Loveless, Alice Oseman
Peguei no Loveless, de Alice Oseman, com bastante motivação — tinha adorado a experiência de ler o primeiro volume de Heartstopper, uma das novelas gráficas da autora, e a ideia de desenvolver uma história centrada numa personagem assexual e arromântica despertou logo a minha curiosidade.
O livro tem efectivamente uma perspectiva fresca e importante. Como, aliás, todo o trabalho que Alice Oseman faz do ponto de vista da representatividade: os livros dela exploram diferentes identidades e diferentes formas de amar, o que me faz torcer pelo sucesso dela, mesmo que não me identifique com a forma como escreve.
Tirando este disclaimer inicial, o veredicto final é: não consegui ligar-me a este livro. Para vos situar, Georgia, a personagem principal, é uma adolescente viciada em RomComs e Fanfiction, mas nunca se apaixonou por alguém. Embora espere que a entrada na universidade seja o momento certo para, finalmente, encontrar o amor, isso nunca acontece. Com a ajuda de Sunil, que está uns anos mais à frente e assume uma identidade não-binária, Georgia compreende que é assexual e arromântica. Paralelamente, outras personagens que fazem parte do grupo de amigos de Georgia também estão a passar pelo processo de encontrar o lugar em que se sentem mais confortáveis dentro do espectro da sexualidade e da identidade de género.
I've learnt some things. Like the way friendship can be just as intense, beautiful and endless as romance. Like the way there's love everywhere around me - there's love for my friends, there's love for my paintings, there's love for myself.
Tudo isto estaria mais do que bem, não fossem as personagens mal desenvolvidas e a escrita repetitiva. A autora usa as mesmas frases vezes e vezes sem conta, provavelmente para reforçar a mensagem, mas acaba por ter o efeito oposto — enquanto leitores, sentimos que acha que somos burros. Passei as 400 páginas a desejar que fosse mais pequeno porque, na realidade, havia forma de dizer o mesmo em menos palavras.
Noutra nota — e confesso que só reparei depois de ter lido uma review no Goodreads que falava sobre isto —, Alice Oseman faz um esforço por incluir personagens com diferentes identidades de género, como Sunil. Porém, apesar de a personagem se apresentar como usando os pronomes he/they, a autora nunca usa o pronome "they" ao longo do livro — o que é uma oportunidade perdida para quem quer trabalhar a representatividade e mostrar que nem tudo é binário, não é mesmo?
Ainda assim, alguns pontos positivos para a mensagem de que as relações de amizade são tão ou mais importantes quanto as relações amorosas! Estava à espera de ter alguns anti-corpos à essência young adult desta história, mas foi mesmo a estrutura da narrativa que não me convenceu. De qualquer das formas, acho um livro bom e importante para as camadas mais jovens de leitores, sem dúvida. Aproveitem que está traduzido para português e ofereçam-no aos jovens leitores das vossas vidas.
Também leram este a propósito das escolhas de Setembro do Clube do Livra-te? Se sim, o que acharam?
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