Mulheres de Sal, Gabriela Garcia
Se acompanham o bookstagram, é impossível não se terem cruzado com Mulheres de Sal, de Gabriela Garcia, um livro recentemente traduzido para português. Confesso que nunca tinha pensado em lê-lo, mas a Aurora enviou-mo (muito obrigada!), eu decidi dar uma oportunidade e não me arrependi!
Embora seja um livro pequeno, Mulheres de Sal consegue a proeza de contar as histórias de várias mulheres sul-americanas, centrando-se em cinco gerações de mulheres de uma família cubana e numa mãe e filha de El Salvador. Estava com algum receio que se passasse mais no século XIX, mas gostei de ver como a autora partiu essencialmente dos dias de hoje, cruzando o rumo de protagonistas como Carmen e Jeanette (mãe e filha) com o das suas antepassadas.
A rua estava vazia, envolta em quietude, e os carros dos seus familiares encontravam-se amontoados no acesso à garagem, multiplicando-se até à berma da estrada, anunciando que ela tinha a casa cheia. Ouvia o ruído das conversas quando fechou a porta. Cuba isto, Cuba aquilo. Cuba, Cuba, Cuba. Haver quem deixasse um sítio apenas para viver de reminiscências, para levar as suas ruas para todas as conversas, para analisar cada momento à lente de uma perda imaginária, era algo que a ultrapassava. Miami existia como um recetáculo vazio de memórias, uma cidade nas sombras, cheia de gente que precisava de um sítio para colocar o seu passado em perspetiva. Ela não. Ela vivia no presente.
Este livro fala sobretudo das escolhas que as mulheres são obrigadas a fazer, principalmente enquanto mães, e das consequências que essas escolhas acabam por ter nas gerações futuras. Explora vários temas: o abuso de drogas, os meandros da imigração ilegal, da dificuldade destas mulheres em integrar-se nos Estados Unidos da América, etc. Por tocar em tantos assuntos interessantes e criar personagens tão distintas e reais, não pude deixar de sentir que este livro soube a pouco — ao contrário do que me costuma acontecer, já que sinto muitas vezes que há livros com muita palha, aqui senti precisamente o oposto. Gabriela Garcia podia ter escrito três vezes mais sobre estas mulheres, que eu teria lido com todo o gosto.
Fiquei com muita vontade de explorar mais coisas da autora, é esperar que escreva mais! E vocês, conheciam este livro?