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Rita da Nova

Qui | 10.03.22

O Momento em que Nos Perdemos, Maria José Núncio

O Momento em que Nos Perdemos, de Maria José Núncio, veio cá parar a casa a propósito de uma oferta de vários livros da Presença (obrigada! 🙋‍♀️) e eu apaixonei-me imediatamente pela capa. Depois li a sinopse e achei que iria gostar muito da história — por isso, ainda antes mesmo de o ler, decidi escolhê-lo para o mês de Março do Clube do Livra-te.

 

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O livro conta a história de Maria dos Remédios, que perdeu toda a família nas cheias de 1967, e de Toni, um homossexual relegado pela família burguesa. Acompanhamos as vidas destas duas personagens em paralelo, uma vez que a autora alternou o narrador a cada capítulo, até que as duas personagens se cruzam e desenvolvem uma amizade. Gostei muito desta alternância de ponto de vista, porque vamos conseguindo entender como é que Maria dos Remédios e Toni chegaram onde chegaram — e como é que as suas vidas vão mudando até ao presente, em que se encontram em situações difíceis, mas sempre com a companhia um do outro.

 

Sim, porque eu, por experiência própria, sabia que os mundos começam e acabam, pois vira o meu mundo acabar, transformando-se num rio de lama e destroços, para, no lugar dele, surgir um outro mundo de conforto e paz. E, de facto, foi assim toda a minha vida, nestes cinquenta e oito anos: uns mundos a acabarem e outros a começarem, e eu sempre aqui, transitando de uns para os outros e mudando de pele, conforme fazem as cobras.

 

A escrita de Maria José Núncio é muito envolvente, tem um ritmo bastante rápido, pelo que dei por mim a ler o livro num instante. Talvez por isso tenha sentido que faltou ali qualquer coisa — gostava que a amizade de Maria dos Remédios e Toni fosse mais explorada, que houvesse mais diálogo entre eles. São duas personagens tão caricatas, que achei que poderia haver margem para contar mais episódios que tivessem vivido juntos. Normalmente queixo-me que os livros têm palavras a mais, que há autores que conseguiriam dizer o mesmo em menos páginas, mas aqui tive a sensação oposta — se Maria José Núncio tivesse estendido a história em mais cem páginas, eu tê-las-ia lido de bom grado.

 

Espero que todas as pessoas que escolheram ler este livro também gostem da experiência, é um bom passeio pela década de 80, pelo menos eu senti-me imediatamente transportada para esses anos áureos da sociedade portuguesa. Quem já leu, o que achou?

 

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O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!