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Rita da Nova

Ter | 15.02.22

Burnt Sugar, Avni Doshi

Burnt Sugar (traduzido para Açúcar Queimado), de Avni Doshi, era um daqueles livros que eu sentia que ia adorar ainda antes de ler, só mesmo pelo que li na sinopse. Claro que isso nem sempre quer dizer nada, já me desiludi muito quando achava que ia amar um livro, mas fico feliz por ter seguido o meu instinto em relação a este.

 

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Sabendo que seria uma leitura complicada ao nível das emoções, decidi escolhê-lo para o livro de Fevereiro do Clube do Livra-te, que assim não era a única a sofrer — pelo que fui percebendo, as pessoas que já o terminaram partilham da sensação que tive: é duro de ler, mas vale muito a pena. Para quem não conhece, Burnt Sugar conta a história de Tara e Antara, mãe e filha com uma relação pouco explorada — uma relação condenada à distância pelas escolhas que ambas vão fazendo ao longo da vida.

 

Quando Tara começa a revelar sinais de demência, Antara sente-se na obrigação de acompanhar a mãe, quer nas consultas, quer no seu dia-a-dia. Esta proximidade forçada acaba por servir de gatilho para um desenrolar de memórias. Foi esta a parte que mais gostei na leitura: a forma como vamos percebendo que cada personagem construiu uma visão dos acontecimentos e um conjunto de memórias, sendo difícil de entender qual é, afinal, a versão mais fiel do que realmente aconteceu.

 

‘Reality is something that is co-authored’, the woman says. ‘It makes sense that you would begin to find this disturbing. When someone says that something is not what you think of it as, it can cause slight tremors in the brain, variations in brain activity, and subconscious doubts begin to emerge. Why do you think people experience spiritual awakenings? It’s because the people around us are engaged. The frenzy is a charge that’s contagious.’ ‘Are you saying my mother is contagious?’ ‘No, I’m not. Though maybe I am, in a sense. We actively make memories, you know. And we make them together. We remake memories, too, in the image of what other people remember.’ ‘The doctor says my mother has become unreliable.’ ‘We are all unreliable. The past seems to have a vigour that the present does not.

 

Senti muito esta história e a forma como é contada, já que a escrita de Avni Doshi é concisa, mas cheia de significado; ao mesmo tempo, nota-se que constrói as personagens com sarcasmo e amargura, o que só as torna ainda mais reais. Isto é tudo ainda mais impressionante quando percebemos que este é o primeiro livro dela, o que me deixa muito curiosa com próximos títulos.

 

Vamos lá saber: quem já leu este? O que acharam?

 

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