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Rita da Nova

Qui | 12.05.22

Spring, Ali Smith

Começo com uma confissão: depois de ler Winter, estava com algum medo de ler Spring, de Ali Smith. Isto porque, embora eu adore qualquer coisa que esta mulher escreva, a experiência de ler um livro invernal idealizado por ela foi mesmo como passar por uma estação fria e dolorosa. Mas nada como dar uma oportunidade à Primavera, a época em que tudo renasce, e ainda bem que o fiz.

 

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Como é habitual nestes livros sazonais de Ali Smith, Spring traz diferentes histórias e personagens que se cruzam — um director de televisão que parece ter passado o seu auge, uma jovem que trabalha num centro de detenção de imigrantes e uma rapariga determinada a viajar até à Escócia. Navegar no meio destas personagens e compreender como se interligam é a grande magia deste livro, pelo que não vou entrar em muitos detalhes sobre o enredo.

 

Vou, isso sim, mostrar o meu espanto com a capacidade de metamorfose que a escrita desta autora tem — em Autumn ela escreve como se aquele livro fosse o Outono, em Winter como se fosse o Verão e em Spring como se fosse Primavera. Não está relacionado com descrições e vai bem mais além dos meses em que estas histórias se passam — é qualquer coisa na escolha de palavras, na cadência das frases, na caracterização das personagens.

 

Voltei a sentir com Spring o que senti com Autumn: a vontade de estar ali, de conhecer aquelas pessoas, de observar como os seus destinos se cruzam. Será que é por ser a minha segunda estação do ano favorita? E, claro, como já é comum a este quarteto de livros, adorei ver o breve momento em que as narrativas se cruzaram — isto é, há algures uma brevíssima ligação a um dos livros anteriores.

 

“April. It teaches us everything. The coldest and nastiest days of the year can happen in April. It won’t matter. It’s April. The English word for the month comes from the Roman Aprilis, the Latin aperire: to open, to uncover, to make accessible, or to remove whatever stops something from being accessible. It maybe also partly comes from the name of Aphrodite, Greek goddess of love, whose happy fickleness with various gods mirrors the month’s own showery-sunny fickleness. Month of sacrifice and month of playfulness. Month of restoration, of fertility-festivity. Month when the earth and the buds are already open, the creatures asleep for the winter have woken and are already breeding, the birds have already built their nests, birds that this time last year didn’t exist, busy bringing to life the birds that’ll replace them this time next year. Spring-cuckoo month, grass-month. In Gaelic its name means the month that fools mistake for May. April Fool’s Day also probably marks what was the old end of the new year celebrations. Winter has Epiphany. Spring’s gifts are different. Month of dead deities coming back to life. In the French revolutionary calendar, along with the last days of March, it becomes Germinal, the month of return to the source, to the seed, to the germ of things, which is maybe why Zola gave the novel he wrote about hopeless hope this revolutionary title. April the anarchic, the final month, of spring the great connective.”

 

Bem sei que Ali Smith está amplamente traduzida para português, nomeadamente com estes livros sazonais, mas incentivo-vos mesmo a ler em inglês se estiverem confortáveis com a língua. A escrita dela é bastante simples e sinto que a essência da história se pode perder na tradução, já que mais de metade da essência destes livros está na história.

 

Fico à espera do Verão para agarrar Summer e, depois disso, partir para a leitura de Companion Piece, o mais recente livro da autora — que, apesar de não fazer parte do tetralogia, é uma espécie de continuação e foca-se essencialmente na altura da quarentena. E vocês, também são fãs assumidos de Ali Smith? Se sim, o que me recomendam ler fora destes livros?