizer sobre este Depois a Louca Sou Eu é que fala sobretudo das crises de ansiedade e dos ataques de pânico de Tati Bernardi — sempre com um toque de humor e sarcasmo, claro —, mas sinto que não consegui ligar-me à forma dela de sentir as coisas e de lidar com elas.
Nem gosto muito da minha rua. Então de onde vem a idealização de que preciso desses lugares mais que tudo e sempre e o tempo todo? De que todo o dia é uma eterna necessidade de voltar para esse lugar de onde me expulso porque também não o aguento? O pânico é a necessidade urgente de uma cama que não existe.
É certo que há partes que têm mesmo muita piada, com as quais me ri alto, mas talvez esperasse algo mais aproximado de Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha, de que tanto gostei. Importa também dizer que, embora não tenha sido uma experiência de leitura tão viciante quanto eu procurava, acho que a Tati Bernardi consegue transformar muito bem sentimentos e emoções através de palavras, mostrando-nos como é sofrer de ansiedade e ataques de pânico.
Creio que este livro pode fazer sentido para alguns de vocês — sobretudo se os temas de saúde mental e ansiedade estiverem bastante presentes no vosso dia-a-dia. Se preferirem algo dentro do mesmo género, mas um pouco mais fluido, então Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha é uma aposta a considerar.
Os audiolivros são um dos temas acerca dos quais recebo mais mensagens e perguntas — e, nesse sentido, achei que seria boa ideia criar um post aqui no blog onde vos contasse um pouco mais sobre como comecei a ouvir livros, que tipos de livros oiço e, acima de tudo, as plataformas que mais uso para o fazer. Tal como acontecia com a leitura em digital (Kobo, no meu caso), ao início eu sentia que talvez não fosse para mim: vivia muito agarrada à ideia de ler um livro de forma tradicional.
Porém, com a chegada do Kobo à minha vida, tornei-me um pouco mais aberta a diferentes formatos de leitura. Ouvi o meu primeiro audiolivro em 2021 — Becoming, de Michelle Obama — e fiquei logo rendida à experiência. Gosto sobretudo dos livros que são narrados pelos próprios autores porque, embora nem todos tenham uma voz típica de narrador, acabam por conseguir passar uma emoção mais aproximada do que era a sua intenção quando escreveram.
Que audiolivros oiço?
A minha escolha de audiolivros é muito especifica: percebi desde cedo que gostava sobretudo de ouvir livros de não-ficção, já que são aqueles em que sinto mais dificuldade de concentração se estiver a ler (físico ou digital). Falo de livros de não-ficção um pouco mais ligados a feminismo ou a mitologia, por exemplo, sobre os quais sempre tive interesse, mas acabava por sentir que a leitura era um momento de estudo e não de descontracção. Paralelamente, descobri que adoro ouvir histórias reais — biografias, livros de memórias, ensaios pessoais, etc.
A minha escolha de audiolivros recai muito nestes temas e géneros, provavelmente porque me dão a ideia de estar a ouvir um podcast mais longo e não uma história ficcionada. Nunca experimentei ouvir livros de ficção e acho que vou manter-me assim porque é uma forma de separar os dois tipos de leitura no meu cérebro — e, dessa forma, consigo estar a ler um livro físico e a ouvir um audiolivro “ao mesmo tempo” sem que tudo se misture na minha cabeça.
Além disso, consigo introduzir momentos de leitura quando, normalmente, não teria capacidade para estar a consumir um livro — por exemplo: quando estou a conduzir, a andar na rua com phones ou até a fazer tarefas mais mecânicas em casa, como limpar ou regar as plantas.
Dentro deste assunto, acho que é a pergunta que mais me fazem e a resposta mais directa é “em vários sítios”, mas eu prometo que vou concretizar. Comecei por ouvir audiolivros no Kobo — existe uma app que podem usar, mesmo que não tenham um Kobo ou caso o vosso modelo não suporte o formato de áudio. Infelizmente, caso não tenham a subscrição de Kobo Plus, terão de comprar os audiolivros à unidade e são bastante caros.
Vai daí, comecei a investigar outras apps, na maioria das quais pagam uma subscrição mensal e podem ouvir os que quiserem (ou a quantidade específica a que a vossa subscrição der direito). Já experimentei o free trial do Audible e, neste momento, estou a experimentar 60 dias grátis na app do Scribd. Até agora estou bastante satisfeita com o catálogo e, caso queiram testar e ver se os audiolivros são para vocês, podem usar este meu link para terem também acesso a 60 dias grátis.
Como é que é a vossa relação com este formato de leitura? Já experimentaram, têm curiosidade ou nem sequer querem dar uma oportunidade? Caso já tenham entrado neste mundo, deixem-me sugestões de apps ou de livros para ouvir!
Eu não precisava de mais provas de que Taylor Jenkins Reid é mestre a criar mundos ficcionados que parecem reais, mas o seu mais recente livro, Carrie Soto is Back, conseguiu mais uma vez a proeza de me transportar para uma realidade que não é a minha — e que também não é a da autora. Posso dizer que, até agora, foi a escolha do Clube do Livra-te que mais gozo me deu ler (sobretudo em conjunto com as pessoas que estão no Discord).
Neste livro, Taylor Jenkins Reid recupera a personagem da Carrie Soto, que faz uma breve aparição em Malibu Rising, e faz dela a personagem central desta nova história. Começa com a tenista, já retirada, a perceber que os seus recordes estão prestes a serem roubados por uma tenista mais jovem, a britânica Nicki Chan. Nesse momento, Carrie Soto toma a decisão de voltar à competição em 1995 e de participar nos quatros torneios que compõem um Grand Slam: Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open.
Carrie Soto regressa contra tudo e contra todos, mas conta com o apoio do pai — que em tempos também foi seu treinador —, e com o apoio de Bowe Huntley, um jogador mais ou menos da mesma idade dela, que continua a tentar singrar nas competições. E agora vocês perguntam: Rita, mas tu gostas ou percebes alguma coisa de ténis? Não. Mas essa é mesmo a magia de Taylor Jenkins Reid — interessar-nos em temas e em pessoas que, de outra forma, nos passariam completamente ao lado. Quando eu vos digo que estive colada a este livro do início ao fim, quero mesmo dizer que estive tipo UHU, Super Cola 3, o que quiserem.
Quem leu Malibu Rising sabe que Carrie Soto não é uma personagem lá muito simpática, mas, neste livro, compreendemos exactamente porque é que é tão competitiva e porque é que se comporta como uma bitch — não é exagero, é mesmo assim que a apelidam. Mas também mergulhamos na relação dela com o pai, talvez a parte que mais me emocionou em todo o livro, até porque o facto de serem também treinador e atleta (não apenas pai e filha) faz com que a dinâmica entre eles seja muito diferente do que é normalmente explorado nos livros.
Gwen stands up and puts her hand on my shoulder. "Falling in love is really quite simple," she says. "You want to know the secret? It’s the same thing we are all doing about life every single day." I look to her. "Forget there's an ending."
Identifiquei-me muito com a Carrie, entendo perfeitamente a vontade — necessidade, até — de ser a melhor, de competir constantemente consigo mesma e com os outros, mesmo que isso não caia bem a toda a gente. Podia estar aqui horas a falar sobre este livro — que empatou no meu coração com The Seven Husbands of Evelyn Hugo —, mas nada substitui a experiência de o lerem. Então digo apenas: leiam! Está traduzido, por isso não têm desculpa para não o fazerem. Prometo que vale a pena, mesmo que se estejam a marimbar para o ténis.
Como sempre, há várias referências aos outros livros deste universo que Taylor Jenkins Reid está a criar. Não precisam de os ter lido para apreciar este, mas sempre dá aquele gostinho especial. Deixo-vos aqui a minha opinião sobre os restantes livros dela, caso queiram explorar um pouco mais ou decidir qual ler a seguir:
É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!
Ultimamente tenho-me apercebido de uma verdade sobre esta minha vida de leitora de coisas tristes: quanto mais pequeno o livro, mais a sua capacidade de destruição de sentimentos. Não sei se concordam, mas senti-o assim que peguei em O Nosso Irmão, de Clara Dupont-Monod — que chegou cá a casa enviado pela Editorial Presença (obrigada!).
Em pouquíssimas páginas, a autora consegue contar uma história com três perspectivas diferentes, tudo a partir do ponto-de-vista das pedras do terraço de uma casa. Confuso? Eu explico: numa família em tudo normal, composta por um pai, uma mãe e dois filhos, nasce uma criança deficiente. Esse acontecimento e as suas consequências são-nos relatados através do irmão mais velho (que adora esta nova criança), através da irmã (que não consegue ligar-se a ela e, portanto, se afasta) e através do próprio irmão mais novo. Quem narra a história são, então, as tais pedras — capazes de observar as dinâmicas de família ao longo dos anos.
Mais tarde, no nascimento da sobrinha, ele e a irmã atacaram de novo as botas de caminhada. Reencontraram o fresco matinal, o mapa amarrotado dobrado, o queixo erguido para o desfiladeiro à espera. Enquanto a irmã caminhava à sua frente pelo carreiro, respondeu à pergunta dele sobre se tinha receado um filho deficiente. «Estranhamente, não», disse ela. «Primeiro porque com o Sandro ficou logo assente que, se o bebé tivesse um problema, não o teríamos. Depois porque ter vivido o pior afasta o medo. Passámos por ele, por isso conhecemo-lo. Temos os reflexos e as instruções. O medo vem do desconhecido.»
Este livro é uma enorme lição de escrita: como dizer tanto em tão poucas páginas, como reduzir sentimentos em palavras sem lhes tirar significado. Gostei muito da experiência de o ler, apesar do tema duro e do estilo de escrita da autora, que achei um pouco difícil ao início. Não que use muitos floreados ou formulações complicadas, mas houve qualquer coisa que não me deixou ficar rendida logo de início — fui ficando, à medida que conhecia este irmão e a forma como teve impacto na família.
Já tinham ouvido falar deste livro? Ficaram com vontade de lhe dar uma oportunidade? Contem-me tudo!