Coração tão Branco, Javier Marías
Escrevo este post com algum pesar, porque acreditava piamente que adoraria ler algo do Javier Marías. Porém, a minha primeira experiência com o autor, através de Coração tão Branco, não só ficou muito aquém das expectativas como me deixou com pouquíssima vontade de ler mais coisas dele.
O primeiro capítulo até teve a capacidade de me prender: logo nas primeiras páginas ficamos a saber que Teresa se matou pouco depois de se casar. Fê-lo durante um almoço com a família, dando um tiro no próprio peito. Mas depois disso, quando a história passa para Juan, cujo pai foi casado com Teresa antes de se casar com a mãe dele (e irmã de Teresa), o autor perdeu-me. O livro passa-se todo à volta do receio que Juan tem de o seu casamento não correr bem, de sentir uma espécie de desgraça iminente, uma vez que o próprio pai foi casado três vezes e todas as mulheres morreram.
Por norma não me costumo importar com livros que se passam mais na cabeça das personagens do que fora, mas este fez-me genuína confusão. Achei-o demasiado repetitivo, às vezes eram frases ou imagens inteiras que o autor tinha escrito há pouquíssimo tempo, não fazia sentido estar a bater na mesma tecla. Também não adorei a forma como está escrito, as frases seriam mais bonitas se fossem mais simples. E, de resto, não me consegui relacionar com nenhuma personagem, estive sempre à espera de um “clique” que nunca se deu.
Saberei demasiado, saberei mais do que quero saber a respeito da Luísa, terei diante de mim o que me interessa dela e o que não me interessa, já não haverá selecção nem eleição, a ténue ou a mínima eleição diária que supunha telefonarmos um ao outro, marcarmos uma saída, encontrarmo-nos com os olhos que procuram à entrada de um cinema ou entre as mesas de um restaurante ou então arranjarmo-nos e pormo-nos a caminho para nos visitarmos. Não verei o resultado, mas antes o processo, que talvez não me interesse.
A única parte de que gostei mesmo foram os capítulos em que Juan vai a Nova Iorque e acaba por ficar alojado com Berta Isla, uma amiga com quem já teve uma espécie de relação, e que, aparentemente, faz parte de outros livros de Javier Marías — incluindo um dedicado a esta personagem, com o mesmo nome. Não fiquei com grande vontade de explorar mais obras do autor, mas, se me der para aí, sei que quererei ler Berta Isla por ter gostado muito da personagem.
Sei que há por aí fãs de Javier Marías e, por isso, digam-me: foi só uma má escolha para primeiro livro dele ou são todos neste registo?