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Rita da Nova

Sex | 29.07.22

Somebody's Daughter, Ashley C. Ford

Nunca tinha lido (ou ouvido, no caso), um livro que descrevesse tão bem a minha infância e a relação que tive com algumas pessoas da minha família. Até que decidi ouvir Somebody’s Daughter, o livro de memórias de Ashley C. Ford, e dei por mim a ler a minha própria história.

 

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Claro que eu e a autora não temos a mesma história, mas os sentimentos estão todos lá. O livro começa no momento em que Ashley, já adulta, percebe que o pai vai finalmente sair da prisão. Essa notícia espoleta uma série de memórias de infância e Ashley leva-nos a conhecer o lado mais complexo e duro da infância — a relação complicada com a mãe, o apoio da avó, o momento em que entende porque é que o pai está preso, situações de abuso.

 

I was tempted, as I always am, to take the bait when my mother offers me empathy. Tempted by my fantastical belief that one day I will lower my walls, and she will do the same. Then I end up blaming myself for not remembering to stick to the conversational paths offering the least resistance, furious at myself for veering too far into the unexplored or exiled.

 

Gostei muito que a autora conseguisse identificar momentos em que ela própria, mesmo enquanto criança e adolescente, fez coisas condenáveis — ela tinha noção de que estava a fazer errado, mas fazia precisamente para causar algum tipo de comoção nas pessoas à sua volta. É um livro muito emocional, muito íntimo, mas eu tenho a certeza de que qualquer pessoa conseguirá desenhar paralelos entre a história de Ashley e a sua.

 

Acho que também me liguei tanto a estas memórias por ter ouvido o livro, que é narrado pela própria autora. Os momentos em que se emociona ou reage de forma mais efusiva são notórios — e adorei a forma como ela muda a maneira como fala quando quer imitar o que a avó diria, já que é algo muito comum de fazermos quando estamos a falar com alguém.

 

Claro que podem lê-lo, mas este é um daqueles em que recomendo a 100% a experiência de audiolivro. E agora contem-me: já tinham ouvido falar sobre este livro?

Qui | 28.07.22

Beach Read, Emily Henry

Tanto zum-zum à volta de Emily Henry, que eu não podia de deixar de tentar perceber se os livros dela valem mesmo a pena — de tal modo que, para me forçar a entrar nesta empreitada, decidi fazer do primeiro romance dela, Beach Read, a minha escolha do Clube do Livra-te para Julho.

 

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Este livro tinha tudo para ser um excelente enemies to lovers: January escreve romances e livros com finais felizes, enquanto Augustus faz carreira com ficção literária e livros onde tudo corre mal para as personagens. Rivais desde os tempos da faculdade, reencontram-se quando January ocupa a casa junto à praia que o pai, falecido há pouco tempo, lhe deixou. Como estão ambos com um bloqueio na escrita, acabam por fazer uma aposta: devem trocar de géneros literários e aquele que conseguir vender primeiro o seu livro, ganha.

 

That was what I'd always loved about reading, what had driven me to write in the first place. That feeling that a new world was being spun like a spiderweb around you and you couldn't move until the whole thing had revealed itself to you.

 

Gostei muito de toda a história que está por detrás da mudança de January para a casa na praia — a morte do pai e os segredos que esse acontecimento trouxe à tona —, mas fiquei com pena que não fosse dado o mesmo destaque à personagem do Augustus. Até se compreende porque é que ele tem uma postura tão fria na vida, mas é tudo muito mal explorado. Além disso, a relação entre eles passa rapidamente de ter química e tensão, algo típico de um enredo enemies to lovers, para ser demasiado fácil. O conflito que há entre os dois resolve-se demasiado depressa, mesmo com os traumas que cada uma das personagens tem.

 

O veredicto final é: foi fofinho, mas não mudou a minha vida. De qualquer das formas, gostei bastante da escrita de Emily Henry e já ouvi dizer que os seguintes — You and Me on Vacation e Book Lovers — são melhores, por isso planeio dar-lhe uma nova oportunidade. E vocês, já começaram esta empreitada também? Acham que deva dar uma oportunidade aos seguintes?

 

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O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!

Ter | 26.07.22

Cleopatra and Frankenstein, Coco Mellors

Sabe muito bem quando partimos para uma leitura sem sabermos grande coisa sobre o livro e depois acabamos por ter uma óptima experiência — foi exactamente isso que me aconteceu com Cleopatra and Frankenstein, de Coco Mellors, um livro que me atraiu pela capa e me prendeu pelas vibes de Sally Rooney.

 

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Cleo e Frank conhecem-se numa festa e, apesar da diferença de idades entre eles (Frank tem mais vinte anos), são rapidamente atraídos um para o outro, as coisas evoluem depressa e acabam por casar sem se conhecerem muito bem. Só que, mais do que ser sobre uma paixão imediata, este livro é sobre o que acontece depois de um casamento precipitado, sobretudo quando duas pessoas têm as suas batalhas pessoais para travar — a saúde mental de Cleo está debilitada e Frank é viciado em álcool.

 

When the darkest part of you meets the darkest part of me, it creates light.

 

A escrita, como disse acima, tem muitas parecenças com o estilo de Sally Rooney. Porém, a autora tem a capacidade de ir um pouco além disso e trazer um cunho pessoal — o livro tem momentos bastante sarcásticos e o estilo de escrita vai mudando consoante a personagem a que está a ser dado mais destaque no capítulo, algo que achei muito diferente do habitual.

 

Em suma: é uma história muito real. Todas personagens são pessoas que poderíamos muito bem conhecer, pessoas que cometem erros e tomam decisões erradas, mesmo tendo todas as condições de vida para estar num cenário mais feliz e saudável. Gosto muito que Coco Mellors tenha feito escolhas que reforçaram o realismo deste enredo, dando força à ideia de que nem sempre as pessoas aparecem na altura certa das nossas vidas.

 

Também já viram este livro aí pela internet? Ficaram com curiosidade em ler?

Sex | 22.07.22

The Dinner List, Rebecca Serle

É verdade, The Dinner List foi o segundo livro de Rebecca Serle que li este ano e ainda não foi desta que senti vontade de parar. Acho que descobri aqui uma autora que, mesmo não estando dentro do meu género habitual, me preenche as medidas de leitora em vários aspectos.

 

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Depois de ter visto Rebecca Serle dizer que este era o livro mais pessoal que alguma vez tinha escrito, andei à caça dele nas livrarias de Nova Iorque e fiquei super feliz por encontrar. Sabem aquele exercício básico que todos nós já fizemos (ou ouvimos falar), de fazer uma lista das pessoas — vivas ou mortas — com quem gostaríamos de jantar? Para Sabrina, a protagonista deste livro, este exercício torna-se realidade no dia em que faz 30 anos.

 

De repente, as pessoas com que tinha desejado um dia jantar, estão todas sentadas à mesma mesa: o professor favorito da faculdade, o pai, a melhor amiga, o ex-namorado e a Audrey Hepburn. A narrativa desenrola-se em duas linhas temporais, como é comum nos livros da autora: ao mesmo tempo que acompanhamos as conversas que decorrem ao longo do jantar, também vamos tendo alguns flashbacks que exploram um pouco mais a relação de Sabrina com os convidados do jantar — especialmente com Tobias, o ex-namorado.

 

So you can't just blame the person who leaves. If two people are unhappy, clocking the person who actually walks out the door is just getting them on a technicality.

 

Uma das coisas de que mais gostei — e que é comum aos livros dela que já li — é o facto de não haver necessariamente uma explicação para estes acontecimentos ou premissas de realismo mágico, simplesmente acontece e a história desenvolve-se a partir daí. Não vou desenvolver muito mais o que se passa, para não vos estragar a experiência, mas gostei mesmo muito de o ler e fartei-me de chorar no fim.

 

Já leram coisas de Rebecca Serle? Ficaram com vontade de ler este?

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