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Rita da Nova

Sex | 20.05.22

Young Mungo, Douglas Stuart

Imaginem-me no aeroporto de Gatwick a fazer tempo até apanhar um voo, com uma The Bookshop by WHSmith no campo de visão. Claro que vai dar em compra de livros, não é mesmo? E assim foi: controlei-me, porque só trouxe um livro, mas aproveitei que tinha um voo para Lisboa (e que tinha terminado um livro) para começar logo a ler este.

 

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Andava há que tempos para ler qualquer coisa de Douglas Stuart, e embora a escolha mais óbvia fosse começar por Shuggie Bain, a sinopse e capa de Young Mungo levaram a melhor — até porque foi lançado há pouquíssimo tempo, pelo que seria também uma forma de me ir pondo a par das novidades literárias. Este livro passa-se no início dos anos 90, em Glasgow, e conta a história de Mungo, um adolescente protestante, e James, um adolescente católico. Destinados à rivalidade pelo cenário violento e separatista em que se encontram inseridos, acabam por se apaixonar e têm de lidar com as consequências desse amor.

 

Acho que esperava algo diferente da escrita de Douglas Stuart, porque não foi amor à primeira página. Posso até dizer que foi um gosto adquirido, mas nada no livro me deu vontade de continuar a ler — aliás, só achei que o último terço do livro valesse realmente a pena, o restante aborreceu-me de morte. Há muito tempo que não lia algo assim: eu sabia que haveria de gostar de partes do livro, e fui capaz de lhe reconhecer coisas incrivelmente bem feitas, mas em geral foi uma experiência bastante penosa.

 

He wondered how it would feel to go home, now that he had seen more of the world in a single day than in fifteen years — how could he stay on the scheme and not try to go beyond it?

 

Passando-se em Glasgow, grande parte dos diálogos são escritos como se ouvíssemos um escocês a falar, pelo que é necessário um período de habituação. Além disso, as descrições e metáforas são bastante intrincadas e não senti que contribuíssem assim tanto para o enredo e para a qualidade da escrita — acho até que foi isso que mais me afastou do livro.

 

Agora, uma coisa tem de ser dita: Douglas Stuart constrói personagens incríveis — a minha favorita foi a Jodie, irmã de Mungo. Além as caracterizar bastante bem e de as mostrar a evoluir, é também através delas, das coisas mais mundanas por que passam e da forma como se relacionam umas com as outras, que o autor consegue construir o cenário político e social em que a história se enquadra.

 

Olhem, de maneira que não sei: consigo reconhecer a mestria em algumas partes do livro, mas fiquei com pouquíssima vontade de ler mais alguma coisa do autor. Alguém desse lado já o leu? O que acharam?