Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Rita da Nova

Sex | 29.04.22

A Thousand Splendid Suns, Khaled Hosseini

A Thousand Splendid Suns (Mil Sóis Resplandecentes em português), de Khaled Hosseini, é um daqueles livros que me habituei a ver um pouco por toda a parte — lembro-me de ter tido muito boas reviews quando saiu e foi traduzido, ali por volta de 2007 e 2008. Na altura fiquei com curiosidade, mas os anos foram passando e outros livros foram tendo prioridade.

 

thousand-splendid-suns-khaled-hosseini.jpg

 

Foi só há pouco tempo, quando o comprei em segunda mão (e muito bem cuidado) no TradeStories, que me lembrei que poderia haver pessoas como eu, que tinham acabado por não ler esta história. Assim, decidi que seria a minha escolha para o livro de Abril do Clube do Livra-te. Apesar de ser uma história bastante pesada, com vários momentos tristes, sinto que é capaz de ser uma leitura bastante consensual na sua importância.

 

Thousand Splendid Suns conta, alternadamente, as histórias de Mariam e Laila, duas mulheres afegãs com passados e idades diferentes, que se vêem obrigadas a partilhar o presente porque casaram com o mesmo homem. Na primeira parte do livro conhecemos Mariam quando é apenas uma adolescente, mas depois vamos percebendo como é que o destino dela acaba por se cruzar com o de Laila — e, através das vidas destas duas mulheres e das personagens que gravitam à sua volta, temos um retrato do cenário político do Afeganistão. Sinto que esta foi uma das partes que mais valorizei no livro, já que nunca me debrucei muito na história deste país. Obviamente que não é suficiente para compreender os contornos do surgimento dos Talibãs, mas já é um princípio.

 

I know you're still young but I want you to understand and learn this now. Marriage can wait, education cannot. You're a very very bright girl. Truly you are. You can be anything you want Laila. I know this about you. And I also know that when this war is over Afghanistan is going to need you as much as its men maybe even more. Because a society has no chance of success if its women are uneducated, Laila. No chance.

 

É um livro bastante violento em vários aspectos: na forma como descreve a guerra constante em que o Afeganistão esteve ao longo dos anos, na forma como descreve a maneira como as mulheres são tratadas na sociedade, nos contornos sádicos que o marido de Laila e Mariam apresenta. Mas acredito que seja um livro necessário para dar a conhecer a realidade dos afegãos, sobretudo os que passaram por tantas mudanças e, ainda assim, tiveram coragem de abandonar o país e reconstruir as suas vidas em lugares um pouco mais seguros — bastante actual também, tendo em conta a situação que se vive actualmente na Ucrânia.

 

Acho que é com livros como este que me volto a apaixonar pela capacidade que a leitura tem de ser várias coisas diferentes nas nossas vidas — neste caso, é uma maneira de conhecer realidades que espero nunca experimentar, de trabalhar a empatia e de valorizar a liberdade que tenho. Também leram este livro em Abril, a propósito do Clube do Livra-te? Ou já tinham lido antes? Contem-me tudo o que acharam ali nos comentários, quero muito saber.

 

----------

O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!

Qui | 28.04.22

Reminders of Him, Colleen Hoover

Estava tão, mas tão entusiasmada por ler o mais recente livro da Colleen Hoover, Reminders of Him, que até me custa dizer o que achei sobre ele, mas tem de ser. Aliás, demorei algum tempo a escrever esta review, até fui de férias entre o momento em que o li e aquele em que escrevo, e ainda me faltam as palavras certas para o descrever.

 

reminders-of-him-colleen-hoover.jpg

 

Comecemos pelo enredo, para vos enquadrar: depois de cinco anos na prisão por um acidente que esteve fora do seu controlo, Kenna regressa à cidade onde tudo aconteceu e onde mora a filha de quatro anos, com o objectivo de recuperar o tempo perdido e ter um papel na vida dela. Porém, os avós paternos de Diem (sim, chama-se assim por causa da expressão Carpe Diem 🤢), que têm a guarda dela, não dão qualquer tipo de abertura para que Kenna se aproxime da filha. Só Ledger, dono de um bar (claro), parece ver um lado dela que mais ninguém vê — e isso pode ser bom, mas também pode complicar tudo.

 

Maybe it doesn’t matter whether something is a coincidence or a sign. Maybe the best way to cope with the loss of the people we love is to find them in as many places and things as we possibly can. And in the off chance that the people we lose are still somehow able to hear us, maybe we should never stop talking to them.

 

Nossa, Colleen, eu simpatizo contigo, mas era mesmo preciso uma história com tantos clichés? Genuinamente senti que tudo aconteceu à pressa, que as pessoas se apaixonam de um momento para o outro, que tanto se odeiam como se perdoam, que o desenvolvimento das personagens não faz qualquer sentido. Obviamente que tem passagens bonitas, porque a autora escreve bem, mas nada na narrativa me convenceu, soou-me tudo a white trash e não tive vontade de torcer por ninguém.

 

E apesar disto, estranhamente, não conseguia parar de ler — talvez fosse a esperança de que tudo se tornasse um bocadinho melhor, talvez fosse o facto de este livro ter todo uma vibe de reality show, de desastre na estrada para o qual é impossível não olhar. Não vos quero demover de o ler, porque pode ser a vossa praia, mas claramente não foi a minha. Sinto que a Colleen tem muito potencial, mas eu gostava mais que se agarrasse às experiências dentro de outros géneros como fez com Verity e Layla, porque claramente este caminho do romance-dramático-só-porque-sim não me convence.

 

A pergunta que se impõe é: devo arriscar e ler November 9, que tenho cá em casa, ou é mais disto? Ajudem-me!

Ter | 26.04.22

Feminist City, Leslie Kern

Se ouviram o episódio do Livra-te que gravámos com a Cátia Vieira, sobre não-ficção, provavelmente reconhecerão o livro de que vos venho falar hoje — Feminist City: Claiming Space in a Man-made World, de Leslie Kern. Apontei-o para ler assim que a Cátia falou dele e ouvi-o assim que terminei o audiolivro que estava a ler antes.

 

feminist-city-leslie-kern.jpg

 

A premissa chamou-me logo a atenção: neste livro, a autora explora a forma como as cidades estão construídas, com base na ideia de que são feitas essencialmente para um mundo masculino. Fá-lo através de várias áreas da vida das mulheres, das minorias, de pessoas com dificuldades de acessibilidade e de pessoas trans — as amizades, a segurança, a maternidade, o mundo laboral, etc. Acho que gostei muito de ouvir o livro porque, enquanto mulher que adora conhecer cidades, pude finalmente identificar sensações que tinha e encontrar justificações para a forma como me sinto.

 

Rape myths also have a geography. This gets embedded into the mental map of safety and danger that every woman carries in her mind. 'What were you doing in that neighbourhood? At that bar? Waiting alone for a bus?' 'Why were you walking alone at night?' 'Why did you take a shortcut?' We anticipate these questions and they shape our mental maps as much as any actual threat. These sexist myths serve to remind us that we're expected to limit our freedom to walk, work, have fun, and take up space in the city. They say: The city isn't really for you.

 

Fiquei também contente por ser um livro com uma visão optimista acerca do futuro das cidades: há, efectivamente, forma de as tornarmos mais inclusivas e mais direccionadas para as necessidades de quem não é homem cis. E, segundo a autora, que investiga assuntos de género e urbanismo, estas mudanças podem beneficiar toda a gente.

 

Nunca tinha pensado em ler sobre a forma como a geografia e o urbanismo influenciam os papéis de género, mas Leslie Kern traz uma abordagem também muito pessoal à forma como explora os temas — é quase como se fosse um livro de memórias que se cruza com investigação explicada de forma simples. Vale muito a pena, mas infelizmente acho que não está traduzido para português (de qualquer forma, o inglês é bastante acessível).

Sex | 22.04.22

Circe, Madeline Miller

Ouvi falar de Circe, de Madeline Miller, muito antes desta minha incursão por reinterpretações da mitologia grega, mas sei que me ficou sempre na cabeça como um livro que gostaria de ler. Parece que o meu instinto estava certo: agora que o terminei, entendo que seria uma parvoíce continuar a adiar a leitura.

 

circe-madeline-miller.jpg

 

Circe foi editado em 2018, antes de The Song of Achilles, mas não lhe fica nada atrás. Aqui conhecemos a história de Circe, filha do Deus Hélio, a representação do sol. Mas enquanto todos os seus filhos têm algum tipo de poder especial, Circe é uma criança estranha: feia e deslocada, facilmente passa despercebida. Porém, quando Circe descobre que afinal possui poder — o poder da magia e bruxaria —, Zeus condena-a ao exílio em Aiaia, uma ilha deserta.

 

That is one thing gods and mortals share. When we are young, we think ourselves the first to have each feeling in the world.

 

Durante todo o livro acompanhamos as histórias do isolamento de Circe — que não só é condenada à separação, mas, sendo imortal, sofre também com a passagem dos mortais pela sua longa vida. Além das aventuras e desventuras da personagem principal, este livro é uma ode às mulheres que não parecem pertencer, às “bruxas” que a sociedade quer sempre afastar por pensarem e fazerem diferente da norma.

 

I had no right to claim him, I knew it. But in a solitary life, there are rare moments when another soul dips near yours, as stars once a year brush the earth. Such a constellation was he to me.

 

Além de me ter apaixonado imediatamente pelo tema do livro, apaixonei-me também pela forma como está escrito. Não é segredo para ninguém que amei The Song of Achilles, mas devo dizer que achei este livro ainda mais poético, se isso é possível. Quase que nem dá para acreditar que é o primeiro livro de Madeline Miller. (Uma nota: dá para perceber exactamente o momento em que Madeline Miller tem a ideia de escrever The Song of Achilles, o meu coração de fan girl adorou!)

 

Em suma: leiam este livro, por favor. Não é só um reconto da história de Circe, é muito mais do que isso — é uma homenagem a todas as mulheres que foram mal interpretadas e, por isso, passaram pela vida sem nunca se sentirem verdadeiramente acompanhadas. Ainda por cima está traduzido para português, por isso não têm desculpa! Se já o leram, contem-me o que acharam porque quero muito saber.

Pág. 1/2